Na quinta-feira (29/2), quando estourou a notícia de que soldados israelenses haviam disparado contra uma multidão de palestinos famintos que corriam atrás de comida lançadas por aviões nas praias do norte da Faixa de Gaza, Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, concedeu à tarde uma entrevista coletiva à imprensa do seu país.
Sabem quantas perguntas foram feitas a ele sobre o caso? Nenhum jornalista da mídia israelense que teve voz na ocasião questionou Netanyahu sobre o que ocorrera. Só estavam interessados na lei do alistamento, que desatou uma crise política em Israel. Naquele dia, o massacre dos palestinos repercutiu pouco no país. No dia seguinte, foi esquecido.
De fato, há uma crise política em Israel resultante do projeto de lei que isenta os judeus ultra ortodoxos do serviço militar, e o ministro da Defesa, Yoav Galant, disse que não apresentará a proposta sem que haja um consenso em torno dela. Galant é aquele que chamou de “ultrajantes e repugnantes” as declarações de Lula sobre o genocídio em Gaza.
Se puder, Galant sucederá Netanyahu logo que a guerra acabe. Para evitar que isso aconteça tão cedo, Netanyahu vale-se de todos os meios para prolongar a guerra. O presidente Joe Biden, dos Estados Unidos, pressiona o primeiro-ministro para pôr fim ao conflito. Netanyahu está de ouvidos tapados a qualquer apelo pacifista, e a maioria dos israelenses o apoia.
Quanto aos palestinos, só os árabes se preocupam com eles. A fome é avassaladora em Gaza. Israel não tem um plano para o dia seguinte ao fim da guerra. O Hamas já não controla o norte do enclave. Como potência ocupante, a responsabilidade por manter a ordem no local é das Forças de Defesa de Israel. Mas elas preferem atirar e matar a cumprir suas obrigações.
Por dia, uma média de 96 caminhões com comida, água, remédios e combustível entraram em Gaza até 27 de fevereiro. Isso representa uma queda de 30% em relação à média de janeiro e a média mensal mais baixa desde antes do cessar-fogo de novembro, segundo a UNRWA, a agência da ONU para Gaza, acusada por Israel de ser cúmplice do Hamas.
O declínio reflete o rigor das medidas de inspeção na passagem de Kerem Shalom, no sul de Israel, que tem funcionado como principal porta de entrada na Faixa de Gaza desde que foi reaberta. As mercadorias também passam do Egito para Gaza pela entrada de Rafah, depois de serem submetidas à inspeção israelense em um local separado.
O rigor na inspeção dos caminhões, explica o governo de Israel, é para impedir que sua carga possa conter itens utilizáveis pelo Hamas. Antes do início da guerra, cerca de 500 caminhões entravam em Gaza diariamente. A dieta de fome imposta aos palestinos só cessará se o Hamas devolver os reféns. O Hamas topa devolver, mas com o fim da guerra.
Biden anunciou que os Estados Unidos começarão em breve a lançar suprimentos de ajuda humanitária em Gaza:
“Pessoas inocentes foram apanhadas numa guerra terrível, incapazes de alimentar as suas famílias e vimos a resposta quando tentaram obter ajuda. Precisamos fazer mais.”
Resta Biden combinar com Netanyahu para que o Exército de Israel não atire nos famintos que correrão às praias de Gaza ao primeiro sinal de comida à vista.