O delegado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem presta depoimento nesta quarta-feira (17/7) na Polícia Federal. A oitiva integra a Operação Última Milha, que investiga o possível uso ilegal de sistemas da Abin para espionar autoridades de desafetos políticos no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Conforme apurou o Metrópoles, o pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro, também deputado federal pelo PL, será interrogado na capital fluminense.
Ramagem foi diretor-geral da Abin entre julho de 2019 e março de 2022. Segundo investigações da PF, durante a gestão, uma organização criminosa se infiltrou na agência com o intuito de espionar, sem aval da Justiça, adversários do clã Bolsonaro, como autoridades e jornalistas.
De acordo com as investigações, que começaram em 2023, o grupo usou sistemas de GPS para rastrear celulares sem autorização judicial.
Ramagem é apontado como o responsável por gravar uma reunião que teve o ex-presidente entre os participantes e na qual se discutia o uso de órgãos públicos para interromper investigações contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho de Jair Bolsonaro.
Conforme o relatório da PF, teria sido encontrada, em um computador de Ramagem, uma gravação de reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro em que há discussão de um plano para abrir procedimentos contra auditores da Receita Federal.
Os auditores alvo do suposto plano tinham sido os responsáveis por elaborar o documento da Receita Federal que embasou a investigação das “rachadinhas” contra Flávio Bolsonaro. Como mostrou a coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles, Bolsonaro disse a aliados que a gravação ocorreu sem sua autorização ou seu conhecimento.
Na segunda-feira (15/7), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou o sigilo de uma gravação feita por Ramagem de uma reunião que contou com a participação de Jair Bolsonaro, do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno e de advogadas do senador Flávio Bolsonaro.
Na ocasião, de acordo com as investigações, o grupo discutiu formas de usar órgãos oficiais para reverter investigação contra o senador do PL.
A reunião ocorreu em 25 de agosto de 2020. À época, Flávio era investigado por suspeita de rachadinha em seu gabinete durante o mandato de deputado estadual.
Os servidores da Receita Federal levantaram movimentações do senador a partir de levantamentos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), mostrando incompatibilidade com a renda dele.
Na reunião gravada, os participantes buscaram maneiras de descredibilizar essas investigações usando órgãos do governo, de acordo com a Polícia Federal. Os participantes da reunião negam terem cometido qualquer irregularidade.