A mídia de podcast tem uma história curiosa quando olhamos de dentro pra fora. No ano de 2008, quando criei o Matando Robôs Gigantes (MRG), nem se falava muito do assunto aqui no Brasil enquanto nos Estados Unidos, principalmente, as coisas já começavam a ocorrer com o intuito dos criadores independentes se expressarem por meio de um conteúdo totalmente baseado em áudio.
E, ao fazer parte dessa espécie de primeira geração de podcasters, vi muitas pessoas produzindo conteúdo de forma entusiasmada, mas sem uma visão muito bem definida de negócios.
Fazer o MRG chegar até as pessoas era uma jornada complexa. Primeiro tínhamos que encontrar algum drive que desse pra postar o arquivo (alguém lembra do blogspot e do 4shared?).
Depois ir ao Orkut para divulgar nas comunidades que falavam de coisas relacionadas ao nosso tema, que era entretenimento e cultura pop – não existia outra forma de divulgar, pois o Twitter, Facebook, YouTube e Spotify não estavam por aí.
Para pensarmos em tornar um negócio era um abismo enorme, pois a audiência era muito nichada e entusiasta. Como então poderíamos convencer o mercado de que tínhamos poder de influência? Foi uma jornada intensa, porém o tempo passou, muitos podcasts que surgiram naquela época acabaram por diversos motivos diferentes e outros permaneceram.
O Jovem Nerd, por exemplo, se transformou em um verdadeiro império do entretenimento nacional e tantos outros seguiram com afinco buscando seu estilo e identidade.
E as marcas entraram de vez na mídia patrocinando vários desses conteúdos, tendo uma resposta positiva do público que ouvia honestamente dos seus apresentadores que essa era a forma de remuneração por um produto que era de graça.
E no meio do caminho um norte-americano mudou o jogo! Joe Rogan criou o “The Joe Rogan Experience”, videocast que futuramente teria sua exclusividade vendida ao Spotify por aproximados 1 bilhão de reais. Naquele momento, a mídia chamou muita atenção e explodiu de vez.
Aqui no Brasil o modelo vodcast, podcast em vídeo, com entrevistas se tornou uma verdadeira febre – diversos criadores de conteúdo adotaram a mídia, o formato e a ideia. E o público começou a consumir os chamados “cortes”, que são pequenas pílulas que espalham um tema, uma curiosidade ou um fato.
O mercado então resolveu mudar de postura e aderir o modelo como forma de comunicação com seu target. E aqui começou uma confusão curiosa.
Atualmente, é possível ver várias apresentações, palestras e infoprodutos que tem como foco vender o formato para diversas marcas. Mas o problema é que, em um mundo de criadores de conteúdos, é difícil alguém que nunca criou nada e engajou uma audiência, saber o que deve ser feito. E assim o podcast se tornou um território necessário, porém difícil.
Por ser uma mídia de criação de audiência, tirando casos específicos, ela demora para crescer. O ponto positivo disso é que o crescimento traz números de engajamento e relação da audiência, que é bem difícil de serem atingidos de outra forma. No entanto, é preciso entender que é preciso tempo para entender a audiência e aumentar as performances.
Fazer podcast não é uma ciência exata! Se você buscar diversas pesquisas sobre a mídia, verá que os temas mais procurados pelos consumidores são Comédia (27%), Lazer (16%), Sociedade e Cultura (12%) e Negócios (10%). Mas, também temos Educação, Saúde, Notícia e diversos outros temas. Ao analisar o perfil do público, é possível notar que todos são de criadores e não de marcas.
E, mesmo sabendo que as marcas não são equivalentes aos influenciadores e que geralmente levam tempo para construir uma audiência, precisam se permitir falhar e mostrar humanidade como quem está à frente do microfone.
Prova disso é que, na mesma pesquisa, o Spotify mostra que 54% das pessoas descobrem um novo podcast ao ouvir falar dele em um que já consomem e 53% chegam em novos conteúdos por indicações de amigos e familiares.
Essa é a constatação de que o segredo está na conexão, e para que possamos gerar um elo com alguém precisamos estar um pouco vulneráveis.
E não se enganem, a vulnerabilidade pode ser criada, planejada e impulsionada. Só tem que ser feita do jeito certo, e de preferência por alguém que já tenha feito isso antes.
A publicidade cada vez mais se choca com uma geração que consegue reconhecer quem é de verdade e quem é de mentira…e, depois de 15 anos fazendo podcast e todo mês imprimindo pra mais de 28 milhões de pessoas, eu posso te afirmar que o ouvinte definitivamente quer consumir pessoas ou marcas que sejam de verdade!
Beto Estrada é co-CEO e fundador da BKR, e criador e apresentador do MRG, um dos maiores podcasts do Brasil com audiência de aproximadamente 1 milhão de pessoas.