O ex-comandante do Exército Marco antônio Freire Gomes confirmou à Polícia Federal (PF) ter participado de reuniões no Palácio do Planalto em que foram discutidas minutas de um possível golpe. O general, entretanto, disse ter alertado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre as possíveis implicações criminais da trama. A informação foi revelada pela revista Veja, nesta quinta-feira (14/3). A publicação teve acesso à íntegra do depoimento do militar à PF.
Segundo depoimento, Freire Gomes contou aos agentes da PF que Bolsonaro detalhou diretamente aos comandantes da três forças como ocorreria uma ruptura institucional para reverter o resultado das eleições.
A primeira reunião ocorreu em 7 de dezembro e já havia sido antecipada no depoimento do ex-ajudante de ordens Mauro Cid à PF. Na ocasião, Bolsonaro apresentou aos comandantes uma minuto para decretar uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). O plano ainda dava conta de que o mandatário lançaria mão de instrumentos como Estado de Defesa e Estado de Sítio.
Freire Gomes disse aos agentes recordar que o então comandante da Marinha, Almir Garnier, se colocou à disposição de Bolsonaro.
Segundo a Veja, o ex-comandante do Exército confirmou à PF que uma nova audiência foi convocada com os três comandantes dias depois. Nessa ocasião, além dos comandantes, esteve presente o ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, que apresentou uma nova minuta ainda com teor de ruptura, com a criação de uma Comissão de Regularidade Eleitoral.
No depoimento, o general ainda foi confrontado com o texto de uma minuta de golpe encontrado na casa de Anderson Torres e teria reconhecido o texto como um dos que foram discutidos com Bolsonaro nas reuniões no Planalto. Torres, segundo Freire Gomes, seria um dava um “suporte jurídico” para as tratativas golpistas.
Depoimento à PF No início do mês, o general Freire Gomes ficou por mais de sete horas na sede da PF, em Brasília. O militar prestou depoimento no âmbito do inquérito que investiga suposta tentativa de golpe planejada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados.
O tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, em delação premiada, informou que o comandante do Exército teria participado de conversas para articular a minuta do golpe. Esse documento tinha como objetivo cancelar as eleições de 2022, que deram a vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No entanto, Freire Gomes teria recusado a tese golpista. Por conta da negativa, o general Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, chamou Freire Gomes de “cagão” em troca de mensagens com o ex-major Ailton Gonçalves Moraes Barros.