InícioEditorialBrigada resgata 68 cães usados por traficantes para atacar policiais  

Brigada resgata 68 cães usados por traficantes para atacar policiais  

De inimigos mortais a melhores amigos. Quem vê Marrom não diz que anteriormente o cão não podia sequer ver um homem fardado que avançava no pescoço, parte mais visada num ataque, ou no tronco, onde estão órgãos vitais. Isso porque traficantes de Salvador e região metropolitana adotaram uma nova tática: cães da raça pitbull estão sendo usados para atacar policiais e proteger casas usadas como bocas-de-fumo e como depósito de armamentos. Mas, neste abril laranja, mês de conscientização pela prevenção contra a crueldade animal, a notícia é positiva: a Brigada K9 já resgatou 68 cães nestas condições em três anos – a maioria pitbull.

A intenção dos traficantes é meramente usar o cão para ganhar tempo na fuga e tentar evitar confrontos com polícia nas comunidades. “Infelizmente, esses bandidos estão usando essa nova tática, colocando os cães onde escondem as drogas e as armas ou deixando os animais soltos nos becos e em avenidas como se fossem barricadas, assim conseguem ganhar tempo para sair da área. Quando se deparam com os cachorros, os policiais acionam e a gente faz a contenção dos bichos, já que matá-los é crime”, conta Emerson França, comandante da Brigada K9, instituição com bombeiros voluntários para resgate de animais. 

Em alguns casos, o cão é resultado do cruzamento do pitbull com outras raças, que são condicionados pelo tráfico de drogas, como foi o caso da cadela que levou pânico aos moradores do bairro do Calabar, após morder mulheres e crianças.  Segundo a Brigada K9, o antigo dono de Leoa era um homem de prenome Fábio, que foi preso no ano passado por manter a mulher e os filhos em cárcere privado no Calabar. Ele teria envolvimento com o tráfico. No final de janeiro, a cadela foi abandonada por um homem que estava numa bicicleta. De acordo com testemunhas, ele, aproveitando a movimentação local, a amarrou numa corda perto de um poste de iluminação e foi embora. No dia seguinte, o animal conseguiu se soltar e passou a revirar o lixo atrás de comida e a atacar mulheres e crianças. Foram necessárias mais de dez horas para a Brigada K9 concluir a complexa operação de resgate da cadela. 

Os bairros onde os animais já foram resgatados são: Engenho Velho de Brotas, Federação, Mussurunga, Canabrava, Itapuã, Massaranduba, além de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Os cães pitbulls são escolhidos pelos traficantes por serem cães extremamente fortes e ágeis: possuem estruturas óssea, muscular e mandíbulas bem desenvolvidas, além de muita força na mordida. “Normalmente, eles pegam um cão e põem para cruzar com outro da raça ou de outra raça e distribuem a cria nas comunidades. Esses filhotes crescem condicionados para avançar em homens de farda”, explica o comandante. 

Segundo ele, isso acontecesse nos locais mais cruciais das comunidades, onde outros profissionais que fazem uso de farda, como carteiros e trabalhadores de telefonia, evitam acessar, por causa do mesmo risco iminente à vida. “Nesses locais, só a polícia costuma entrar e essas animais acabam avançando. No ano passado, três PMs foram atacados por pitbulls em situações diferentes quando estavam ocorrências. Nós conseguimos fazer os resgates” relatou. De acordo com França, os antigos tutores estão presos ou morreram em confronto com a polícia ou com rivais, como foi o caso do dono de Marrom. Ele trocou tiros com a Polícia Militar há dois anos em Massaranduba.  

Marrom foi regatado após ex-dono ser morto pela polícia em confronto. (Foto: Bruno Wendel/CORREIO)

Mas os PMs não são os únicos alvos desses animais criados pelo tráfico. “Em uma outra situação, em 2019, o DPT (Departamento de Polícia Técnica) nos chamou para resgatar um pitbull que atacava quem se aproximasse da casa, onde o dono foi morto em confronto pela polícia na Federação. Os peritos não conseguiam trabalhar porque o cão estava decido morder quem se aproximasse”, diz o comandante.  

Apesar dos dados e relatos da Brigada K9, a Polícia Civil disse que não dispõe de levantamento sobre traficantes que usam cães para atacar policiais. Por sua vez, a Polícia Militar disse que não possui informações sobre o caso.

Entretanto, o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) tem conhecimento do problema e é um dos órgãos responsáveis pela doação da única viatura da Brigada K9, uma picape Ford Ranger. No despacho da decisão, a juíza Denise Vasconcelos Santos determinou em dezembro de 2017 que a picape fosse usada pela instituição para uso exclusivo para “a repressão ao tráfico, ficando responsável por sua conservação, conforme inteligência do artigo 61 da Lei de Tóxicos”.  O veículo tinha sido apreendido pela Polícia Federal (PF) em poder de traficantes. 

Cavalos
Além de pitbulls, cães das raças pastor alemão e rottweiler também são usados na tática dos traficantes. “Porque são animais tão fortes quanto o pitbull. Alguns que encontramos são vítimas de maus tratos, porque o dono abandona o animal, muitas vezes corrido da polícia ou dos rivais. A gente encontra muitos com feridas, magros e com a doença do carrapato. No ano passado, retiramos de um imóvel na Suburbana, dois pitbulls de uma casa que era na verdade uma boca-de-fumo, onde o dono fugiu devido uma invasão de outros criminosos”, relatou o comandante.
 
Mas os cães não são os únicos animais usados pelo tráfico. Animais de grande porte também. Em 2019, a Brigada resgatou oito cavalos usados para transportar entorpecente dentro do corpo. “Eles enrolavam a maconha em um plástico e introduziam no ânus do animal e usam um cordão para puxar a droga”, disse. A maioria dos casos aconteceu em Itapuã. “Lá as pessoas andam muito a cavalo, principalmente nos areais”, contou. Em 2020 foram oito situações semelhantes.   

Ressocialização 
Todos os cães agressivos que chegam à brigada passam por uma ressocialização. “Depois que ganhamos a confiança, a gente passa a estimular o contato deles com as pessoas. Tudo o que faziam de errado, atacar pessoas e outros animais, a gente começa a repreender com sinais e posteriormente passamos a inserir novos comandos em alemão, para impedir que o animal receba ordens de estranhos, principalmente traficantes. À medida que vão acertando, os cães são recompensados com afagos, brincadeiras e passeios diários”, explica o comandante. 

Cães passam por ressocialização e ficam à disposição para adoção (Foto: Bruno Wendel/CORREIO)  

Os comandos são passados através da cinotecnia, que é o conjunto de conhecimentos e técnicas relacionados à criação selecionada, manejo e treinamento de cães para tarefas específicas, como, por exemplo, cão policial e militar, cão de caça, cão de guarda e proteção, cão pastor. Após tornarem novos seres, esses cachorros já podem ser adotados.

 “Eles levam até três meses para mudarem de comportamento. Neste caso, a gente faz uma lista para adoção e os futuros tutores passam para uma entrevista aqui mesmo. Tudo isso para uma doação consciente, com garantia que não vai acontecer danos às pessoas e aos outros animais”, comenta. Na entrevista, vários pontos são analisados, entre eles se o candidato a tutor tem condições financeiras e espaço para criar os cachorros. Mas nem todos os animais conseguem a ressocialização tão rápido. Neste caso, é necessário um tempo mais logo para treiná-los. “Eles vão para um sítio e permanecem o período que for necessário”, completa. 

Custos
A Brigada K9 está localizada em São Joaquim e tem uma despesa mensal de R$ 45 mil. Isso custo inclui os alimentos e medicamentos para os animais, combustível para a viatura, luz, água, limpeza, manutenção dos equipamentos de resgate, alimentação dos bombeiros voluntários, entre outros gastos. Todo o dinheiro que entra é fruto de doações dos próprios bombeiros e da população. 

Para ajudar a Brigada K9:
Pix 09.204.565/0001-65
71 9 8844-5957
71 9 8846-8742

Você sabia que o Itamaraju Notícias está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.

Últimas notícias

Bolsonaro anuncia eventos em SP para arrecadar doações ao RS

Ex-presidente estará nos locais de coleta de donativos em 6 municípios paulistas a partir...

Polícia diz que advogada sumida estaria envolvida no próprio sequestro

A Polícia Civil do Rio de Janeiro levanta a hipótese de que Anic Almeida...

Mansão das novelas Alma Gêmea e A Viagem vai à venda por R$ 37 milhões

Você é fã de A Viagem e Alma Gêmea, da Globo? Então, essa é...

Mais para você