O debate era para discutir ideias e projetos para o país. Mas o que se viu foi uma arena de troca de acusações, na qual a palavra “mentiroso” foi a mais pronunciada tanto por Lula (PT) quanto por Bolsonaro (PL). Fato que mostra que cada candidato preferiu explorar os pontos fracos do adversário na tentativa de aumentar a rejeição que a de vender seus pontos positivos.
O clima de beligerância já começou no primeiro momento, quando o tema em discussão era o salário mínimo, temas que recentemente desgastou a campanha de reeleição de Bolsonaro a partir de documentos do Ministério da Fazenda que apontam medidas para desobrigar reajustes do mínimo similar à inflação.
Para sair das cordas, o chefe do Executivo acusou a campanha do petista de produzir fake news para dizer que ele acabaria com o 13º salário, as férias e as horas extras dos trabalhadores. “Nós concedemos reajuste ao salário mínimo no mínimo pela inflação”, afirmou Bolsonaro, que ainda culpou a pandemia e a guerra da Ucrânia pelo fato de não ter concedido mais benesses durante seu mandato.
Lula se limitou a dizer que Bolsonaro é “mentiroso” e já mentiu mais de 6 mil vezes. “Eu não fico dentro do Palácio sem trabalhar vendo televisão, tenho coisa mais importante para fazer”, provocou, e ainda falou: “Eu não sei o que nosso adversário está vendo, porque a verdade nua e crua é que o salário mínimo dele hoje é menor do que quando ele entrou”
Bolsonaro ainda teve de enfrentar outro tema de grande desgaste de seu governo: saúde. Lula citou o atraso na compra de vacinas e as 400 mil mortes que poderiam ser evitadas durante a pandemia caso a campanha de vacinação tivesse iniciado mais cedo. Bolsonaro tentou depois de quatro minutos mudar de assunto, mas só conseguiu quando o debate já chegava a sete minutos, quando acusou Lula de tratar com traficantes durante visita ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. E disse que Lula iria realizar uma ampla campanha de desarmamento.
Lula ignorou a acusação vazia sobre ligação com criminosos e confirmou que pretende, mesmo, revogar medidas de facilitação ao porte de arma. E lembrou, como havia feito antes, o episódio do último fim de semana, em que Roberto Jefferson atirou em policiais federais. Bolsonaro reagiu tentando associar Jefferson, delator do mensalão, a Lula.
Por outro lado, Lula foi obrigado a responder pelos escândalos de corrupção de seu governo. O mensalão não foi o único. Os desvios da Petrobras foram explorados no momento em Bolsonaro discorreu sobre as medidas que tomou para abaixar os preços dos combustíveis. “Nós não demos canetada para baixar preço dos combustíveis como eles faziam no passado”, provocou Bolsonaro, ao citar o alto endividamento da Petrobras durante as gestões PT. Em resposta, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acusou o adversário de ter reduzido o ICMS dos Estados sobre combustíveis. “Ele poderia ter feito isso reduzido preços dos combustíveis sem quebrar os Estados”, falou.
Na temática sobre Constituição, Bolsonaro (PL) acusou Lula de defender invasões de terras e censura à mídia e defendeu que, ao longo de seu governo, sempre cumpriu as “quatro linhas da Constituição”. Na réplica, o ex-presidente disse que Bolsonaro não respeita a Constituição por viver “todo santo dia” ameaçando os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Sobre invasões de terra, afirmou que nos seus governos, quem definia se a terra era ou não improdutiva era o Incra.