Um desfile que deu visibilidade e potência para a beleza da mulher negra, periférica, gorda e LGBTQIAP+ ocupou o Centro de Cultura da Câmara de Salvador na noite desta quarta-feira (30). O Concurso Miss Garota Plus Bahia levou modelos reais às passarelas e quem saiu premiada foi Daniela Borges, de 37 anos. “Vamos mostrar que nós somos capazes de tudo. Nada, nem ninguém, pode impedir nossos sonhos. Sempre seremos resistência”, disse.
O evento tem o objetivo de ultrapassar as barreiras do preconceito e dos estereótipos de beleza, para fortalecer o combate ao racismo e a gordofobia. Daniela saiu de lá com faixa de Miss Garota Pluss da Bahia, coroa e prêmios dos parceiros.
Daniela sendo coroada (Foto: Marinha Silva/CORREIO) |
A vencedora sempre teve o sonho de ser modelo, mas acabou sendo interrompido, sua família acreditava que era impossível. Depois que teve suas filhas, que hoje são modelos e trabalham no Editorial Nordeste, a mulher percebeu que poderia tirar o desejo muito antigo do fundo do baú e decidiu investir nessa parte da sua vida que já estava sendo esquecida.
“Comecei com o Desfile da Resistência, agora com o Garota Plus Bahia, meu sonho finalmente saiu do baú” contou a modelo. Segundo ela, o desfile serve para mostrar que a mulher negra, gorda e periférica pode ocupar qualquer espaço.
O evento contou com quatro performances: uma apresentação individual, em que as modelos interpretaram a música Evapora, da cantora Iza. Em seguida começou o desfile, vestidas com moda praia. Depois, desfilaram mais uma vez em traje de gala. Por último, todas se reuniram para a finalização, em que todas ficaram no palco para serem vistas uma última vez antes do anúncio do resultado.
Quem ganhou em terceiro lugar como Miss Garota Plus foi Laudicéia Santos, 37, que também sempre teve o sonho de ser modelo, mas admitiu que conseguiu dar o passo inicial porque queria ser uma referência para a sua filha. “Como mulher negra sempre passei por preconceito e minha filha também, então eu pensei: ‘eu posso melhorar isso’. Eu vou para a passarela para ela me ver lá e saber que ela também pode. Hoje eu estou aqui por causa dela”, destacou.
Larissa Almeida, Daniela Borges e Ludicéia Santos (Foto: Marina Silva/CORREIO) |
A premiação, como não poderia deixar de ser, foi emocionante, com muito choro e ansiedade por parte das modelos. A grande vencedora não parou de chorar nem mesmo quando saiu o resultado. Enquanto as premiações eram anunciadas, a música Dona de Mim, de Iza, que fala sobre empoderamento feminino, dava o tom da noite. “O evento vem para refletir sobre as mulheres gordas da Bahia e a verdadeira realidade. Minha ideia não é trabalhar moda, é trazer a representatividade para essas mulheres”, destacou o produtor do Garota Plus Bahia, Paulo Archanjo.
Uma das produtoras do desfile, Cláudia Portugal, que é responsável pelo projeto Toalhas para Todes, que faz roupões e toalhas maiores para mulheres gordas, ressaltou a importância do evento. “Foi muito difícil fazer o evento, as meninas passaram por muita dificuldade na vida. A gente resgata a autoestima delas e vontade de viver”, disse.
Katia Rocha, 46, que também fez a produção do evento, ressaltou a representatividade do desfile. “Nós gordas e negras somos muito discriminadas. A gente faz esse concurso para mostrar que podemos estar em qualquer lugar. Eu tive um câncer de mama e o movimento me acolheu, e tem muita gente que passou por coisa muito pior. Então um evento desse deixa as meninas vibrando, a felicidade é muito grande”, pontuou a mulher, emocionada.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo