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Conheça o ChatGPT, o terror dos professores

Como, quem, onde, qual, quando e por que? A essência do ser humano é uma caixinha de perguntas de um site de busca. Perguntamos sobre tudo, desde como a luz acende ou como o avião pode voar. Antes da internet, nossos pais, avós e enciclopédias eram as referências, até os sites de busca explodirem na internet, desde o Cadê até o Google. Contudo, essa forma de pesquisa  pode estar com os dias contados. Com o avanço das inteligências artificiais (IA), cada vez mais autônomas, surgiu uma nova forma de interagir na interface virtual: o ChatGPT, um poderoso mecanismo que não apenas responde sua pergunta, como dialoga com você, escreve artigos, dissertações, poesias e até música. 

O ChatGPT é um modelo de linguagem de grande escala desenvolvido pela empresa OpenAI. Ele foi treinado em milhões de exemplos de texto na internet e é capaz de gerar respostas em vários idiomas e em vários contextos. Em geral, o ChatGPT é uma tecnologia poderosa que está mudando a forma como as pessoas interagem com a tecnologia por meio da linguagem natural. Devido ao seu grande treinamento, é capaz de responder a perguntas de maneira precisa e convincente, imitar a escrita humana e até mesmo criar conteúdo original, como histórias e artigos. 

“O DALL-E e GPT fazem parte de um conjunto de tecnologias e ferramentas desenvolvidas com base em inteligência artificial, mais especificamente utilizando uma abordagem chamada de deep learning ou “aprendizado profundo”. O aprendizado profundo é um subconjunto do aprendizado de máquina, que é essencialmente uma rede neural artificial. Essas redes neurais tentam simular o comportamento do cérebro humano”, explica Francisco Barretto, mestre e doutor em Arte e Tecnologia pelo PPG-Arte: Programa de Pós Graduação em Artes pela Universidade de Brasília (UnB).

A primeira vantagem é a simplicidade. Enquanto no Google a pesquisa aponta sites que falam sobre o assunto, no ChatGPT a pesquisa é mastigada e entregue em forma de texto com diversos estilos. Basta entrar no site (https://chat.openai.com/chat) e se cadastrar. Na página, tem uma caixinha de perguntas como no site de busca. Pergunte o que quiser que essa espécie de chatbot vai iniciar um diálogo e produzir redações bem semelhantes ao humano. 

Fizemos um teste simples com dois pedidos. No primeiro, solicitamos ao chatbot uma letra sobre Salvador para ser a música do carnaval. Cerca de 30 segundos depois, ganhamos uma versão com refrão e tudo (confira o texto completo ao lado). Também pedimos uma redação sobre a Festa de Iemanjá, no dia 2 de fevereiro. Foram 42 segundos de espera para uma dissertação de 20 linhas, cinco parágrafos, com direito a introdução, desenvolvimento e conclusão. Detalhe: não se trata de plágio. Por meio de seu banco de dados com informações até 2021, o ChatGPT compila as informações e tem a autonomia de fazer um texto único e perfeito. Perfeito até demais.

“O ChatGPT foi criado para ter uma forma autônoma. Lembra a Alexa, mas sem precisar do aparelho. Apenas o browser. Você pergunta de forma natural, ele responde de forma natural, mas com muito mais precisão e da melhor forma possível. É um diálogo mesmo. Como se fosse uma pessoa respondendo. Ele pega todo o pacote histórico da internet até 2021 para fazer essa resposta de várias maneiras e inéditas. O ChatGPT é inovador, sem dúvida.  Ele disponibiliza ao público em geral a possibilidade de fazer perguntas diretas para uma  inteligência artificial”, disse Jorge Barreto, professor de Sistemas da Informação do Centro Universitário de Excelência (Unex).

Estudantes 
Imagine isso nas mãos de um aluno que não quer ter muito trabalho. Apesar de ser relativamente novo, o corpo docente tenta contra-atacar, pois não se trata mais de verificar se foi ou não plágio. Como se trata de um texto inédito, é difícil saber se foi mesmo o aluno ou é mais uma obra do ChatGPT. 

A Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) já demonstra preocupação. No próximo dia 14 de fevereiro, o órgão fará um seminário virtual no seu canal do Youtube. O tema será  ChatGPT: Os Impactos na Educação Superior. A intenção é justamente mostrar como esta tecnologia pode mudar a rotina acadêmica, principalmente nas possibilidades de trabalhos elaborados unicamente na plataforma. 

Existem formas que podem identificar quando se trata de uma escrita feita pelo ChatGPT. A primeira delas é conhecer o aluno que tem. “A gente percebe a questão da hipertextualidade. Embora tenha todo esse conhecimento, o ChatGPT não traz nada novo, nada muito reflexivo que venha de um pensamento inovador típico do humano. Não existe um estilo que podemos associar ao aluno, por exemplo. Cabe ao professor conhecer o aluno, suas limitações e estilo de escrita. Não dá para uma pessoa de um dia para o outro fazer um texto científico com palavras rebuscadas que beira a perfeição”, indica Jorge Barreto. 

Foi justamente o que aconteceu com a professora do Ifba, Samara Ferreira. Ela passou o ano acompanhando alguns TCCs e um aluno no final do ano passado chegou com um trabalho que ele não conseguiu desenvolver durante todo semestre. Ela não aceitou o trabalho de conclusão do curso. 

“Só depois passei a pesquisar e conhecer mais sobre o ChatGPT. Tive particularmente um estudante orientando de TCC que recusei o trabalho porque era notório que a produção não era dele. Quando a gente acompanha o estudante há um ano reconhece o perfil, a linguagem e a escrita dele, sem contar a curva de evolução. Nesse caso específico, foram nove meses com uma produção pífia e, em um mês, o material estava num nível absurdo”, conta a professora. 

Doutora em Difusão do Conhecimento e coordenadora do Núcleo de Formação e Assessoria Pedagógica do Docente UFBA, Maria Carolina acredita que não adianta lutar contra o novo, mas buscar alternativas acadêmicas para que as novas tecnologias sejam utilizadas a favor da educação. 

“Não acredito que o ChatGPT vai substituir o professor. Ele, de fato, pode ser terrível se for utilizado de forma prejudicial, mas também é possível aproveitar esta inteligência artificial. A mediação é fundamental justamente para trabalharmos nesta aprendizagem, contextualizada com a necessidade do estudante e da turma nas diversas áreas”, disse Maria Carolina, também graduada em Ciência da Computação. Para ela, qualquer profissional vai sobressair da IA por um detalhe: a criatividade. 

“Não creio em substituições de profissão. Falaram que o computador substituiria o professor, mas vimos como o profissional foi importante nas aulas durante a pandemia. Na minha opinião, os profissionais que atuam no jornalismo, assim como letristas de música, continuarão se diferenciando pela criatividade. A discussão não é sobre como evitar o uso, mas como utilizá-la”, completa. 

Coordenador de Engenharia de Software da Imtech, Orison Almeida tem outra visão. Para ele, o ChatGPT é um embrião de possibilidades e autonomias que deixarão as inteligências artificiais ainda mais autossuficientes e com possibilidade de substituir profissões e superar o ser humano. 

“As IAs têm realizado feitos incríveis, superando profissionais em diversas áreas. E se ainda não assustou algumas profissões, certamente o fará brevemente. Na década de 90 ninguém acreditava que o Kasparov, campeão mundial de Xadrez, pudesse ser superado por uma máquina. Recentemente, uma IA conseguiu identificar tumor em ressonância magnética não percebido, com conhecimento obtido através de diagnósticos de milhares de resultados de exames normais e alterados. O ChatGPT faz algo semelhante no quesito busca. Está realmente crescendo de forma assustadora e será uma forma coesa de produção de conteúdo”, conta Orison.

O ChatGPT também tem seus limites. Viralizou, inclusive, uma experiência interessante no Youtube. Todas as questões da última prova do Enem foram perguntadas ao bot por diversos youtubers. A nota média do bot foi de 670 pontos. Não daria para passar em Medicina (777 pontos), tampouco Direito (720), mas dava para cursar Ciência da Computação (642,13). Sua área. Outra questão na discussão sobre a ferramenta é a possibilidade de proliferar com mais facilidade fake news pela internet, com textos robustos, mas com informações falsas.   

Não é possível afirmar que o ChatGPT produza intencionalmente fake news. No entanto, como a IA é alimentada por dados da internet e treinada em milhões de exemplos de texto, ela pode replicar informações incorretas ou desinformação presentes nesses dados. Por essas razões, é importante ter cuidado ao utilizar o ChatGPT e sempre verificar a precisão das informações geradas por ele, apesar de não ser possível afirmar que ele produza intencionalmente fake news.

Mesmo com tantas polêmicas, o ChatGPT é um sucesso no mundo. Em um mês, obteve mais de 1 milhão de usuários, algo que nem o Facebook conseguiu no seu lançamento. O site, inclusive, saiu recentemente do ar porque não suportou tanta gente. Instável, o desenvolvedor OpenAI vai lançar uma versão paga que custará US$ 20 por mês, cerca de R$ 100. Uma versão gratuita continuará funcionando. A plataforma também é amiga dos professores. Uma nova versão possibilitará identificar se o texto foi feito por uma IA. 

Se ainda duvida da capacidade do ChatGPT, saiba que dois parágrafos deste texto foram feitos pelo chatbot. No segundo parágrafo, pedimos que a IA fizesse um artigo sobre ela mesma. No antepenúltimo parágrafo, pedimos uma reflexão sobre a confiabilidade da plataforma em comparação ao fake news. Propositalmente, enchemos o lead com alguns vícios de linguagem, referências e muita enrolação. Dá para perceber a diferença. 

Ainda é possível pedir ao ChatGPT uma poesia, receita de bolo e até bater um papo informal com ele. Numa última pesquisa, perguntamos de forma bem pessoal: “Estou carente, o que faço para melhorar?”. O ChatGPT consolou e ainda deu cinco opções para acabar com a carência. Em nenhuma delas sugeria ouvir Pablo. Ainda tem muito o que melhorar…

AI de arte promete transformar texto em pinturas

O ChatGPT não é a única inteligência artificial que está causando polêmica no mundo. Plataformas autônomas estão transformando pedidos de usuários em artes dos mais variados estilos, do renascentista ao moderno. Inclusive o desenvolvedor do ChatGPT, OpenAI, criou o Dall-E. É como um site de busca. Contudo, o que você escreve a IA cria uma arte. Nas duas imagens acima, pedimos para o bot fazer uma pintura impressionista de um robô passeando no Pelourinho. Na outra, escrevemos como seria o Farol da Barra sob o olhar de Van Gogh. 

“Estas ferramentas têm um impacto direto principalmente nos processos criativos artísticos. O resultado gerado pelas ferramentas fica restrito ao conjunto de dados utilizado para treinar uma determinada ferramenta. Por exemplo, não se pode pedir que seja gerada uma imagem no estilo do Van Gogh se o software não foi exposto às obras dele. Não se pode afirmar que o uso dessas tecnologias seja intrinsecamente bom ou ruim pois, obviamente, dependerá do uso que faremos delas. Talvez seja interessante observar estas ferramentas como formas de estender a nossa capacidade de criar e compreender o mundo”, disse Francisco Barretto, mestre e doutor em Arte e Tecnologia. 

“Dall-e faz parte de um conjunto de modelos que transformam texto em imagem , assim como seus ‘concorrentes’ Stable Diffusion e Google Imagen. Enquanto isso, o chatGPT faz parte de um outro grupo de modelos que transformam texto em texto”, diferencia Francisco. O processo de utilizar o Dall-E também é simples. No site do desenvolvedor, basta colocar o que você quer e o bot faz o restante. Será o início do fim da arte humana? Para especialistas, existe uma pequena diferença: os humanos criam do zero, enquanto a IA se baseia em algo já criado pelo homem. Pelo menos por enquanto.

“É a velha questão se a  tecnologia e inovação vão tirar o emprego de todo mundo e o Brasil vai acabar com diversas profissões. Na área de jornalismo, por exemplo. É possível criar uma chamada rápida para uma matéria no ChatGPT. Mas se você quiser fazer um artigo, uma apuração, fontes, uma reportagem mais aprofundada sobre o assunto, só o humano será capaz. A IA não cria do zero e não consegue criar nada novo. Ele apenas se baseia no que já existe. O poder de criação intelectual é algo particular do ser humano”, disse Jorge Barreto, professor de Sistemas da Informação. 

Não adianta reclamar. Com o tempo, conviveremos  com mais frequência com inteligências artificiais no cotidiano. Na verdade, já estamos vivendo um filme de ficção científica: De um ponto de vista prático, a nossa vida já foi transformada pelo uso de técnicas de IA, mas só agora estamos nos dando conta de forma mais clara, pois a tecnologia tem se tornado mais acessível ao público em geral. Se antes o uso dessas técnicas se mantinha restrita ao ambiente científico/acadêmico/tecnológico, agora o acesso se torna mais amplo pela disponibilização desse tipo de ferramenta”, completa Barretto.
 

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