Diálogos encontrados no celular do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid, apontam para o detalhamento de planos golpistas. Entre os registros no aparelho, cinco militares são identificados nas conversas. A análise foi feita pela Polícia Federal sobre aparelhos de pessoas ligadas diretamente ao ex-presidente e a militares do alto escalão.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou na sexta-feira (16/6) a retirada de sigilo do celular de Cid para análise da PF.
Veja quem são os militares identificados no relatório da polícia:
Coronel Jean Lawand Junior; General Édson Skora Rosty; Tenente-coronel Marcelino Haddad; Major Fabiano da Silva Carvalho; Sargento Luis Marcos dos Reis. Coronel Jean Lawand Junior Coronel de artilharia do Exército Jean Lawand Júnior, de 51 anos, foi citado nas investigações da Polícia Federal (PF) como um dos agentes do alto escalão das Forças Armadas que incentivou a tentativa de golpe após a derrota de Bolsonaro nas urnas.
Nas mensagens divulgadas, o coronel cobra Mauro Cid de um plano, em oito etapas, para que as Forças Armadas assumissem o comando do país diante da derrota do ex-presidente nas urnas.
“Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele[que] dê a ordem, que o povo está com ele (…). Acaba o Exército Brasileiro se esses caras não cumprirem a ordem do Comandante Supremo”, afirmou Lawand ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro por mensagem.
General Édson Skora Rosty O general é mencionado por Lawand, que à época era subcomandante de Operações Terrestres. Em mensagem encaminhada a Cid, Rosty afirma que “ele [em referência ao então presidente] tem que dar a ordem”, em alusão a tentativas de mantê-lo no poder.
“Meu amigo, na saída do QG encontro bom [com] o ROSTY, SCmt COTER. Foi uma conversa longa, mas para resumir, se o EB [Exército Brasileiro] receber a ordem, cumpre prontamente. De moto [modo] próprio o EB nada vai fazer porque será visto como golpe. Então, está nas mãos do PR [presidente da República, Jair Bolsonaro]”, repassou Lawand a Cid no dia 2 de dezembro.
Segundo a PF, o “nome ROSTY pode estar relacionado ao General de Divisão, Subcomandante de Operações Terrestres do Comando de Operações Terrestres do Exército Brasileiro, EDSON SKORA ROSTY”.
Tenente-coronel Marcelino Haddad Ex-comandante do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro, o tenente-coronel enviou para a Mauro Cid considerações de um jurista, documentos e apresentações do Exército, que ajudaram na elaboração de um plano golpista.
De acordo com relatório da Polícia Federal, Haddad enviou três documentos, por meio do WhatsApp, para suporte do que se tornaria um planejamento para afastar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de por em prática um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
Entre os itens identificados no aparelho, está um documento intitulado “Forças Armadas como poder moderador”, em que é apresentado um plano controverso que, em tese, autorizaria a convocação de militares para arbitrar conflitos entre os poderes.
Major Fabiano da Silva Carvalho O major é apontado pela PF como um dos responsáveis por elaborar um “guia” para aplicar um golpe de Estado no Brasil no final de 2022. Por e-mail, Carvalho encaminhou um conjunto de respostas enviadas pelo jurista Ives Gandra Martins para tentar sustentar a conspiração de um golpe.
Entre os questionamentos feitos pelo Major, ele pergunta se as Forças Armadas poderiam ser empregadas “na garantia dos poderes constitucionais” em situação de normalidade. Gandra Martins afirmou, então, que “pode ocorrer em situação de normalidade se no conflito entre poderes, um deles apelar para as Forças Armadas, em não havendo outra solução”.
Em seguida, ao ser questiona por quais “ameaças” poderiam motivar o emprego das Forças Armadas para “garantir os poderes constitucionais”, Gandra Martins cita o artigo 142 da Constituição.
“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”, diz o artigo.
Sargento Luis Marcos dos Reis O sargento do exército Luis Marcos Dos Reis, preso pela PF em maio na operação sobre fraude nos cartões de vacinação de Bolsonaro, participou ativamente dos atos golpistas de 8 de janeiro. Reis é citado em uma conversa com Cid sobre manifestações de cunho golpista em frente ao Quartel do Exército de Goiânia (GO).
Segundo o relatório da PF, era possível ver o militar na cúpula do Congresso Nacional, ao lado de outros manifestantes. Ele deixou o cargo no Planalto em junho de 2022.
As autoridades encontraram no celular do sargento vídeos feitos por ele durante os atos de 08 de janeiro, além de diversos relatos aos interlocutores – inclusive um áudio onde afirma que “o recado foi dado” sobre as invasões.