InícioEditorialA trapaça do prefeito que se reelegeu para dar lugar à namorada

A trapaça do prefeito que se reelegeu para dar lugar à namorada

Em uma pequena cidade como Goiana, Pernambuco, a meio do caminho entre o Recife e João Pessoa, capital da Paraíba, o segredo é uma coisa que se compartilha. Tanto mais quando envolve a autoridade pública número um do lugar – o prefeito.

Está escrito na lei, desde que a reeleição foi introduzida no Brasil em 1997, que ninguém pode governar o país nem os municípios por três vezes consecutivas. Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff governaram duas vezes seguidas.

Lula quase caiu na tentação de mudar a lei para governar três vezes. Como não deu, elegeu Dilma, pensando em sucedê-la quatro anos mais tarde. Não deu: Dilma fincou o pé e se reelegeu. Bolsonaro meteu-se entre os dois e se elegeu porque Lula foi preso.

Solto depois de 580 dias e reabilitado pela Justiça que anulou sua condenação, Lula voltou a se candidatar e derrotou Bolsonaro. Lula é o único brasileiro a governar o país pela terceira vez. E Bolsonaro, o único presidente que não conseguiu se reeleger.

O caso do prefeito de Goiana, Eduardo Honório (União-Brasil), 66 anos, conhecido como “Eduardo do Detran”, é curioso e inédito. Com 78,16% dos votos válidos, reelegeu-se no último domingo para governar Goiana pela terceira vez seguida.  Só que não podia.

Eduardo Honório

Honório era o vice do prefeito Osvaldo Rabelo Filho (MDB) que governou Goiana por quatro mandatos. Ocorre que da última vez, de 2017 a 2022, Rebelo Filho ficou doente e Honório o substituiu. Rabelo Filho morreu em 2021 sem reassumir o cargo.

Um ano antes, Honório registrou sua candidatura à reeleição e venceu. Como foi possível que ele se candidatasse novamente este ano? E porque o fez se a Justiça, sem outra saída, convocará novas eleições? Essa história será contada a partir de agora.

Casado há décadas com dona Maria das Neves, a Nevinha, professora aposentada, mais velha do que ele e mãe de seus três filhos (dois deles homens), Honório sempre teve duas mulheres. A anterior, Amélia Corrêa, também é professora aposentada.

O caso com Amélia durou cerca de 40 anos. Goiana acostumou-se a vê-lo ora com Nevinha, ora com Amelinha. Há pouco tempo, Honório trocou Amelinha por Paula Brito, 45 anos de idade, diretora do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

Paula Brito

Dona Nevinha nunca fez política. Paula sempre fez. Honório lançou Paula à vereadora pelo PP e ela se elegeu com 2.177 votos, o terceiro mais votado. O primeiro foi André do Forró dos Errados (PP) com 2.532 votos. Quem apoiou o músico? Dona Nevinha.

A primeira-dama de Goiana renunciou à sua vida confortável e foi à luta para eleger André do Forró dos Errados. Virou uma questão de honra para ela desbancar Paula. Nos grupos locais de WhatsApp, leu-se: “Dona Nevinha está botando pra torar”.

A juíza eleitoral de Goiana negou-se a registrar a candidatura de Honório. Então, ele apelou para o Tribunal de Justiça de Pernambuco, que por 7 x 0, também negou-se. Honório apelou ao Tribunal Superior Eleitoral que dirá algo até dezembro.

“A palavra que vale é a de Brasília”, disse Honório em comícios, e repetiu uma vez a senadora Teresa Leitão (PT). Honório cedeu ao PT o lugar de vice em sua chapa. Dos 17 vereadores eleitos, 11 devem sua vitória a Honório, 3 são de oposição e 3 independentes.

A Câmara Municipal de Goiana se reunirá em 1º de janeiro para eleger seu presidente. E aqui, o desfecho da história: Honório está certo de que o presidente será Paula. Ela assumirá a prefeitura até que haja nova eleição. Quando houver,  será candidata a prefeita.

Que tal? O amor não é lindo? E a política não é uma beleza? Honório, à sombra de Paula, seguirá mandando em Goiana, um município com 85 mil habitantes, e cuja receita anual é de 1,5 bilhão de reais, graças a uma montadora de veículos.

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