Em um dos trechos, ex-presidente diz que iriam “esperar chegar” 2023 e 2024 “para se foder” e lamentariam não ter tomado “providências” sobre a vitória de Lula
Segundo a gravação encontrada pela PF, a reunião de Bolsonaro teria sido realizada em 5 de julho de 2022 Reprodução/YouTube
PODER360 9.fev.2024 (sexta-feira) – 21h00
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) falou 5 palavrões em um intervalo de 37 segundos durante a sua reunião com ministros realizada no Palácio do Alvorada em 5 de julho de 2022. A gravação do encontro embasou a operação da PF (Polícia Federal) Tempus Veritatis, que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado.
“Nós vamos esperar chegar 23, 24 para se foder e vai se perguntar ‘por que eu não tomei providência lá atrás’, e não é providência de força não, caralho. Não é dar tiro, ô, Paulo Sérgio [Nogueira, ministro da Defesa em 2022], colocar tropa na rua, tocar fogo, aê, metralhar, não é isso, porra”, continua depois de um trecho inaudível.
O vídeo tem diversos palavrões ditos por Bolsonaro. O ex-presidente disse “porra” ao menos 15 vezes em pouco mais de 1 hora de reunião, por exemplo. “Puta que pariu” foi outra expressão usada pelo então chefe do Executivo Federal na reunião com ministros: foram ao menos 5 vezes.
“Porra, pessoal, presta atenção, eu vi um general do [inaudível] chorando na minha frente. Puta que pariu, puta que o pariu, será que ninguém sabe o que aconteceu na Bolívia? Por questões políticas, o Evo Morales fugiu de lá [inaudível]. Ficou longe da Argentina, fazendo campanha, né? A turma dele voltou [inaudível]. Lá tinha uma escala para subir, igual aqui, se eu morrer, assume o Mourão, se o Mourão morrer assume o Lira, se o Lira morrer, assume lá o Pacheco e foi na escala”, disse Bolsonaro em outro trecho.
Assista (1min2s):
Depois, ele pede para que todos os presentes no encontro repitam as informações ditas por ele na reunião. “Daqui para frente quero que todo ministro fale o que vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar, ele vai ter de falar para mim porque ele não quer falar”.
Segundo a PF, a reunião de Bolsonaro foi feita para cobrar ajuda de seus ministros e evitar uma eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.
O sigilo do vídeo em questão foi suspenso na 6ª feira (9.fev.2024) pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O material sustentou a operação da PF deflagrada na 5ª feira (8.fev.2024) contra Bolsonaro, integrantes de seu governo e aliados.
ENTENDA A OPERAÇÃO A PF (Polícia Federal) deflagrou na 5ª (8.fev) a operação Tempus Veritatis (“Tempo da verdade”, em latim), que teve 33 alvos de busca e apreensão e 4 de prisão preventiva. A operação mirou aliados de Bolsonaro, como ex-ministros e ex-assessores ligados a seu governo.
Dentre as provas encontradas pelo inquérito, está –segundo a PF– um rascunho de decreto que teria sido modificado por Bolsonaro. O documento pedia novas eleições e determinava as prisões de Moraes, o ministro Gilmar Mendes e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O ex-presidente teve de entregar o seu passaporte para a PF. Além dele, também foram alvos:
Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Ele foi preso em flagrante por porte ilegal de arma pelos agentes; general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional); Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; Walter Braga Netto (PL), ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa. Veja imagens dos principais alvos:
Sérgio Lima/ Poder360 –
O ex-presidente Jair Bolsonaro também foi um dos alvos; ele deve entregar seu passaporte à PF em até 24h
Sérgio Lima/Poder360 – 22.abr.2022
Walter Braga Netto, ex- ministro da Casa Civil, foi também candidato a vice-presidente de Jair Bolsonaro
Sérgio Lima/ Poder360 – 23.nov.2023
Valdemar Costa Neto, presidente do PL e ex-deputado federal; ele foi preso em flagrante por porte ilegal de arma durante operação da PF nesta 5ª
Sérgio Lima/Poder360 – 26.set.2023
General Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional)
Sérgio Lima/Poder360 08.ago.2023
Ex-ministro da Justiça Anderson Torres atuou no cargo durante o governo Jair Bolsonaro; ele era secretário de Segurança Pública do DF durante o 8 de Janeiro
Arthur Max/MRE
Filipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais da Presidência
Flickr
General Stevan Teófilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Coter (Comando de Operações Terrestres do Exército)
Marcos Corrêa/Planalto – 9.abr.2021
Almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha durante o governo Bolsonaro
Sérgio Lima/Poder360 28.jul.2022
O ex-ministro da Defesa de Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
reprodução
O ex-assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, preso nesta 5ª feira (9.fev) | Reprodução/LinkedIn Marcelo Câmara – 8.fev.2024 Veja imagens das buscas em Brasília registradas pelo repórter fotográfico do Poder360 Sérgio Lima:
Sérgio Lima/Poder360 – 8.fev.2024
Operação da Polícia Federal mirou ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados por suposta tentativa de golpe durante sua gestão; na foto, viaturas da PF na casa do general Augusto Heleno, um dos alvos da ação desta 5ª feira (8.fev) | Sérgio Lima/Poder360 – 8.fev.2024
Sérgio Lima/Poder360 – 8.fev.2024
Heleno chefiou o GSI durante o governo Bolsonaro; na imagem, agentes da PF na quadra em que o general mora, na Asa Norte, em Brasília
Sérgio Lima/Poder360 – 8.fev.2024
Em operação, polícias andam em direção ao apartamento do general Heleno
Sérgio Lima/Poder360 – 8.fev.2024
Buscas fazem parte da operação Tempos Veritatis (tempo da verdade) da PF
Sérgio Lima/Poder360 – 8.fev.2024
Carros da polícia estacionados em frente ao apartamento do general Augusto Heleno
Sérgio Lima/Poder360 – 8.fev.2024
PF chega à sede do PL, no Complexo Brasil 21; na foto, duas viaturas, 7 agentes e 6 malotes
Sérgio Lima/Poder360 – 8.fev.2024
PF em operação na sede do PL; presidente do partido é Valdemar Costa Neto, preso na operação nesta 5ª feira (8.fev)
Sérgio Lima/Poder360 – 8.fev.2024
Busca e apreensão na sede do PL; na foto, polícias na garagem do Complexo Brasil 21 Leia mais sobre a reunião de 5 de julho de 2022:
Bolsonaro pediu reação de ministros antes das eleições de 2022; Não ganharemos a guerra com papel e caneta, declarou Bolsonaro; Bolsonaro diz que foi uma “cagada do bem” chegar à Presidência.