Sem partido que o apoiasse, apenas com um arremedo de partido, sem dinheiro dos fundos eleitoral e partidário para financiar sua campanha, sem tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, Pablo Marçal foi mais longe do que se imaginava.
Valeu-se da própria estridência nos debates para se afirmar, de ter enriquecido – não importa como – apesar de ter nascido pobre, de vender com brilho o sonho da fortuna num abrir e piscar de olhos, e de apresentar-se como o único candidato antissistema.
A receita quase vitoriosa desandou por culpa unicamente dele. Foi mais agressivo do que deveria, transgressor para além do razoável, e ao cabo falsificou documentos com o intuito de aumentar a rejeição de Guilherme Boulos, uma vez que a dele era a mais alta.
No segundo turno, o eleitor costuma votar contra o candidato que não quer ver eleito. Na reta final do primeiro turno, levando-se em conta as pesquisas espontâneas do Datafolha e da Quest, o número de eleitores que se diziam indecisos ia de 18% a 30% do total
Entre eles, a rejeição a Marçal era no mínimo duas vezes maior do que a de Nunes. Em resumo, foi por isso que ele perdeu. “Não haverá segundo turno”, proclamava Marçal, dando a entender que se elegeria direto no primeiro turno. Não haverá para ele.
O Coringa do ator Joaquin Phoenix matou, despertou os instintos mais primitivos de milhares de pessoas tão insanas como ele, e provocou o incêndio de parte de uma cidade. O Coringa de Marçal fez quase a mesma coisa, com uma diferença: matou-se no fim.