Para a deputada estadual de São Paulo, o senador eleito do PL tem perfil liberal para questões econômicas e, se comandar o Congresso, impedirá revisão das reformas trabalhista e previdenciária
Divulgação/Alesp
Deputada estadual de São Paulo Janaina Paschoal é expoente da direita e do conservadorismo nas pautas de costumes no Estado; ela tentou se eleger senadora em 2022, mas não conseguiu
A deputada estadual de São Paulo Janaina Paschoal (PRTB), expoente da direita e do conservadorismo nas pautas de costumes no Estado, concedeu entrevista ao vivo para o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, nesta quarta-feira, 1º de fevereiro, para falar sobre as posses dos parlamentares federais e as eleições para presidências do Congresso Nacional. Para ela, que também é professora de direito e concorreu a uma vaga de senadora em 2022, sem conseguir se eleger, uma eventual eleição de Rogério Marinho (PL-RN) para comandar o Senado deverá representar ganhos para a direita brasileira, na medida em que ele deverá “barrar arroubos esquerdistas”, salvaguardando as reformas tributária e trabalhista. Entretanto, a deputada não acredita que seja parte do perfil de Marinho defender pautas conservadoras de costumes caras aos bolsonaristas, nem em relação a questões sociais, nem em relação à abertura de processos de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Tenho quase certeza que não [abrirá processos de impeachment]. Não é o perfil dele. A eleição do Marinho pode nos garantir a manutenção das reformas trabalhista e da Previdência. Acredito firmemente que, ele sendo eleito, poderá proteger essas conquistas que têm a ver com a área econômica e financeira, que é a área dele. Ele foi deputado muitas vezes, foi ministro e funcionário em pastas referentes a esses temas. Não estou desmerecendo a importância de uma possível vitória dele, não é isso. Mas, nessas áreas que têm mais a ver com as críticas que os bolsonaristas fazem às decisões excessivas do STF e de ministros de forma singular, ou mesmo em relação a pautas de costumes ou conservadoras, eu não vejo nenhuma chance do senador Marinho se comprometer ou entrar em quebra de braço ou se expor para defendê-las. Acho pouquíssimo provável que ele receba um pedido de impeachment contra ministro do STF, nos moldes da expectativa do pessoal que o está apoiando. O povo está muito iludido”, declarou Janaina Paschoal.
Para a deputada estadual, a ilusão de que fala trata-se de um jogo de retórica política. Ela exemplifica que situações semelhantes já ocorreram no passado recentemente, como quando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apoiou o então presidente do senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na sua eleição para o comando da Casa. “Com todo respeito, eu vejo um pouco de ficção nesses embates todos. Se nós olharmos para o passado recente, quando, por exemplo, da eleição do senador Alcolumbre, muito se falou da renovação que ele traria, que mostraria uma força jovem contra Renan [Calheiros]. Bons quadros se retiraram, inclusive a hoje ministra Simone Tebet, o falecido e saudoso major Olímpio, em prol do Alcolumbre e deu no que deu. O presidente Bolsonaro apoiou o Alcolumbre, apoiou o [Rodrigo] Pacheco, apoiou o [Rodrigo] Maia. E, já na época dessas eleições, eu adverti, disse ‘olha, isso não tem nada a ver com os pautas que o elegeram’. Mas as pessoas me atacaram e, dois meses depois, reconheceram, sem dizer que eu tinha razão. O senador [Rogério] Marinho tem uma pauta liberal de economia. Acredito que será fiel a essa pauta. Talvez possa barrar arroubos esquerdistas, por exemplo, de revisão da reforma previdenciária e da reforma trabalhista. Isso é uma questão bem objetiva. Mas em termos de ser mais conservador… Eu vejo um pouco de ilusão. Porque o Bolsonaro apoiou o Pacheco há bem pouco tempo. É mais uma queda de braço na qual as pessoas se iludem que tem uma grande diferença. Eu vejo como uma novidade na disputa do Senado o nome do senador [Eduardo] Girão, porque ele se comprovou ao longo dos últimos quatro anos uma pessoa efetivamente independente, um defensor da vida, das liberdades individuais, de que o Supremo Tribunal Federal funcione nas suas limitações constitucionais, por outro lado jamais foi agressivo ou desrespeitoso com os ministros do STF ou qualquer outro Poder. Na minha leitura, ele seria uma verdadeira renovação”, argumentou.
Além de defender a candidatura de Eduardo Girão (Pode-CE), Janaina também citou a entrada de Marcel Van Hattem (Novo-RS) na disputa pela presidência da Câmara como a que apoiaria: “Com relação à Câmara dos Deputados, sem querer desrespeitar o deputado [Arthur] Lira, eu mesma disse que essa tal direita que o pessoal disse que estava elegendo rapidamente faria combo com o Lula. Então, eu não vejo muita mudança, até porque é uma continuidade. A mudança na Câmara seria eleger o Marcel Van Hattem. Aí, sim, nós teríamos alguém com perfil efetivamente liberal, apoiador de medidas de depuração, em termos de moralidade. As pessoas estão iludidas nessa disputa. Falo isso com respeito, mas eu tenho que dizer, já que vocês me perguntaram”, disse.
Questionada ainda sobre lições do dia 8 de janeiro, quando atos de vandalismo foram registrados na Praça dos Três Poderes, em Brasília, Janaina Paschoal disse ver o caso como “falta de inteligência”, por ter fortalecido o governo Lula e a esquerda. “Eu espero que as pessoas tenham aprendido um pouco a ouvir quem avisa. Eu perdi a conta do número de vezes que eu subi na tribuna quando eu via essas pessoas em frente aos quarteis, pedindo pelo amor de Deus para elas voltarem para suas casas, porque o que elas pediam nas portas dos quarteis não tinha e não tem nenhuma possibilidade jurídica. Não tinha e não tem. Eu alertei que, pela movimentação, pelas reuniões que vinham sendo feitas entre procuradores de Justiça, procuradores da República, ministros, que iam começar a tomar medidas, inclusive penais. E passaram na catraca. Mas eu alertei. Além de não voltarem para suas casas, muitos ainda foram para Brasília naquela atitude de uma falta de inteligência histórica. E, hoje, nós temos pessoas que não são criminosas no sentido clássico do termo, mas que estão presas porque insistiram em algo que sabidamente não era possível. Eu tenho várias críticas a essas prisões decretadas de forma coletiva. Eu li várias manifestações, as que foram tornadas públicas. Juridicamente, eu poderia falar por duas horas, trazendo vários questionamentos do ponto de vista processual e penal, mas agora a verdade é uma só: 8 de janeiro foi o auge da falta de inteligência do bolsonarismo, porque só fortaleceu a esquerda que está no poder“, finalizou.