São Paulo — Mesmo com o recente afago do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), a Jair Bolsonaro (PL), com direito a visita ao ex-presidente no hospital onde ele ficou internado na semana passada, em São Paulo, os bolsonaristas decidiram mudar a estratégia política nesse período de pré-campanha eleitoral.
Em vez de priorizarem a aliança com Nunes, que não avança porque o emedebista não topou ceder cargos na Prefeitura e a vaga de vice na chapa, aliados de Bolsonaro pretendem, ao menos publicamente, ignorar o prefeito e centrar os ataques no deputado federal Guilherme Boulos (PSol), principal rival na disputa.
Apoiado pelo PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Boulos é considerado um “inimigo comum” por Nunes e pelos bolsonaristas. Impedir a vitória do deputado do PSol na maior cidade do país foi o que aproximou Bolsonaro do prefeito paulistano neste ano.
Nunes busca o apoio de Bolsonaro à sua reeleição para evitar que uma candidatura bolsonarista lhe tire votos dos eleitores de direita, mas não quer ficar associado à imagem do ex-presidente por causa do alto índice de reejeição a Bolsonaro na capital.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada no início do mês, 68% dos eleitores paulistanos não votariam em um candidato a prefeito indicado por Bolsonaro. De acordo com o mesmo levantamento, Boulos lidera a disputa, com 32% das intenções de voto, contra 24% de Nunes.
Antes mesmo dessa pesquisa, auxiliares de Bolsonaro já sabiam que será quase impossível eleger um candidato genuinamente bolsonarista na capital e, por isso, rifaram a pré-candidatura do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) e passaram a negociar um apoio ao prefeito do MDB.
A derrota da esquerda em São Paulo é considerada pelo núcleo bolsonarista de extrema relevância para a sucessão presidencial em 2026.
Bolsonaro e Nunes já tiveram uma série de encontros em São Paulo neste ano, mas a formalização do apoio bolsonarista ao prefeito nunca saiu, apesar do desejo já externado pelo presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, que quer a coligação com o emedebista.
O entrave ocorre porque Nunes não cede aos anseios bolsonaristas, tanto cargos na Prefeitura, quanto a vaga de vice na chapa, além de dar declarações consideradas contraditórias sobre sua relação com Bolsonaro.
Como o Metrópoles antecipou no início do mês, aliados de Bolsonaro ficaram irritados com o que consideram “falta de reciprocidade” no tratamento dado aos bolsonaristas pelo prefeito e passaram a cogitar lançar uma candidatura própria à Prefeitura de São Paulo.
Agora, os bolsonaristas pretendem colocar um freio na negociação com Nunes e aguardar o desempenho do prefeito nas próximas pesquisas — assim como os desdobramentos das investigações da Polícia Federal (PF) sobre Bolsonaro — para definir que rumo tomam na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Enquanto isso, a estratégia é centrar a artilharia em Boulos para tentar manter o bolsonarismo como a principal força antagônica à esquerda na maior cidade do país.