O poeta e filósofo Antonio Cicero, que teve a morte confirmada nesta quarta-feira (23), deixou uma carta para explicar a decisão dele em optar pela eutanásia.
Diagnosticado com Alzheimer, o membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) viajou para a Suíça, onde é autorizado a morte assistida. Na carta, o irmão de Marina Lima afirmou que já estava com o esquecimento devido a doença e não se lembrava mais de pessoas que ele tinha convivido.
“Queridos amigos, encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.”
Responsável por grandes clássicos da música brasileira, Cicero lamentou o fato de não conseguir fazer o que o tornou conhecido no Brasil, poemas e ensaios de filosofia.
“Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo. Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.”
Na despedida, o filósofo, que sempre foi ateu, disse ter escolhido morrer com dignidade. “A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los. Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo. Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade. Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!.”