Imagine duas pessoas com poderes especiais. Uma consegue saber o futuro, outra consegue ler o que se passa nas mentes dos outros. Se essas duas pessoas jogassem uma partida de xadrez, quem venceria? A que consegue antecipar o movimento do adversário, porque sabe o que ele está pensando, ou o que prevê a jogada do oponente, e, portanto, pode se defender melhor?
A pergunta não saiu da minha cabeça. Na verdade, ouvi da minha pequena filha, de 9 anos, que resolveu me intrigar com essa questão. E perguntou mais… se eu pudesse escolher um desses dois poderes, qual eu escolheria. Transfiro a pergunta a você, caro leitor.
Sobre a partida de xadrez, não acho que há uma resposta certa. Porque o xadrez não é um jogo de adivinhação ou de inspiração aleatória. É um jogo de estratégia e cálculos de probabilidades. E como nos ensina Sun Tzu, em “A arte da Guerra”, conhecer a mente do inimigo, e ter a capacidade de antecipar seus movimentos são habilidades igualmente importantes. Então só para não ficar sem resposta, a minha foi: venceria quem estivesse mais concentrado, porque este não deixaria escapar nenhuma informação.
Agora, sobre qual dos dois poderes eu escolheria ter. Eu resolvi a questão pensando em qual dos dois causaria menos desconforto. Sim, porque qualquer um dos dois seria não um dom, mas uma maldição. Então eu preferiria continuar não sabendo o futuro, o que me levaria à situação de infelizmente conseguir ler a mente dos outros.
Pense como isso poderia ser incrivelmente doloroso. Você saberia de coisas que não gostaria de saber, você saberia 100% das vezes se uma pessoa gosta mesmo de você ou não, você saberia se alguém concorda ou não com o que você está dizendo, sem precisar ouvir o argumento dela… não sei para você, mas para mim a vida seria muito ruim. Porém, a alternativa seria bem pior!
Imagine saber tudo o que vai acontecer no futuro! imagine saber a data e hora da sua morte, e não só da sua, mas de todas as pessoas que você ama. imagine que você jamais poderia se emocionar com o inesperado, se surpreender de alguma forma, que saberia de antemão todas as coisas que se passariam sob o seu olhar. Qual o sentido de viver sem o encanto de simplesmente não saber o que vai acontecer, e mesmo assim, continuar caminhando, acreditando que qualquer que seja o vale de sombras em que você se encontre, poderá surgir alguma luz que te guie para algo melhor. Conhecer o futuro mataria um dos sentimentos mais importantes que podemos ter: a esperança.
Isso dito, me vem a cabeça a proximidade do maior espetáculo, do maior esporte do planeta. A Copa do Mundo é, para mim, a maior celebração da esperança que se pode ter. A cada 4 anos, essa esperança se renova. E onde está a beleza disso? Na imprevisibilidade do jogo de futebol. O que faz a magia acontecer e encantar bilhões de pessoas ao redor daquela bola, é o simples fato de que ninguém, mesmo no confronto mais desequilibrado possível, pode saber com certeza o que vai acontecer.
Já temos os escolhidos aqueles que escreverão as páginas de mais um capítulo da eterna renovação da esperança. Você pode gostar da Seleção Brasileira, pode não gostar, e pode até tentar ficar indiferente. Mas não conseguirá deixar de ser impactado pela imprevisibilidade do que está por vir. Porque o futebol é feito da mesma matéria que nossos sonhos. É a materialização da capacidade humana (essa sim, uma benção) de acreditar na possibilidade da vitória, mesmo quando tudo aponta para o outro lado. E o sonho não pode acabar, até que a bola pare de rolar. No campo, ou na vida.