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O que escondem os movimentos de Lula, e o tiro n’água que ele deu

Lula não faz nada de graça e nem sempre acerta. No dia em que começou a preparar o espírito de Ana Moser, ministra do Esporte, para a eventualidade de uma demissão, nomeou a jurista negra Marcelise de Miranda Azevedo para a Comissão de Ética da Presidência da República. Elas por elas? Há controvérsias.

Sai do governo uma mulher que ocupava posição de destaque, entrará outra. Talvez tenha sido isso o que ele quis dizer. No caso da jurista, é também um indício de que Lula indicará um homem, provavelmente branco, para a vaga a ser aberta no Supremo Tribunal Federal com a aposentadoria da ministra Rosa Weber.

No mesmo dia, do nada, Lula sacou a ideia de tornar secretos os votos dos ministros de tribunais superiores que hoje são abertos. Aí talvez tenha sido apenas outra derrapada de quem, encantado com a própria voz, fala muito.  Ou então ele quis tirar do foco das discussões a entrada do Centrão no governo.  Tarefa ingrata.

É visível o incômodo de Lula com a reforma ministerial que está sendo obrigado a fazer. Se dependesse unicamente dele, não a faria tão cedo. Trocar Moser por André Fufuca (PP-MA), um deputado federal de longa folha corrida, não recomenda ninguém. A única razão é que Fufuca tem votos, e Moser não.

Por trás de Fufuca está Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, dono de centenas de votos que ele promete doar ao governo se abocanhar a presidência da Caixa Econômica com suas 12 diretorias. Lula concluiu que poderia ter sido pior. O Centrão de Lira pediu, mas não levará ministérios mais importantes.

Quanto à sugestão para que os tribunais superiores passem a julgar em segredo, foi um tiro na água. Há Cortes de Justiça como a norte-americana que decidem em segredo. A nossa o faz a céu aberto, com transmissão pela TV e outros meios. Uma vez que se deu passo tão ousado, recuar a essa altura seria impensável.

Bolsonaro usou parte do seu mandato para incutir na mente das pessoas que a Justiça está podre. Chegou a afirmar que a apuração de votos se dava numa sala secreta do Tribunal Superior Eleitoral, longe das vistas de todos, o que facilitava a fraude. Não há sala secreta. A apuração é à vista de quem enxerga.

A transparência virou uma condição irrevogável para a atuação dos tribunais. O que não significa que o Poder Judiciário esteja dispensado de sofrer qualquer outro tipo de reforma. Há muitas coisas ali que clamam por mudanças urgentes, como, de resto, nos demais Poderes da República.  Que elas avancem, pois.

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