São Paulo – Criminosos estão ligando para o telefone de comerciantes de Guarulhos, na Grande São Paulo, afirmando que são integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e exigindo transferências via Pix para que as lojas para as quais entram em contato não sejam invadidas ou fechadas à força pela facção.
Outra estratégia dos marginais é mencionar que precisam pagar propina para um hipotético delegado corrupto, para libertar o filho de um chefão do crime da região. A prisão do falso herdeiro do crime, segundo relatado pelos golpistas, resulta de operações policiais feitas após os membros da facção impedirem que o comércio da vítima fosse roubado por outros bandidos.
Os telefonemas assustam em um primeiro momento, mas são um golpe aplicado por presidiários, geralmente do Rio de Janeiro ou da região Nordeste, segundo fontes policiais ouvidas pelo Metrópoles.
“Os caras ligam falando que precisam pagar um advogado, pra soltar algum chefão do PCC que foi preso, ou parente dele. Se o comerciante não fizer isso, os bandidos dizem que vão mandar invadir os comércios, ou ordenar que fechem as portas e deixem de atuar na região”, explicou um policial civil, que pediu para não ter o nome revelado.
Ela acrescentou que os golpes foram identificados pela Polícia Civil, em Guarulhos, no ano passado. Os bairros alvo dos criminosos até o momento identificados são o Jardim Bela Vista, Cocaia, Vila Rio de Janeiro, e também comércios na Avenida Emílio Ribas, que leva ao centro da cidade.
O Metrópoles obteve uma gravação, feita por um dos comércios que recebeu um telefonema dos criminosos (ouça abaixo).
O bandido, com sotaque carioca, afirma ser do PCC e pede “ajuda” para a gerente de uma clínica, para que os criminosos paguem propina para um delegado corrupto. O valor cobrado pelo marginal oscila entre R$ 2 mil e R$ 3 mil.
Na maioria dos casos os valores não são pagos, mas alguns comerciantes acabam se rendendo ao medo e fazem as transferências para os presidiários, acreditando que conversam realmente com um integrante do crime organizado.
A reportagem apurou que os golpistas escolhem comércios de uma mesma região, pela internet. Como os endereços e telefones dos locais são públicos, os criminosos usam as informações para assustar as vítimas e tentar extorquir dinheiro delas.
Pizzaria foi alvo duas vezes O comerciante Wesley Bernardinelli Herzig, de 34 anos, recebeu dois telefonemas em um mesmo dia em sua pizzaria, no Jardim Bela Vista.
Quem atendeu a primeira ligação, feita por volta das 22h30 do último dia 2, foi a esposa dele. No outro lado da linha, criminosos afirmaram que estavam em frente ao comércio e, caso não fosse feita uma transferência via Pix para eles, o local seria invadido e assaltado.
Mas os bandidos foram desmentidos por um detalhe importante, o endereço mencionado por eles, após Wesley assumir a conversa, era do antigo dono da linha telefônica, recentemente adquirida de outra pizzaria desativada a cerca de um quilômetro de distância do comércio dele.
“Percebi que era golpe no mesmo instante. Aí tentei tranquilizar minha mulher. Mas se é uma pessoa mais afobada, acredito que cairia na lábia”.
Cerca de 15 minutos se passaram e a outra linha da pizzaria tocou. Eram os mesmos criminosos, agora falando o endereço verdadeiro do comércio de Wesley, com a mesma ameaça. “Fui para a rua, não vi ninguém em frente à pizzaria e confirmei, mais uma vez, que era golpe”, relembra.
O comércio dele recebeu uma ligação idêntica, dias depois, e ele resolveu registrar um boletim de ocorrência eletrônico.
Criminosos ligaram para pizzaria de Guarulhos, na Grande SP, pedindo dinheiro Caso mais recente O caso mais recente ao qual o Metrópoles teve acesso ocorreu por volta das 13h dessa terça-feira (20/9), no bairro do Cocaia.
Um comerciante de 41 anos que pediu para não ter o nome publicado, por temer por sua segurança, afirmou que em um telefonema criminosos lhe informaram terem impedido o furto de sua loja. Em troca, pediam dinheiro, alegando que a polícia havia prendido o filho de um chefão do crime.
Os bandidos, alerta a polícia, colhem informações com as próprias vítimas para assustá-las. Foi o que fizeram com o comerciante ouvido pela reportagem.
Os criminosos perguntaram se ele tinha câmeras de vigilância, para conferir a tentativa de furto, mas o local não tem esse tipo de equipamento instalado. “Quando falei que não tenho câmeras, eles afirmaram que já sabiam, porque motoqueiros tinham passado em frente à minha loja para confirmar isso.”
Por fim, a vítima fingiu que o sinal do telefone estava falhando e interrompeu a ligação. Os criminosos tentaram falar mais duas vezes com ele, que deixou o celular tocar até a linha cair.
A Polícia Civil de Guarulhos está ciente do golpe e orienta para que as pessoas não paguem os valores pedidos pelos criminosos. “Não caiam nesse golpe e se receberem qualquer ligação desse tipo, desliguem o telefone imediatamente”.
Se a vítima se sentir insegura, pode registrar um boletim de ocorrência, que pode ser feito pela internet.