Políticos e líderes alemães participaram neste sábado (21/12) de uma cerimônia em memória das vítimas do atentado em um mercado de Natal em Magdeburg, no leste da Alemanha, que matou cinco pessoas e feriu mais de 200.
O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e o governador do estado da Saxônia-Anhalt, Reiner Haseloff, estavam entre os presentes à solenidade realizada na catedral evangélica da cidade.
Familiares, equipes de resgate e uma multidão acompanharam a celebração dentro da igreja, e também na parte externa, por meio de transmissão ao vivo, sob frio e chuva. A cerimônia também foi transmitida por emissoras de TV por toda a Alemanha.
O memorial ocorreu ao mesmo tempo em que centenas de manifestantes entoavam slogans extremistas em outra parte do centro da cidade.
A prefeita de Magdeburg, Simone Borris, pediu à população que siga unida, apesar do choque. “Desejo a todos nós, como comunidade municipal, que não nos deixemos abalar”, disse. “Que apoiemos as vítimas e as famílias das vítimas em seu luto, e que a comunidade, por favor, fique unida.”
“O ataque brutal da noite passada nos deixa tristes e com raiva, desamparados e com medo, inseguros e desesperados, sem palavras, atordoados e profundamente afetados. Estamos aqui na catedral esta noite com sentimentos que não podem ser compreendidos”, discursou o bispo Gerhard Feige.
Feige frisou que os presentes estavam lá para oferecer apoio uns aos outros, e exortou o público a não “deixar que o ódio e a violência tenham a última palavra”.
Após a cerimônia, Scholz escreveu na rede social X que “toda a Alemanha está nessa hora escura ao lado das cidadãs e dos cidadãos de Magdeburg”.
Extrema direita protesta
Do lado de fora da catedral, a 800 metros dali, centenas de manifestantes da extrema direita alemã se reuniram para um protesto. Veículos alemães relataram episódios de hostilidade contra a imprensa, uma placa com o pedido de “remigração” – eufemismo da extrema direita para a deportação de estrangeiros – e gritos como “nós somos o povo” – slogan nacionalista – e “não queremos abrigos para asilados”.
O suspeito do crime é um médico saudita que vive na Alemanha em 2006 e, há oito anos, teve reconhecido seu status de asilado por, segundo ele, não poder voltar ao país de origem após abandonar a fé islâmica.
Ele foi preso minutos após cometer o atentado e será apresentado a um juiz de custódia, que decidirá se converterá a prisão em flagrante em preventiva.
Uma organização que oferece aconselhamento para prevenção de radicalismo e violência informou que houve um aumento visível neste sábado de ataques contra pessoas com “aparência estrangeira” em Magdeburg, informou o portal alemão Tagesschau.
Refugiados teriam relatado à ONG agressões físicas e ofensas e cusparadas. Uma pessoa teria sido espancada por outras quatro pessoas.
Críticas
Mais cedo, Scholz liderou um grupo de ministros pelas ruas de Magdeburg, que condenaram a violência e depositaram flores para prestar suas homenagens pelos mortos e feridos no ataque.
Mas a presença das autoridades gerou gritos de ordem de algumas pessoas que acompanhavam a homenagem, algumas criticando a “instrumentalização dos ataques” pelos políticos e outros pedindo para os presentes “sentarem à mesa” com o partido Alternativa para a Alemanha (AfD).
O ataque em Magdeburg acontece em meio a uma nova disputa eleitoral na Alemanha, cujas pesquisas indicam um provável avanço da sigla de ultradireita no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão).
Apesar de angariar cada vez mais adeptos à pauta anti-imigração, a AfD não tem encontrado espaço em coalizões governistas devido às suas pautas consideradas extremistas por muitos parlamentares.
A pauta da imigração, inclusive, tem sido central nas discussões políticas do país. O tema cresce cada vez mais desde 2015, quando a ex-chanceler federal alemã Angela Merkel instituiu uma política de boas vindas a imigrantes.