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As Máquinas de Hostilidade

Os livros de Medicina do começo do século passado tinham capítulos sobre o Infarto do Miocárdio que eram quase notas de rodapé. Muito pouco se sabia, menos ainda se estudava sobre o assunto. A industrialização da alimentação e as mudanças de dietas e de estressores fizeram as doenças vasculares, como os Infartos do Miocárdio e os AVCs cada vez mais proeminentes nas estatísticas de morte. Os capítulos sobre eles foram substituídos por tratados e estudos bilionários para evitar a perda de vidas para essas doenças. A partir dos anos setenta, intensificou-se o estudo de características psicológicas que estariam associadas a esse tipo de doença. Na época foi proposta uma classificação de tipos psicológicos: os tipos A, B e C. Os tipos A tinham e tem até hoje uma correlação clara com doenças cardíacas: caras estressados, apressados, ambiciosos, explosivos e briguentos, com um perfeccionismo e uma combatividade a serviço da vontade de ganhar dinheiro e poder. Os tipos C, ao contrário, seriam pessoas mais recolhidas, muitas vezes frustradas e passivo agressivas, que não tinham objetivos claros para a sua vida e muitas vezes retardavam a solução de problemas fazendo corpo mole ou fugindo das responsabilidades. Os tipos C tendem a culpar os outros e a sociedade pelos seus problemas e têm dificuldade de assumir o protagonismo de sua vida e projetos. Havia um CEO de uma grande multinacional americana que promovia anualmente uma demissão de dez por cento da força de trabalho, tentando tirar os tipos C da empresa. Ele mesmo teve uns cinco infartos, então não é difícil presumir sua tipologia. Mas aí o leitor pode me perguntar: e os tipos B? Os tipo B, se tudo der certo, são a maioria: trabalham em equipe, têm ambição mas não pisam no pescoço de ninguém por isso, têm altos e baixos de motivação, mas mantém a entrega e a regularidade no trabalho. Mas não exageram em suas ambições nem têm pressa para esmagar adversários. Estamos vivendo num mundo em que os tipos B, que tentam um equilíbrio entre o fogo excessivo dos tipos A com o gelo glacial dos tipos C, estão entrando em extinção. Vemos os gurus motivacionais e os influencers gritando sobre motivação, constância, produtividade. Todo mundo deve se converter a tipo A. E um dos traços do tipo A está bombando nas redes sociais e mídias: a hostilidade. Os algoritmos organizam a sociedade do “nós contra eles”. Hostilidade faz mal à saúde: aumenta a pressão arterial, o açúcar do sangue, o consumo de álcool e prejudica a resposta imune. Numa sociedade inflamatória como a nossa, o ódio alimenta a fornalha do medo e da doença. Existe uma meditação que muito gosto, chamada Loving Kindness, em que uma parte dela consiste em mandar compaixão e bons votos para uma pessoa que tenha feito a gente sofrer. Não é fácil de fazer, mas dá um alívio sutil em nossos sistemas de hostilidade. Tem um monge que muito admiro, falecido recentemente, chamado Thich Nhat Hanh que ensinava: a compaixão é nossa única defesa. Cada vez mais posso constatar como ele estava certo. Compaixão aumenta os tipos B, equilibrando o Yang dos tipos A e o Yin dos tipos C. Amar o próximo como a si mesmo significa viver a compaixão por mim e pelo Outro. Isso faz bem à saúde e ao planeta. Marco Antonio Spinelli é médico, com mestrado em psiquiatria e autor do livro Stress – o coelho de Alice tem sempre muita pressa

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