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Tarcísio de Freitas diz que ‘daria nota zero’ para a Vai-Vai caso fosse jurado

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou em entrevista coletiva nesta quinta-feira, 15, que achou de “péssimo gosto” o desfile de samba da escola Vai-Vai, que trouxe em uma das alas participantes com roupas militares, asas e chifres em tons vermelho, laranja e amarelo. “Se eu fosse jurado daria nota zero no quesito fantasia. Achei de péssimo gosto porque a polícia é uma instituição que a gente tem que ter respeito”, disse. Para este ano ,o enredo da maior campeã do Carnaval de São Paulo foi “Capítulo 4, Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano”. Em nota ao site da Jovem Pan a Vai-Vai afirmou que a ala retratada durante o desfile fazia referência ao álbum “Sobrevivendo no Inferno” do Racionais MCs e ao próprio grupo, “sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação”.

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“Policiais são pessoas como nós, que têm ideal, que acreditam em um sonho (…). São excelentes profissionais, não devem nada pra ninguém, enfrentam o combate nas ruas todos os dias. (…) Esse tipo de deboche não fica legal, é ruim, é agressivo, é de péssimo gosto, nota zero pra eles”, afirmou o governador de São Paulo. Um ofício dos deputados federais Capitão Augusto (PL) e Dani Alonso (PL) foi enviado à prefeitura de São Paulo para pedir punião e corte de verbas públicas à Vai-Vai. O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) também repudiou o desefile da Vai-Vai por meio de um comunicado. “A escola de samba, em nome do que chama de ‘arte’ e de liberdade de expressão, afronta as forças de segurança pública, desrespeita e trata, de forma vil e covarde, profissionais abnegados que se dedicam, dia e noite, à proteção da sociedade e ao combate ao crime, muitas vezes, sob condições precárias e adversas, ao custo de suas próprias vidas e família”, diz a nota.

Confira a nota da Vai-Vai na íntegra:

Em 2024, a escola de samba Vai-Vai levou para a avenida o enredo Capitulo 4, Versículo 3 – Da rua e do povo, o Hip Hop – Um manifesto paulistano.

Como o próprio nome diz, tratou-se de um manifesto, uma crítica ao que se entende por cultura na cidade de São Paulo, que exclui manifestações culturais como o hip hop e seus quatro elementos – breaking, graffiti, MCs e DJs. Além disso, o desfile buscou homenagear e dar vez e voz aos muitos artistas excluídos que nunca tiveram seu talento e sua trajetória notadamente reconhecidos.

Neste contexto, foram feitos, ao longo do desfile, uma série de recortes históricos, como a semana de arte de 1922 e o lançamento do álbum “Sobrevivendo no Inferno”, dos Racionais MCs, em 1997. “Sobrevivendo no Inferno” é o segundo álbum de estúdio do grupo, lançado pelo selo da gravadora Cosa Nostra em 20 de dezembro de 1997. É considerado o álbum mais importante do rap brasileiro. Em 2007, figurou na 14ª posição da lista dos 100 melhores discos da música brasileira pela Rolling Stone Brasil. Em 2018, o álbum foi incluído pela Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares da Universidade Estadual de Campinas) na lista de obras de leitura obrigatória para o vestibular da Unicamp a partir de 2020. Meses depois, a obra virou livro, publicado pela Companhia das Letras, tamanha sua relevância.

Segundo a Revista Rolling Stone Brasil, que ranqueou o álbum na 14ª posição da lista dos 100 melhores discos da música brasileira, “Sobrevivendo no Inferno colocou o rap no topo das paradas, vendendo mais de meio milhão de cópias. Racismo, miséria e desigualdade social — temas cutucados nos discos anteriores — são aqui expostos como uma grande ferida aberta, vide ‘Diário de um Detento’, inspirada na grande chacina do Carandiru”.

Ou seja, a ala retratada no desfile de sábado, da escola de samba Vai-Vai, à luz da liberdade e ludicidade que o carnaval permite, fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais Mcs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação, mas sim uma ala, como as outras 19 apresentadas pela escola, que homenageiam um movimento. Vale ressaltar que, neste recorte histórico da década de 90, a segurança pública no estado de São Paulo era uma questão importante e latente, com índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica. Além disso, é de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundo, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado pra época. Ou seja, o que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile.

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