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As falas de Lula (por André Gustavo Stumpf)

As falas do presidente Lula sobre política externa costumam provocar alguma controvérsia. Aparentemente, o chefe do governo não dá muita atenção ao tumulto a seu redor e segue didatizando sobre temas de seu interesse. Ele conseguiu se indispor com a maioria dos países europeus quando disse que a guerra da Ucrânia é resultado da ação dos dois lados. Não percebeu que o país foi invadido por tropas russas. É verdade que o comércio brasileiro com Moscou cresceu muito depois do início daquela guerra especialmente na área de petróleo e gás. Diplomatas sabem lubrificar uma conversa para contornar as circunstâncias sem ferir qualquer dos lados.

Vai longe o tempo em que ele era líder sindical e tinha o poder de inventar números sobre a economia brasileira para seduzir estrangeiros e nacionais. Hoje a fórmula está cansada e não mais gera o efeito anterior. Lula III é um personagem experimentado no cargo, mas sem o poder de hipnotizar as multidões. Seu partido envelheceu, como aliás ele próprio admite, e não mais consegue ser a vanguarda do pensamento renovador da esquerda. Estacionou em algum momento dos anos setenta, permanece na guerra fria e não percebe os avanços da era pós-moderna com suas notáveis descobertas na tecnologia digital.

A desavença com o governo de Israel vem da comparação dos atuais métodos empregados na guerra contra o grupo Hamas, enclausurado numa área definida na faixa de Gaza, que escorre ao longo de trecho do Mediterrâneo. Ele lembrou os nazistas e citou nominalmente Hitler. Um exagero. Mais fácil lembrar do Gueto de Varsóvia, que colocou os judeus poloneses em situação semelhante à dos muçulmanos em Gaza, hoje. O Gueto de Varsóvia foi estabelecido pela Alemanha Nazista na Polônia durante a Segunda Guerra Mundial, uma área cercada por muro alto dentro da cidade. Nos três anos da sua existência, fome, doenças e deportações para campos de extermínio reduziram a população estimada de 380 000 para 90 000 habitantes.

O Gueto de Varsóvia foi o palco de uma famosa revolta, a primeira insurreição contra a ocupação nazista na Europa. Eles se organizaram em grupos de defesa. Elas eram a ZOB (Żydowska Organizacja Bojowa, Organização de Luta Judaica), liderada por Mordechai Anielewicz. Outra organização foi a ZZW (Żydowski Związek Walki, União dos combatentes judeus). O seu armamento consistia em pistolas, bombas caseiras e coquetéis molotov. O ZZW era o grupo mais armado, graças a seus contatos com a resistência polonesa. Foram massacrados. Alguns judeus preferiram fugir através do sistema de esgotos e águas pluviais de Varsóvia. A maioria foi presa e encaminhada aos campos de concentração, de onde ninguém saiu com vida.

Outra mania de Lula quando de suas peregrinações pela África é dizer que o Brasil precisa resgatar a dívida que tem com os países africanos. Ninguém reclama, nem protesta, porque a afirmação cai no vazio. Não prejudica, nem modifica a relação dos africanos com o Brasil. A verdade é que o Brasil não tem nenhuma dívida com os africanos. Quem iniciou o processo de escravidão foram os portugueses no século 16. Eles começaram a trazer africanos para o Brasil porque não tinham mão de obra suficiente para colonizar a colônia enorme que lhes coube pelo Tratado de Tordesilhas.

Os espanhóis também trouxeram negros para trabalhos nas suas colônias americanas. Franceses levaram negros para o Haiti e para a Lousiana. Os ingleses importaram africanos para suas colônias na América do Norte e na América Central. As enormes plantações de algodão no sul dos Estados Unidos foram cultivadas e mantidas por negros trazidos, à força, da África. A questão da escravidão aparece em todo o processo de desenvolvimento dos Estados Unidos.

Desde o início, eles não sabiam como conviver com o negro escravizado. Formalmente, a escravidão foi revogada por Abraham Lincoln no final da guerra da secessão. Apesar disto, esta prática continuou de várias maneiras no sul do país até os anos sessenta no século passado. Os povos americanos são resultantes da presença de negros africanos, brancos europeus e povos originários. Todos são vítimas do mesmo processo colonizador.

A diferença está em que os católicos exigiam apenas que os negros fossem batizados para serem consideradas pessoas de Deus. Os protestantes os obrigavam a ler a Bíblia. Isto implicou na construção de escolas. Eles aprenderam bem, tanto que começaram a cantar músicas, conhecidas com spirituals, com temas religiosos. Um dos discos mais importantes de Louis Armstrong, famoso cantor negro de jazz e trompetista magistral, crescido em New Orleans, tem o título de The Good Book, o bom livro. Em outras palavras, a Bíblia. Aliás, a Igreja sabia de tudo que acontecia nas Américas.

André Gustavo Stumpf, jornalista ([email protected])

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