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Acho que vi um gatinho: o que é necessário para adotar um felino (ou vários)

Luna, Sun e Estrela são os xodós de Fernanda e Malu; mãe e filha tiveram até que substituir o sofá da sala para receber os gatos adotados

Na casa da minha avó materna era assim: o cachorro ficava lá fora; o papagaio, na cozinha. Nós, as crianças, só brincávamos no quintal. Já o gato de tio Lôro tinha trânsito livre por todos os cômodos. Todos mesmo. Inclusive os quartos, onde se deitava nas camas ornadas com lençóis cheirosos e passados a ferro. Eu não entendia porque dona Rosa, sempre cuidadosa em manter o ambiente limpo e em ordem, deixava aquela bola de pêlos ambulante passear por onde quisesse. Até que li a seguinte frase: “O gato é o único animal que conseguiu domesticar o homem”. E, de repente, tudo fez sentido. Xaninha (era o nome do bichano) havia domesticado não só meu tio, mas também minha vó. 

“O gato é o único animal que conseguiu domesticar o homem”

De fato, quem tem gato se apaixona, se submete. “É um caminho sem volta”, sentencia Gabriela Lomanto Benevides, 26 anos. A vida da estudante de Direito é dedicada a essas criaturinhas: ela os resgata nas ruas, acolhe, cuida e busca adoção responsável. Gabi tem sete gatinhos, também é catsitter (babá de gatos) e possui um perfil no Instagram sobre o intrigante e encantador mundo felino. Com a propriedade que lhe cabe, ela dá a real para quem pensa em adotar:

“Para receber os gatos, além de realizar adaptações em casa, adquirir equipamentos e acessórios, é essencial ter consciência de que existem custos veterinários como consultas, vacinas e alimentação adequada”

Dona de sete bichanos, Gabriela Lomanto Benevides é babá de gatos e tem uma página no Instagram onde dá dicas  (Arquivo pessoal)

Foi Gabriela quem orientou Thiago Guimarães, 37, em sua incursão pela adoção de gatos. O músico adotou Tiê e Leona durante a pandemia e passou por alguns perrengues. “Tiê teve dificuldade em aprender a usar o banheiro e, muitas vezes, tive que pegá-lo correndo pra colocar na caixa de areia e evitar que fizesse as necessidades fora”, relembra. Depois, veio a fase das fugas: “Era um terror! Se eu vacilasse um minuto com a porta aberta, Tiê pegava o caminho da rua. Era sempre angustiante”. Como Tiê é macho e Leona é fêmea, foi necessário recorrer à castração do primeiro: “Essa fase deu muita dor no coração, mas deu tudo certo”, tranquiliza Thiago.

O macho Tiê e a fêmea Leona foram adotados pelo músico Thiago Guimarães, durante a pandemia (Arquivo pessoal)

Esse primeiro momento é realmente para se informar e pedir orientação sobre tudo a quem já conhece do riscado. Entre os artigos essenciais estão arranhador, comedouro, bebedouro, caixa de areia sanitária (para o cocô e o xixi), prateleiras (para eles pularem e darem um tempo observando a vidinha humana lá de cima) e brinquedos. Não se pode esquecer da ração, vermífugo, escovas para os pelos, além de telas nas janelas e demais ambientes abertos, fundamentais para evitar quedas e dor de cabeça com gatinhos fujões. Ah e caixas de papelão, que eles adoram.

A estudante de Administração, Juliana Dias, 25, adotou dois gatinhos, Charlie e Malu. Ela, que também é catsitter, ressalta que os comedouros de inox e porcelanas são mais recomendáveis: “Bactérias se proliferam nos de plásticos”, explica. 

Juliana Dias adotou Charlie e Malu (Arquivo pessoal)

“Recomendo uma caixa de areia funda, para evitar que eles espalhem os grãos para fora quando for fazer suas necessidades. Minha areia preferida é a fininha, com cheiro, porque deixa os torrões mais firmes”, dá a dica

Meu gato, minha vida 

As janelas do apartamento de Fernanda Matos, 44, já possuíam telas, mas, para receber a primeira gatinha, a jornalista resolveu trocar por aquelas de trama mais fechada. Ela também teve que instalar o acessório na sala. Luna foi adotada durante a pandemia, para fazer companhia a Malu Matos, 13, a filha humana. Como um gato puxa outro, vieram depois Sun e Estrela. 

A partir daí, Fernanda retirou os tapetes e deu adeus ao sofá antigo, onde os bichanos gostavam de fazer xixi “quando estavam chateados”. Na sala, a decoração tradicional passou a dividir espaço com arranhadores e comedores. Alérgica, a jornalista comprou ainda três aspiradores de pó para utilização em ambientes diferentes da casa. “Quando um gato novo chega, eu tenho alergia, mas, quando acostumo com ele, passa”, garante.

Os contratempos são fichinha diante dos benefícios que os animais trouxeram para a vida de Fernanda e Malu: “Dizem que os gatos não tem amor, não tem coração e tal. Pois qualquer coisa que Malu sente, Luna fica grudada nela. E o mesmo acontece comigo: se eu estiver triste, Sun cola em mim, é super parceiro”, conta. 

“Tem gente que chega aqui e diz ‘aaahhh, eu não gosto de gato’… se não gosta, não venha na minha casa, porque meus gatos são minha vida”, avisa

Para frequentar a residência de Rafael Rodrigo Perrone Guibernau, 42, e Maria Lis Perrone, 47, em Lauro de Freitas, também é preciso gostar de gatos. E de cachorros. A vida do casal, aliás, gira, em parte, em torno desses animais: eles realizavam resgate de doguinhos, até encontrarem Kid, o primeiro gato, e passarem a também resgatar felinos. 

Atualmente, são 18 bichinhos: 13 cachorros e 5 gatos e, ao contrário do que diz o senso comum, as duas espécies convivem muito bem. Para os bichanos, foi necessário telar até mesmo a área externa, evitando, assim, que eles corressem perigos como atropelamentos na rua. Bebedouros e caixas de areia ficam espalhados pela casa. Cada gatinho tem a sua caixa. “Eles gostam de privacidade no momento de fazer as necessidades”, alerta Rafael. 

O casal fez, ainda, uma espécie de parque de diversões, com arranhador e rede. Para acessar o quarto dos donos e aproveitar o ar-condicionado em dias quentes, basta os gatos atravessarem uma portinha construída exclusivamente para isso. O custo mensal com os cinco bichanos, incluindo areia, ração de boa qualidade e sachê especial (recomendado por um profissional por conta das questões renais, pois gato não gosta muito de beber água) é de R$ 700, em média. O valor não inclui ida ao veterinário.

Rede de descanso para os gatinhos resgatados por Rafael Perrone (Arquivo pessoal)

Professor de educação física, empresário e estudante de Nutrição, Rafael orienta quem ingressou agora ou pretende entrar no maravilhoso mundo felino: “Tenha bastante paciência no início, para cumprir as etapas da adaptação, que é o mais complexo”. Mas, será que vale a pena tanto investimento emocional e financeiro? “Com certeza, vai fazer um bem muito grande pra alma. Sem contar que a pessoa vai colaborar com o resgate desses animais das ruas. Em Salvador, são cerca de 300 mil gatos e cachorros abandonados, sem nenhum tipo de suporte”. 

“Ao adotar, o tutor acha que está fazendo um gesto nobre, mas a verdade é que ele está recebendo um gesto nobre, grandes doses de amor e de carinho”

ARTIGOS NECESSÁRIOS: 

  • Arranhador
  • Comedouro
  • Bebedouro
  • Caixa de areia sanitária
  • Prateleiras
  • Circuitos
  • Brinquedos
  • Caixas de papelão
  • Ração
  • Escovas para pelos
  • Telas para janelas e ambientes abertos
Tela de proteção por toda casa para gatinhos fujões e para evitar quedas (Rafael Perrone/ Arquivo pessoal)

Prateleiras, arranhadores e comedouros por todos os cantos para os gatinhos (Rafael Perrone/ Arquivo pessoal)

Caixas de areias para o cocô e o xixi (Rafael Perrone/ Arquivo pessoal)

MITOS E VERDADES

A médica veterinária Maiana Martins Pimenta Miranda, da Felina Clínica para Gatos, esclarece dúvidas sobre os bichanos: 

✔️Gatos são independentes

Mito. Gatos gostam muito de companhia, tanto de outros pets, quanto de humanos, a diferença é que eles precisam ter seu espaço e individualidade respeitados. Inclusive, eles também podem sofrer de ansiedade de separação e não devem ser deixados sozinhos por muitas horas, como muitas pessoas imaginam.

✔️Gatos não tomam banho 

Verdade, em partes. Gatos são muito eficientes em auto higiene, não precisam de banhos periódicos, escovação de pelos é muito bem-vinda. Alguns que estão em tratamentos específicos, precisam de banho, mas com prescrição.

✔️Gatos causam alergia 

Algumas pessoas podem sim ser alérgicas a um componente na saliva dos gatos, mas isso não é muito comum. O que observamos é que muitos pacientes podem ter alguns ectoparasitas (ácaros) e os tutores podem ter alergia, mas isso é passível de tratamento tópico no gatinho. 

✔️Gatos “roubam” a energia da casa 

Existe essa questão com os gatos absorverem a energia da casa ou dos tutores, não sei até que ponto isso é uma verdade, o fato é que muitas vezes quando os tutores estão passando por momentos difíceis, percebemos alguns pacientes adoecendo ou apresentando alterações de comportamento. Acredito que venha dessa sensibilidade deles, a crença de que ‘’roubam’’ ou “absorvem’’ as energias ruins.

✔️Gatos são pouco sociáveis 

Mito. Gatos são super sociáveis, o que eles têm de particular é o tipo de comportamento, bem diferente do cão e os tutores que tiveram mais contato com cachorros, por vezes, tem um pouco de dificuldade de entender essas diferenças. Gatos gostam de estar perto dos humanos, de colo e carinho, são muito companheiros, mas por ser mais reservados e precisarem de espaço de vez em quando, são mal interpretados. Respeitando o tempo e espaço deles e entendendo as questões comportamentais da espécie, com certeza se ganha um excelente companheiro. 

“Gatos também podem sofrer de ansiedade de separação e não devem ser deixados sozinhos por muitas horas, como muitas pessoas imaginam”

“O gato é o único animal que conseguiu domesticar o homem”, disse o antropólogo e sociólogo francês Marcel Mauss (1872-1950)

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