Após uma loja de autopeças sofrer um incêndio na Avenida Suburbana, no bairro do Lobato, em Salvador, na madrugada dessa quinta-feira (15), comerciantes da região suspeitam que a ação pode ter sido provocada por traficantes, que cobrariam taxas de “pedágio” e puniriam os proprietários que não cumprem a exigência.
A informação foi dada por pessoas que trabalham no bairro, sob anonimato, por medo de represálias. Segundo elas, os valores são extorquidos semanalmente e podem chegar a R$ 200, a depender do tamanho do estabelecimento. Os comerciantes que atrasam o pagamento ou se recusam a pagar podem ter suas lojas destruídas.
Na loja de autopeças, o incêndio começou por volta de 1h da madrugada, segundo o Corpo de Bombeiros, que controlou as chamas no início da manhã. O local ficou completamente destruído. A reportagem procurou o proprietário para saber o valor da perda e a suspeita de incêndio criminoso, mas não houve retorno.
Loja incendiada na madrugada dessa quinta-feira (15) (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) |
De acordo com a Defesa Civil de Salvador (Codesal), a estrutura do imóvel foi comprometida, devido ao desabamento da laje. No início da tarde dessa quinta-feira (15), todos os escombros e produtos incendiados já haviam sido retirados do local pelos funcionários.
A avenida ficou congestionada até o início da tarde por causa do trabalho dos bombeiros e da equipe da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb). Agentes da Neoenergia Coelba também estiveram no local mas, segundo o órgão, o deslocamento foi preventivo, e a distribuição de energia elétrica não foi comprometida.
Extorsão
A Polícia Civil foi procurada para saber se há investigações em andamento sobre as denúncias da cobrança de ‘pedágio’ para os comerciantes do bairro, mas até a publicação desta matéria não houve retorno.
Outro incêndio ocorrido há 15 dias, em uma loja próxima a de autopeças, chama mais atenção para as suspeitas dos comerciantes. A polícia foi questionada, mas também não respondeu se os dois casos são investigados como criminosos. Apesar da falta de respostas das autoridades, os comerciantes do Subúrbio Ferroviário já sofrem com a ação de grupos criminosos há pelo menos três anos.
Em 2020, uma reportagem do CORREIO mostrou que eles pagavam até R$ 100 por semana a traficantes do Comando da Paz (CP) para não serem mortos, e que os donos de estabelecimentos do Lobato eram os que mais sofriam. Na época, dez ferros-velhos fecharam as portas por causa do tráfico.
“Os traficantes começaram a levar panfletos para os comerciantes, avisando que a partir daquele momento teriam que pagar uma taxa semanal. Depois disso, o pagamento passou a ser feito por depósito bancário. Eles enviam áudios ameaçando a gente”, disse uma das fontes ao CORREIO, na época.
A debandada do bairro também foi engrossada após os assassinatos do reciclador Robson dos Santos Batista, 35, e do sobrinho dele, Osmar Gonçalves Batista Neto, 29 anos, no ferro-velho da família, no Lobato. Eles foram mortos em 2019 por dois homens armados que chegaram no local disparando vários tiros contra eles e um outro funcionário, que ficou ferido. A motivação e autoria seguem desconhecidas.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo