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Baiano que queria ser arquiteto virou cineasta e está em Cannes (de novo!)

Como quase todo adolescente, o baiano Eduardo Tosta, hoje com 24 anos, teve uma escolha profissional repleta de sinuosidades e insegurança. Apaixonado por cinema, ele se encantava com os cenários dos filmes e com aquilo que os cenários comunicavam sobre os personagens. Mas não acreditava que fazer cinema fosse algo tão próximo da sua realidade. Na dúvida, resolveu tentar uma vaga no curso de arquitetura na Ufba em 2017.

Não foi aprovado em arquitetura, mas conseguiu uma vaga no bacharelado em artes, que era sua segunda opção. Foi se interessando pelo curso, estudou matérias relacionadas a artes, conheceu colegas que atuavam no audiovisual e, quando se deu conta, já estava imerso em produções cinematográficas, fosse como assistente de direção, roteirista ou qualquer outra função.

A carreira quase acidental de cineasta acabou revelando um promissor talento: pela segunda vez, Eduardo está no prestigiado festival de Cannes, com um curta-metragem no segmento Short Film Corner – SFC, que reúne produções de diversos países. Há dois anos, foi selecionada a animação Maratonista de Quarentena, codirigida por Karol Azevedo. Agora, é a vez de Eduardo levar o terror psicológico Camaleoa ao território francês. 

Embora não se trate de uma mostra competitiva, a SFC é um espaço importante para fazer contatos com o mercado cinematográfico e para apresentar projetos a possíveis interessados. E, se em 2021, a exibição do filme de Eduardo foi virtual, desta vez é presencial. A sessão será nesta quarta-feira (24), às 19h30 local, horário considerado nobre pelo diretor.

Eduardo estará na sessão junto com a protagonista do curta, Isadora Mesquita, que interpreta Salma. No filme, a personagem está prestes a completar 22 anos e enfrenta o desafio de se mudar de casa. Em meio ao processo de adaptação ao novo lar, a vida da jovem é tomada por uma aparição bizarra. 

Isadora Mesquita em Camaleoa

Terror com uma pitada de paranormalidade, Camaleoa, segundo Eduardo, tem o elemento da mudança – seja emocional ou física – como peça-chave.

“Eu, por exemplo, como homem gay, vivi um momento chave, que foi ao ‘sair do armário'”, revela o diretor, que estava em Cannes enquanto falava com o CORREIO.

Assim como o curta anterior, Camaleoa começou a ser gestado durante a pandemia e os dois estão relacionados à quarentena, embora apenas o primeiro tenha relação direta com o período de isolamento. “A ideia de Camaleoa era pensar como seria quando a gente saísse da quarentena, como seria o esperado dia do fim do isolamento. Esse dia, que seria uma novidade, não chegou, porque o fim da pandemia foi gradual. Mas o filme fala sobre o medo do novo em nossa vida”.

Produtora
O novo curta acabou dando nome também à produtora que Eduardo criou, a Camaleoa Filmes, que já tem alguns projetos futuros. Um deles é o longa-metragem O Problema da Lua, também de terror psicológico e que começou a ser escrito em 2019. “É um ‘horror queer’ sobre um menino que começa a acreditar que está virando lobisomem e, para que não se transforme definitivamente em lobisomem, quer destruir a lua”, resume.

Entusiasta do gênero, Eduardo sai em defesa do terror psicológico: “Muitas vezes, ele é mal visto, no sentido de não acrescentar nada. Mas o terror tem muito a nos oferecer. Fala sobre nossos medos, sobre mudanças sociais e políticas”, argumenta.

Para ampliar a rede contatos, Eduardo participa em Cannes de workshops e reuniões com profissionais. Mas diz que as melhores conversas surgem em momentos informais, no café da manhã ou nas festas que reúnem as pessoas.

“É um ótimo momento para divulgar suas ideias, seus projetos e fazer contatos”.

O jovem diretor chegou à França no dia 12 deste mês e fica até o dia 26. Embora convidado, com acesso a diversas áreas do festival, foi ele que arcou com as despesas de deslocamento e hospedagem.

Além de diretor e produtor, Eduardo é contratado do Neojiba, onde realiza vídeos para o projeto. Ele também atua como freelancer, fazendo direção, roteiro e montagem para projetos pontuais em que é contratado. Enquanto Camaleoa não chega aos cinemas ou à internet, o talento de Eduardo pode ser visto no YouTube, na série documental Queerbrada, que fala sobre artistas LGBTQIA+. Na mesma plataforma, está a série de animação As Aventuras de Fiu e Biu: Dentro de Casa. No Vimeo, está Maratonista de Quarentena, que o levou a Cannes pela primeira vez.

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