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Acusados de matar PM atropelado durante racha em GO vão a júri popular

A família do cabo da Polícia Militar do Estado de Goiás (PMGO) Luciano Alves Rabelo, morto aos 35 anos de idade, espera há mais de 12 anos por uma justiça que nunca veio, desde que o militar foi morto em setembro de 2012, época de eleições municipais. Ele foi atropelado em serviço por um carro em alta velocidade que disputava um racha na GO-346, no Entorno do Distrito Federal.

Agora, mais de uma década depois – após anos de brigas na Justiça para que a morte do PM não fosse julgada apenas como uma morte acidental de trânsito – o caso pode finalmente ter o desfecho esperado pela família, no júri popular, previsto para novembro deste ano.

Luciano deixou uma esposa, dois filhos – um menino e uma menina, à época com 7 e 2 anos, respectivamente–, familiares e diversos amigos na cidade de Formosa (GO), onde viveu por mais de 10 anos. Elaine Freitas Silva, 46, viúva de Luciano, lembra que o militar, que dividia a farda com a faculdade de direito, era um bom pai e marido, uma pessoa alegre, querido por todos na cidade e um policial militar de bom coração.

“Todo mundo gostava dele. Ele era um ótimo ser humano e não sabia tratar mal as pessoas. E ele tinha muitos sonhos de um futuro. E tudo isso foi tirado da gente. Minha filha passou um ano inteiro olhando para a janela e esperando ele voltar. Ela chorava toda vez que ouvia a sirene de uma viatura”, lamenta Elaine.

A decisão pelo júri popular só foi conquistada em 2023, em pedido feito ao Tribunal de Justiça do Estado do Goiás (TJGO). A defesa dos acusados, no entanto, recorreu e anulou a decisão em 2ª Instância. A decisão, por fim, foi restaurada após apelação apresentada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Responsáveis pela acusação no processo, os advogados Bruno Christy A. Freitas e Ailton Rodrigues de Oliveira estão otimistas. “A perda irreparável de Luciano, seu sacrifício e sua dedicação devem ser honrados com a verdade e a justiça. Iremos buscar a devida reparação no Tribunal do Júri, confiando que os culpados responderão pelos seus atos”, afirmaram em nota.

Elaine, inclusive, acredita que há anos os acusados teriam se aproveitado de conexões políticas para adiar o julgamento e impedir que o caso chegasse ao Tribunal de Júri. “Eles sabiam que se o caso fosse para o júri, eles seriam condenados. Porque o Luciano era muito querido e muito respeitado na cidade, e eles tinham medo disso”, avaliou.

“O que eu espero é que tudo que a nossa família vêm sofrendo, a falta dos pais dos meus filhos, não seja em vão. Que as pessoas responsáveis finalmente paguem por isso. Eu espero que as pessoas da sociedade [que irão possivelmente integrar o júri popular] entendam que ali existia uma vida, um futuro, um esposo pai de família, um trabalhador que morreu em serviço”, completa.

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Luciano, 35, e o filho, 7

Luciano, 35, e Elaine, 34, no aniversário de 2 anos da filha
Luciano era querido entre os filhos de policiais militares
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Luciano tinha planos para se formar em direito e assumir uma profissão mais tranquila

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Luciano, 35, e o filho, 7

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Luciano, 35, e Elaine, 34, no aniversário de 2 anos da filha

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Luciano era querido entre os filhos de policiais militares

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“Ele era um bom marido, um bom pai e uma boa pessoa”

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“Minha filha nunca vai conseguir conhecer o pai”

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Luciano morreu no dia 29 de setembro, atropelado durante serviço

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Luciano e família moravam em Formosa, município do Entorno do Distrito Federal

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Luciano, 35, e a filha, 2

Atropelamento em racha

Segundo o processo, era por volta das 18h do dia 29 de setembro de 2012 quando os autores Quirino Ferreira Neto e Dhiego Bruno de Jesus saíam de uma carreata de um então candidato a prefeito para Cabeceiras (GO) e decidiram seguir em seus carros para o povoado de Lagoa (GO).

Por volta do mesmo horário, uma viatura do Grupo de Patrulhamento Tático do 16º Batalhão da Polícia Militar do Estado de Goiás (GPT/PMGO) se deslocou de Formosa (GO) para Cabeceiras, para dar apoio ao policiamento do município em razão dos eventos políticos que aconteciam na data.

Informados de um grande fluxo de pessoas se dirigindo para o povoado de Lagoa, os policiais se foram ao km 42 da rodovia GO 346, onde encontraram um veículo suspeito parado às margens da via. Os militares estacionaram a viatura no sentido contrário e o cabo Luciano Alves Rabelo, 35, saiu do veículo tático para dar início ao procedimento da abordagem.

Durante a travessia da pista, Luciano foi atropelado pelo Volkswagen Parati conduzida em alta velocidade por Quirino, que arremessou a vítima a 100 metros de distância. O Volkswagen Golf conduzido por Dhiego, também em alta velocidade, veio logo atrás. Ambos os motoristas seguiram viagem sem parar ou prestar socorro.

Quirino teria seguido sentido Lagoa até um local ermo, onde abandonou o veículo. Enquanto isso, Dhiego se dirigiu ao hospital de Cabeceiras, para ter notícias sobre o estado de saúde da vítima de atropelamento.

Por volta das 23h, a Parati de Quirino foi encontrada em frente à casa do irmão de Quirino, na entrada do povoado de Lagoa, onde estavam o irmão do autor e o tio de Dhiego, vereador de Cabeceiras à época. Ao observar a chegada da PMGO, o dono do imóvel teria ido ao carro para retirar vários itens, como documentos pessoais e um cheque de Quirino.

Além disso, segundo a investigação da corporação goiana, o veículo estava “todo depenado”, tendo sido removidas as rodas esportivas e equipamentos de som que anteriormente estavam equipadas no veículo. Ainda segundo testemunhas ouvidas no processo, boatos diziam que foram retiradas latas de cerveja do carro.

Ao longo das cinco horas que se seguiram após o ocorrido, registros telefônicos dos acusados mostraram que os suspeitos comunicaram-se pelo telefone pelo menos 11 vezes. As ligações revelaram inclusive que, no momento do acidente, os acusados encontravam-se nas proximidades da GO-346.

Quirino também teria entrado em contato com o pai, que teria o levado para a casa de um tio, onde passou de dois a três dias até se apresentar na Delegacia de Formosa.

Outro lado

Ao longo do processo, Quirino assumiu que teria cometido o delito de atropelamento, no entanto, diz que acreditava ter atropelado um motociclista após ter sido cegado pelo farol da suposta moto. Acrescentou ainda que não parou o veículo pois teria medo da polícia. Quirino diversas vezes alegou também que não viu em nenhum momento o policial militar, e que a viatura do GTP/PMGO estaria com as sirenes e sinais luminosos desligados no momento do atropelamento.

Dhiego, por sua vez, alegou que não estava presente na via no momento do acidente e que a ideia de disputar um racha contra Quirino era “sem sentindo, vez que o carro de Quirino é uma Parati antiga e que não teria força para uma corrida com o Golf, mais novo e de motor mais potente”. O segundo autor também justificou as idas ao hospital como apenas “curiosidade”, sendo esse um costume dos habitantes da cidade em ocasião de um acidente.

Por fim, ambos os autores alegaram que as várias ligações se justificariam pois o sinal da região seria instável, ocasionando na queda das ligações após alguns minutos de chamadas, e que Quirino teria ligado para Dhiego pois este seria mecânico e já teria realizado serviços na Parati envolvida no acidente.

Metrópoles procurou a defesa dos acusados para pronunciamentos. A defesa de Quirino Ferreira Neto não quis comentar sobre o caso. Já a defesa de Dhiego não enviou resposta até a última atualização desta reportagem. Em caso de possíveis manifestações, o texto será atualizado.

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