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“Ele fica”, Ferran Soriano confirma permanência de Ceni no comando técnico do Bahia

Em entrevista concedida ao site ge.globo, o espanhol Ferran Soriano, CEO do Grupo City, conglomerado que gere o futebol do Bahia, tocou em diversos temas dúvidas para a torcida tricolor. Uma delas é a permanência ou não de Rogério Ceni no comando técnico do Tricolor Baiano para 2025. Ferran garantiu a permanência do treinador e traçou um paralelo entre Ceni e Pep Guardiola.


Além de Ceni, Ferran fez uma avaliação do Bahia, do mercado brasileiro e falou sobre outros temas ligados ao futebol. Questionado sobre a pressão exercida no treinador, Ferran lembrou a filosofia do Grupo City ao avaliar o trabalho de Rogério.


“Uma das coisas que falta é paciência. Se não me lembro mal, 14 técnicos foram trocados no Brasileirão deste ano. É impossível. E eu sei, vocês sabem, todo mundo sabe que dar para alguém um trabalho difícil de liderança de um grupo e trocar depois de perder três jogos é uma ideia ruim. E isso acontece mais no Brasil do que deveria, eu acho. Acontece mais na Itália também. O ranking é Brasil, depois a Itália, depois a Espanha e na Inglaterra acontece pouco. No meu tempo no Manchester City a gente teve dois técnicos. E é assim que pode ser feito um projeto a longo prazo. Uma coisa que eu acho que deveria mudar no futebol brasileiro é a paciência com o técnico. O técnico precisa de tempo para trabalhar”, declarou e continuou afirmando que, em termos de sofisticação e trabalho, Ceni é do mesmo nível que Pep Guardiola.


“No nosso caso, a gente conhece muito bem o trabalho do Rogério Ceni, que eu posso dizer que é excelente. Excelente pelo que a gente vê aqui, mas também em comparação com os outros técnicos do grupo. Nós temos 13 clubes de futebol no mundo. Alguns deles com técnicos extraordinários, como o Pep Guardiola. E eu posso dizer que o nível de sofisticação e de trabalho do Rogério é do mesmo nível do Pep Guardiola. Então, estamos contentes, ele fica, vai ficar agora e vai ficar a próxima temporada com certeza. E, em geral, eu não acho que você vê o resultado de um técnico trabalhando bem depois de um ano e meio, dois anos”, disse.


Questionado sobre a ansiedade do torcedor para o momento que o Bahia torne-se dominante, Soriano avaliou o avanço do trabalho do Grupo na gestão do clube e se o ritmo foi menor ou além do esperado.


“Não, não. Avançou o que a gente imaginou ou até mais. O Manchester City foi o melhor clube do mundo, e o número de títulos que a gente ganhou é espetacular. Mas lembre-se: são 15 anos. O ano zero do Manchester City é 2008. E a gente não ganhou um campeonato nem no primeiro ano, nem no segundo, no terceiro e no quarto. O Bahia já era um grande clube, é um grande clube, mas o nosso movimento começa 18 meses atrás. Depois de 18 meses, passar de potencial rebaixamento a estar em sétimo, sexto, oitavo na tabela é um progresso maior do que aconteceu em Manchester. Então, estamos no caminho. Obviamente, não posso dizer se vai demorar três anos, quatro, cinco, seis anos, mas vai chegar. Não tenho dúvida”, disse.


O espanhol também destacou a importância do crescimento do projeto ser sustentável e disse ter sentido a pressão da torcida na derrota diante do São Paulo.

“É importante também que o crescimento do projeto seja sustentável. Não adianta crescer muito para depois cair. E eu não tenho dúvida que estamos no caminho e vai chegar (o momento dos títulos). Eu entendo, a torcida é quem manda. O clube é deles, a gente só tem a custódia do clube nessa etapa da história. Eles cobram, e está bem. Mas o nosso trabalho precisa de frieza. Precisa planejamento, prudência e fazer as coisas passo a passo. Nesse caminho, estou mais do que satisfeito de sentar aqui com a pressão. Eu fui ao jogo ontem e senti a pressão muito, mas é uma pressão positiva. A gente está sentando numa pressão positiva para classificar para Libertadores. Já passou a época da pressão negativa, de sofrer pelo rebaixamento”, completou Soriano.


Confira outros tópicos da entrevista:


Quais os objetivos a curto, médio e longo prazo?


“A curto prazo era claro: estabilidade. No início da temporada, o que eu pedi para as nossas equipas técnicas no Brasil e na Europa foi construir um elenco com zero risco de rebaixamento. Zero é impossível, mas com muito baixo risco. E esse é o objetivo número um, ter estabilidade. Nesta estabilidade, a gente vai crescer. O primeiro passo é classificar para uma competição regional. E depois vai ser vencer o título. A gente quer ser campeão. Para fazer esse caminho, temos que fazer muitas coisas. Por exemplo, desenvolver muito bem o futebol de base. Muito bem. Na Bahia, no Nordeste e no Brasil. E isso vai requerer investimentos em infraestrutura. Muitas coisas estão sendo feitas, mas não são rápidas. Para investir em infraestrutura precisa de anos. Na base, uma coisa muito simples de dizer, muito difícil de fazer, é que a gente quer jogar bom futebol. A velha história do jogo bonito. No futebol, como na vida, eu acho que há duas estratégias básicas: uma é estratégia de proposta, de propor, de ter a bola, de atacar, de tentar expressar um arte. E outra, mais prática, é defender, ficar atrás, procurar transição rápida, ser um time mais sólido, mas menos atrativo”.


“A nossa aposta claramente é a primeira, sem discussão. No Bahia e em todos os nossos clubes. Por quê? Acreditamos nisso, é o que faz o futebol atrativo. Se todo mundo joga com 10 atrás… Se vocês acompanham alguns dos jogos do Manchester City nos últimos meses, às vezes é meio complicado, porque joga contra alguém que só está atrás. Se todos jogamos assim, o futebol acaba. Então, a nossa ideia é ganhar jogando bem. Não queremos ganhar sem jogar bom futebol. Na realidade, a minha experiência é assim: primeiro joga bem e depois ganha. A proposta é essa, construir uma equipe que vai ter talento e intensidade. Às vezes a gente confunde a questão da garra. Escutei muitas vezes falar garra, garra. Garra é o quê? Se é intensidade, sim. Se é contra-talento, não. O nosso objetivo não é ter uma equipe que tenha garra, competitividade, sem talento. É uma equipe com talento e intensidade”.

Quais os objetivos do programa Bora Bahêa Meu Bairro?

“É um desafio grande. No início, quando o pessoal me falava de problemas de nutrição, eu estava pensando em um menino que bebe Coca-Cola e come pizza, que é um problema de nutrição. Só depois descobri que era um outro tipo de problema. É um menino que não tem o que comer. E isso é inaceitável, em geral, no Brasil, no século XXI, em qualquer lugar do mundo, né? Inaceitável. e, obviamente, inaceitável com os meninos que jogam futebol. Então, para nós, é uma prioridade absoluta. A gente não pode falar de treinar os meninos que não comem bem. E o programa Bora Bahêa Meu Bairro é parte disso. É um programa espetacular”, disse e continuou.


“Eu, na primeira vez que eu fui para Salvador, encontrei o prefeito, e a primeira coisa que ele disse foi: a gente tem campos, mas não temos a capacidade de gerenciar. E a gente disse, ok, a gente pega. Pegamos já vários, nove, vamos pegar muitos mais. Criamos uma comunidade naqueles campos, porque a comunidade ajuda muito. Ajuda os meninos a jogar futebol, mas ajuda os meninos a irem para um lugar, estar juntos, comer bem, ter educação e fazer coisas positivas. Para nós é um projeto fundamental para o Bahia, pelo impacto social que tem, mas também porque tem talento lá, tem talento de futebol, muito, mas tem que estar bem-educado e tem que comer bem. São os básicos dos básicos”.


O CEO também foi perguntado sobre a forma que o mercado internacional vê o jogador brasileiro.

“O jogador brasileiro continua a ter muito talento. Não mudou nada. Sei também que as expectativas do torcedor do Brasil e também da Seleção é ganhar a Copa. Mas é muito difícil mesmo. Não é razoável pedir para ninguém ganhar a Copa uma e outra vez. Tem competidores muito fortes. O futebol tem que ser profissionalizado muito bem. Houve um caso da Espanha que chegou a um nível de profissionalização e trabalho espetacular. Depois foi a Alemanha, teve um tempo muito bom. É muito difícil. Então é injusto pedir para a seleção brasileira ganhar sempre. O talento brasileiro existe. É óbvio que tem épocas. E não só no futebol brasileiro, em qualquer futebol. Olha para o futebol espanhol, teve aquela época maravilhosa com o Xavi, Iniesta, Puyol e o Piqué. Mas passou, agora tem outros. E tem que ter a paciência de esperar para os jogadores crescerem”, finalizou.

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