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Com 30 tiroteios e 18 mortos, Tancredo Neves é bairro com mais crimes em 2023

“É tiroteio com polícia no meio da rua em um dia, gente sendo presa em casa por bandido no outro. A violência explodiu nos últimos meses”, resume uma moradora de Tancredo Neves ao ser perguntada da rotina de ocorrências no bairro. A explosão citada por ela passa longe de ser exagero. No primeiro semestre de 2023, de acordo com dados do Instituto Fogo Cruzado, o bairro é o mais violentado de Salvador com 30 tiroteios, 18 mortos e 12 feridos. Registros que colocam Tancredo Neves bem à frente dos outros no ranking, como Fazenda Grande do Retiro [2° colocado] com 18 tiroteios, 17 mortos e nove feridos, e Pernambués [3° colocado] com 18 tiroteios, sete mortos e seis feridos. Para se ter ideia do avanço da violência por lá, no segundo semestre de 2022, Tancredo não estava nem entre os cinco bairros mais violentados da capital com 6 tiroteios, três mortos e dois feridos ao longo do período. Os dados do primeiro semestre são resultado de uma série de picos de violência registrados no bairro. No começo de abril, Tancredo Neves virou palco de uma guerra entre as facções do Comando Vermelho (CV) e do Bonde do Maluco (BDM), que disputam para atuar com o tráfico de drogas na área. No dia 6 de abril, o confronto foi maracado por rajadas de tiros, uso de granadas, esquartejamento e disparos ouvidos até na Rótula do Abacaxi. Na manhã do dia seguinte, dois mortos – um deles esquartejado -, paredes cravejadas de tiros, vidros dos carros estourados e cápsulas de projéteis davam conta do que aconteceu horas antes. “Localizamos granadas de uso militar e um armamento pesado nas mãos dos criminosos envolvidos na disputa. Estamos falando de fuzis 556 e 772, armas que também são de uso militar”, explicou na época o Major Luciano Jorge, da 23ª CIPM. Sete dias depois, mesmo com uma ação policial montada por tempo indeterminado no bairro, os moradores continuavam a sentir os efeitos da violência. Comprar pão, passear com o cachorro ou ir estudar, atividades comuns, pararam de acontecer durante a noite. Na época, o Arenoso, que tem atuação do BDM, recebeu ataques por parte do CV. E a região do Beiru, que têm atuação do segundo grupo, também registrou confrontos que aconteceram como resposta aoa ataques iniciais. “Aquele período foi o pior, tanto é que a polícia reforçou a segurança por aqui um bom tempo. O clima era de guerra, mas os tiroteios seguiram depois disso. Todos eles [traficantes] estão alertas para ações da facção rival. No meio disso, encontram polícia e entram em confronto”, relata o morador, assegurando que a violência continua a assustar de maneiras diversas nos quatro cantos do bairro. Moradores viram reféns A forma mais comum da violência que incide sobre a população está nos casos de cárcere privado, onde moradores são feitos de reféns por criminosos em fuga. O caso mais recente aconteceu na terça-feira (18), quando um suspeito manteve uma idosa e um adolescente como reféns na localidade do Buracão, dentro de Tancredo Neves. O homem fugia após trocar tiros com PM’s na companhia de outros quatro suspeitos que conseguiram fugir do local. Após negociação com o Bope, que não teve o tempo infomado pela polícia, o suspeito liberou os reféns e se entregou. Com ele, foi apreendida uma pistola de calibre 9 milímetros equipada com dois carregadores alongados. A reportagem procurou a Polícia Militar da Bahia (PM-BA) para saber o número casos de reféns registrados no bairro, mas não recebeu resposta até o fechamento desta matéria. Um levantamento do CORREIO, porém, indica que esse foi o sétimo caso do tipo em Tancredo Neves em 2023. O primeiro deles foi registrado em 12 de abril, quando quatro reféns foram liberados e quatro criminosos acabaram presos. Na localidade da Semente, traficantes perceberam a presença policial durante uma operação e invadiram uma casa com quatro ocupantes, entre eles uma criança de 6 anos e uma idosa. Ninguém ficou ferido. No segundo caso, uma adolescente de 16 anos ficou quatro horas sob a mira de uma arma no início da manhã do dia 17 de abril. O responsável por fazer ela refém liderava um ‘bonde’ na região e era conhecido por ostentar armas. No dia do cárcere, o suspeito foi visto saindo da residência onde a vítima estava com armamento em mãos. Ao ver policiais no local, ele retornou para dentro da casa e chegou a ameaçar a vida da vítima, que foi liberada sem lesões. O terceiro caso se deu no mesmo dia 17, já no fim da tarde. Um trio trocou tiros com a polícia e um deles acabou morrendo na ocasião. Os outros dois fugiram, invadiram uma casa e fizeram um homem de refém. A dupla acabou se entregando no início da noite e liberou a vítima. Com os dois, foram encotrados duas pistolas, uma granada militar, carregadores, munições, balanças de precisão, máquina de cartão, 135 porções de maconha e outros itens. O quarto e o quinto caso ocorreram de maneira simultânea no dia 18 de abril após às 18h. As duas ocorrências foram registradas na mesma região da comunidade da Aldeia, na Travessa Murici. Em uma delas, quatro suspeitos, se entregaram e liberaram um jovem morador feito refém por volta das 20h. Na ocorrência, os bandidos chegaram a fazer uma live no Instagram. No outro caso, uma mulher grávida de 24 anos ficou por volta de 4h em poder de quatro suspeitos que estavam fugindo da polícia e invadiram sua casa. Ao fim da negociação, a mulher foi liberada sem ferimentos e os quatros criminosos foram presos pelo Bope. Nos dois casos, os suspeitos eram parte de um grupo que havia trocado tiros com a polícia e acabou se dividindo durante uma tentativa de fuga. A sexta ocorrência com reféns e cárcere privado no bairro se deu em 29 de maio, quando um suspeito invadiu uma casa na Rua Paraíso, na localidade do Buracão. Foram feitos de refém um homem de 29 anos e seus quatro filhos, sendo um de 10 anos, dois de 7 e outro de apenas 2. Eles foram liberados após três horas de negociação e o suspeito foi preso. Especialista em segurança pública, Antônio Jorge Melo afirma que a ação não é novidade. Ele analisa que tudo faz parte de uma estratégia. “Isso é uma ação para assegurar a integridade física quando estão cercados por policiais. Muitos têm receio de que, em confronto com a polícia ou até se entregando, possam acabar mortos pelos agentes de segurança”, explicou ele, que é coordenador do curso de Direito da Estácio. Não há foco Apesar da liderança nos números tiroteios, mortos e feridos e do amontoado de casos de reféns, Tancredo Neves não deve ser visto como um bairro que é epicentro da violência. O Fogo Cruzado, em parceria com a Iniciativa Negra, defende que se trata de um bairro violentado e que o foco desses casos é transitório, não perene. Exemplo disso é que Fazenda Coutos, bairro que liderou em número de tiroteios no segundo semestre de 2022 com 27 registros, nem consta na lista com os sete bairros mais violentados nos primeiros seis meses de 2023. Enquanto Tancredo Neves, que não estava na lista no ano passado, fez o movimento contrário. “Não há uma prevalência em determinados bairros dos episódios de tiroteios, apesar de sabermos que os bairros com mais tiroteios são de maioria negra. Porém, já apresentamos pesquisa de que nem são os bairros com mais apreensão de substâncias ilícitas. A Pituba, por exemplo, tem altíssima apreensão de drogas e zero homicídios no ano pesquisado”, fala Dudu Ribeiro, co-fundador da Iniciativa Negra. A Iniciativa estuda os registros armados e advoga por uma nova política de drogas, já que vê o duelo de facções como fator na crescente da violência armada. “Há uma pulverização das organizações ligadas ao tráfico de drogas e armas que se espalha pela cidade e também um opção do estado por fazer a guerra em territórios negros. Estes não são bairros violentos, mas sim violentados por essa guerra travada pelas forças de segurança e a falta de políticas públicas”, completa Dudu. A crescente de violência apontada por ele se vê em termos gerais em Salvador e na Região Metropolitana. No primeiro semestre deste ano, foram registrados 792 tiroteios com 759 vítimas. A Grande Salvador, como o instituto chama, pulou de 499 mortes para 598 nesses registros, aumentando a letalidade em 20%. Em média, foram 132 tiroteios por mês e aproximadamente quatro por dia entre janeiro e junho. Veja os rankings das cidades com mais registros e dos bairros mais violentados da capital: Municípios da RMS Salvador: 572 tiroteios, 414 mortos e 117 feridos
Camaçari: 78 tiroteios, 72 mortos e 21 feridos Mata de São João: 34 tiroteios, 30 mortos e 5 feridos Lauro de Freitas: 32 tiroteios, 14 mortos e 7 feridos Dias D’Ávila: 24 tiroteio, 25 mortos e 2 feridos Simões Filho: 17 tiroteios, 11 mortos e 3 feridos Candeias: 13 tiroteios, 12 mortos e 2 feridos Vera Cruz: 9 tiroteios, 4 mortos e 4 feridos Madre de Deus: 6 tiroteios e 7 mortos Pojuca: 3 tiroteios e 3 mortos São Sebastião do Passé: 3 tiroteios e 5 mortos Itaparica: 1 tiroteio e 1 morto Bairros de Salvador Beiru /Tancredo Neves (Salvador): 30 tiroteios, 18 mortos e 12 feridos Fazenda Grande do Retiro (Salvador): 18 tiroteios, 17 mortos e 9 feridos Pernambués (Salvador): 18 tiroteios, 7 mortos e 6 feridos Federação (Salvador): 16 tiroteios, 10 mortos e 4 feridos Lobato (Salvador): 15 tiroteios, 10 mortos e 1 ferido Valéria (Salvador): 15 tiroteios, 9 mortos e 3 feridos

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