A Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) divulgou, nesta quinta-feira (31/8), que o Brasil bateu recorde de doadores de órgãos no primeiro semestre de 2023.
O país chegou a 19 doadores por milhão de habitantes pela primeira vez, e a tendência é que os números de transplante de 2023 superem ou igualem os registrados em 2019, melhor ano da série histórica.
O objetivo da ABTO é que se chegue a 20 doadores por milhão de habitantes até o final do ano. Dos 4,2 mil transplantes realizados até agora no Brasil, foram feitas mais de mil operações de fígado e pouco mais de 200 de coração, melhores índices históricos para um primeiro semestre.
Porém, nem todos os dados são positivos. A quantidade de transplantes pulmonares segue preocupante desde 2020 — as taxas são três vezes menores do que o esperado. O número de transplantes de pâncreas acompanha um movimento mundial, e também segue caindo no Brasil (queda de 25% em relação 2019).
Transplante de pulmão segue a níveis três vezes menores que o esperado pelos especialistas “Quando o assunto é transplantes, só saímos agora da pandemia, mas ainda há situações perigosas, como a da região Norte. É curioso que Rondônia tenha a terceira melhor média de doadores por milhão de habitantes do país, mas não estão sendo realizadas operações por lá. Temos que melhorar essa capilaridade” explica o médico Valter Duro Garcia, editor do Registro Brasileiro de Tansplantes.
A recusa da família em doar os órgãos do paciente apto também aumentou, chegando a 49%, quando a série histórica era de 42%. “Precisamos voltar a humanizar mais o processo e saber receber e informar as famílias. As recusas, na maioria das vezes, ocorrem por falta de conhecimento do benefício gerado”, afirma a médica Luciana Haddad, vice-presidente da ABTO.
Fila grande de órgãos não é um problema No Brasil, 66,2 mil pessoas esperam por um transplante. Destes, 37 mil aguardam um rim, 25,9 mil precisam de uma córnea e 2,2 mil estão na fila por um fígado — estes são os únicos órgãos que superam mil pacientes na lista.
Durante a coletiva de imprensa que apresentou o relatório, os médicos também destacaram que zerar a fila não é o objetivo primordial. O mais importante é evitar a morte de pacientes que estão aguardando.
“Sempre haverá gente precisando de órgãos, mas precisamos garantir que todos tenham acesso ao tratamento. Temos que ter órgãos para transplantar em tempo hábil e, para isso, precisamos de mais doações”, defende a coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, Daniela Salomão.
Para o consultor da ABTO José Osmar Medina, no futuro, o cenário será ainda mais complicado: com o envelhecimento da população, a tendência é que mais pacientes precisem de órgãos. Por isso, é preciso incentivar a doação e a pesquisa de alternativas, como os xenotransplantes — feitos de órgãos de animais — e os autotransplantes — em que o órgão é tratado fora do corpo e devolvido ao organismo.
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