Um BK mais maduro e com vontade de dominar o mundo. Assim o rapper define o seu próprio momento, após Ícarus, seu quarto disco de estúdio, lançado em novembro do ano passado com uma estratégia de realidade aumentada e inteligência artificial no Museu de Arte do Rio de Janeiro – sua terra natal. Ele colocou Salvador no roteiro da turnê e se apresenta na capital baiana neste sábado (8), em evento que também conta com apresentações de Vandal e Yan Cloud, no Trapiche Barnabé.
Em entrevista para o CORREIO, BK contou sobre a origem de seu nome, Abebe Bikila, sua relação com Salvador, revela alguns detalhes do show e também sobre o ótimo momento da carreira. Icarus, por exemplo, somou mais de 35 milhões de streamings nas plataformas de áudio no primeiro mês, e teve sete de suas faixas entre as 100 músicas virais no Spotify Brasil, sendo duas entre as dez primeiras posições.
CORREIO: A recepção ao seu disco tem sido muito boa. O que você sentiu de diferente na maneira como esse novo trabalho chegou em relação, por exemplo, a Castelos & Ruínas?
BK: Ícarus chega não só como um novo trabalho, mas também como uma obra que integra e complementa a minha discografia até aqui. Vivi e escrevi sobre diferentes momentos ao longo dos meus álbuns, mas todos eles têm em comum a pessoa segurando a caneta. Por mais diferentes que sejam, estão contando sobre a minha história. Assim como ícarus, na atual narrativa, mostra um BK’ mais maduro e com vontade de dominar o mundo, mas sem perder a conexão com o que me trouxe até aqui, sinto que isso se reflete com quem me acompanha. As narrativas das músicas chegam com outra intensidade, já passamos do labirinto, agora estamos celebrando aprender a voar com as nossas asas.
CORREIO: Você já conhece Salvador? Quais rappers daqui te chamam atenção?
BK: Conheço e amo essa cidade, queria muito levar o meu novo trabalho pra Salvador. Sei que tem uma galera que curte o meu som, tô muito feliz que vamos nos encontrar em breve! A cena musical da Bahia é muito rica, por isso, falar em nomes é até complicado, porque provavelmente vou esquecer de alguém que tá grandão, mas tem o Baco e selo 99, o Jovem Dex, que tá por aí a milhão, também tem Duquesa, Vandal e Ryu, the Runner.
(Foto: Divulgação) |
CORREIO: Como é o repertório dessa turnê e como foi o processo criativo dele? O show de Salvador terá participações?
BK: Montar repertório é sempre uma matemática complicada, porque vamos deixar a favorita de alguém fora, mas tentamos escolher as músicas que melhor se encaixam em cada momento do espetáculo pra trazer um pouco dos outros trabalhos pro universo de Ícarus. Sobre participações… só indo pra descobrir! O que posso garantir é que esse show é uma experiência, quero que o público vá aberto a tudo que vai acontecer no palco e se conecte com a história que tô apresentando.
CORREIO: Em Icarus, você fala não no mito do cara que chegou perto de mais do sol e caiu, mas sim do que criou as próprias asas para fugir de um labirinto, uma prisão. O que isso diz sobre ti e sobre o álbum?
BK: Todos nós vivemos em uma prisão invisível imposta pela sociedade, ainda mais quando se é um corpo negro e periférico. Somos obrigados a criar as nossas asas para fugir da realidade que bate na nossa porta e pela imagem que criam de nós. Eu, como um corpo preto, criei a minha narrativa com a música e consegui sair do labirinto através dela, mas muitos jovens só conseguem enxergar os muros, já que não é oferecido nenhuma ferramenta para que consigam sair dali.
A partir do momento que se sai do labirinto, você pode ficar cego pelas luzes brilhantes da cidade, depois de viver em extremos – perto do sol e da água-, se entende que é necessário seguir o meio termo entre eles. O mito de Ícaro permeia o disco nesse sentido, o início com o olhar das luzes sobre a cidade que cega o homem e termina com o amanhecer, na esperança de dias melhores.
(Foto: Divulgação) |
CORREIO: Qual a origem de seu nome?
BK: Minha mãe é professora e sempre foi uma ativista das causas raciais, o meu nome é uma homenagem ao maratonista etíope Abebe Bikila, primeiro homem a vencer duas Olimpíadas [nota da edição: Roma-1960 e Tóquio-1964], sendo que uma delas descalço.