A Câmara dos Deputados retoma, nesta semana, a análise sobre a prisão e o mandato do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido – RJ), acusado de mandar matar a vereadora Marielle Franco em 2018, no Rio de Janeiro.
O debate sobre a detenção do parlamentar ficou paralisado por uma semana e tem enfrentado resistência entre grupos. Na análise de alguns deputados, a prisão de Chiquinho pode “abrir precedentes” para a possível detenção de outros parlamentares. Esse é mais um capítulo do embate entre o Legislativo e as decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nos últimos meses.
A prisão do deputado Chiquinho Brazão foi determinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes em 24 de março. Um dia depois, a primeira turma da Suprema Corte seguiu o entendimento de Moraes sobre a prisão do parlamentar.
Chiquinho Brazão enfrenta dois processos na Câmara dos Deputados. O primeiro deles tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O colegiado decide se vota de forma favorável ou contrária ao entendimento do STF sobre a prisão do deputado.
Isso ocorre porque a Constituição Federal determina que, por ser parlamentar, Chiquinho Brazão tem o mandato inviolável civil e penalmente – exceto nos casos de prisão em flagrante por crime inafiançável. Por isso, cabe à Câmara dos Deputados analisar a decisão da Suprema Corte.
Na última semana, a análise na CCJ foi suspensa após um pedido de vista coletivo. O pedido foi encabeçado pelo deputado Gilson Marques (Novo-SC), que alegou pouco tempo para analisar os documentos que embasam a prisão.
O pedido de vista causou revolta a parlamentares do PSol e do PT, que defenderam a importância de decidir sobre a prisão com urgência, devido à relevância do tema.
Ao Metrópoles Gilson Marques afirmou que o pedido de vista foi importante para que todos tivessem tempo de revisar o caso. “Brazão está preso e todos os deputados tiveram tempo de analisar o processo, sem risco de nenhuma nulidade por cerceamento de defesa que poderia ser alegada pelos advogados do acusado”, disse.
chiquinho brazão ccj câmara dos deputados
CCJ da Câmara dos Deputados analisa prisão de Chiquinho Brazão, acusado de mandar matar Marielle Franco Vinícius Schmidt/Metrópoles
ccj camara dos deputados marielle
CCJ da Câmara dos Deputados analisa prisão de Chiquinho Brazão, acusado de mandar matar Marielle Franco VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES
ccj camara dos deputados carol de toni
CCJ da Câmara dos Deputados analisa prisão de Chiquinho Brazão, acusado de mandar matar Marielle Franco Bruno Spada/Câmara dos Deputados
“Preocupação” A retomada da análise na CCJ está marcada para quarta-feira (10/4), às 10h. Na última semana, o relator do processo, Darci de Matos (PSD-SC), leu relatório favorável à prisão antes do pedido de vista. Além disso, Chiquinho Brazão chegou a participar da sessão por vídeoconferência. Ele se defendeu das acusações e também contou com o apoio de um advogado, que considerou o STF “incompetente” para determinar a prisão.
O relator Darci de Matos afirma ter “plena convicção” de que o parecer será aprovado na CCJ. No entanto, na análise do congressista, alguns deputados ainda estão reticentes sobre a prisão por medo de que o caso abra precedentes para a detenção de colegas em outras situações.
“Tenho plena convicção de que vamos ganhar na CCJ, com maioria simples, e vamos buscar o quórum qualificado no plenário. Essa é minha expectativa. Claro, a gente percebe que os parlamentares, mesmo os que votam favorável, se colocam reticentes, com preocupação com precedentes e sobretudo com a manutenção das prerrogativas parlamentares”, disse o relator ao Metrópoles.
O entendimento é o mesmo do deputado Chico Alencar (PSol-RJ), um dos nomes do PSol à frente do caso. Ao lado das deputadas Fernanda Melchionna (PSol-RS), Talíria Petrone (PSol-RJ) e Sâmia Bomfim (PSol-SP), ele tem cobrado agilidade da Câmara na análise do caso.
“Está tendo um movimento com esse tempo que foi ganho. Crescem conversas em torno da imunidade parlamentar, de que [o crime] não foi cometido quando o acusado era deputado. A bronca que a maioria dos deputados têm do Supremo, o espírito de corpo. Ainda assim acredito que a gente aprecia [o parecer] na quarta”, afirmou o parlamentar ao Metrópoles.
Conselho de Ética Além do processo na CCJ, Chiquinho Brazão também é alvo de uma representação apresentada pelo PSol no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. O partido pede a cassação do mandato de Brazão pelo envolvimento no crime que matou Marielle Franco.
A representação foi protocolada pelo PSol no dia da prisão do parlamentar, mas só foi encaminhada ao Conselho de Ética pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no dia 27 de março.
O presidente do colegiado, Leur Lomanto (União-BA), prometeu celeridade na análise do caso. Após a recepção do ofício pelo Conselho de Ética, caberá a Leur sortear um relator para analisar a representação. O relator será responsável por elaborar um parecer pelo arquivamento ou pela manutenção do processo, que é votado pelos membros do colegiado.