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Deputado da Bahia lavava dinheiro com empresas e revendia peças roubadas, diz Promotoria

Foto: Divulgação

Binho Galinha 08 de dezembro de 2023 | 12:41

A investigação que resultou na denúncia contra Binho Galinha (Patriota-BA), acusado de liderar uma milícia em Feira de Santana (a 109 km de Salvador), aponta que o deputado estadual lavava dinheiro por meio de empresas e vendia peças de carro roubadas em uma loja de sua propriedade.

Acusado por crimes de lavagem de dinheiro do jogo do bicho, agiotagem e receptação qualificada, Binho Galinha foi um dos alvos da Operação El Patron, deflagrada nesta quinta-feira (7) pelo Ministério Público estadual, Polícia Federal, Receita Federal e Secretaria de Segurança Pública da Bahia.

A apuração do caso foi iniciada há cerca de 14 meses, antes de Binho Galinha ser eleito deputado estadual, e incluiu medidas cautelares como a quebra de sigilo fiscal, bancário, telefônico e telemático dos investigados.

Foram presas seis pessoas, incluindo três policiais, um suposto operador financeiro do grupo, o filho do deputado, João Guilherme Cerqueira da Silva Escolano, e a esposa, Mayana Cerqueira da Silva —esta última foi solta após audiência de custódia e está com tornozeleira eletrônica.

Em nota, o deputado Binho Galinha afirmou que está à disposição da Justiça, que “tudo será esclarecido no momento próprio”. Os advogados de Mayana e João Guilherme também disseram que ambos estão à disposição da Justiça.

Na denúncia, o Ministério Público indica “evidências robustas” da prática de crimes. Ao todo, 15 pessoas foram denunciadas sob acusação de organização criminosa, receptação qualificada, contravenção penal do jogo do bicho, crime de agiotagem, corrupção de menores e lavagem de capitais.

A loja de autopeças Tend Tudo, em Feira de Santana, seria o centro do esquema, usada para encobrir as ações ilícitas do deputado, que já foi preso anteriormente sob acusação de roubos de veículos, porte ilegal de arma de fogo e receptação de peças de carro roubadas.

Após análise dos dados bancários, a PF constatou que a Tend Tudo recebeu R$ 40,7 milhões sem lastro suficiente de notas fiscais emitidas. Na avaliação dos auditores, há indícios de movimentação financeira incompatível com a receita bruta declarada pela empresa.

Um dos elos na receptação de peças roubadas seria Kleber Herculano de Jesus, conhecido como Compadre Charutinho. Ele seria o responsável pela aquisição de peças de veículos de origem ilícita que eram vendidas para Tend Tudo, comandada por Binho Galinha e Mayana.

Segundo o Ministério Público, Charutinho tem um “vasto histórico” de crimes contra o patrimônio e tem relação próxima com o deputado. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dele.

A empresa Tend Tudo ainda recebeu créditos de outras duas pessoas que possuem registros criminais de receptação qualificada e organização criminosa. Também há suspeita do uso de notas frias.

Em 2020, por exemplo, a Tend Tudo emitiu nota fiscal correspondente ao valor de R$ 3 milhões referentes à venda de mil cabines de caminhão, cada uma com valor de R$ 3.000. Os auditores apontaram não haver comprovação da entrada desses recursos na empresa e que não há vestígios de compra de cabines suficientes para revenda ou de material para sua fabricação.

Além da Tend Tudo, o deputado é sócio de empresas que incluem outra revenda de autopeças e um posto de combustíveis que movimentou mais de R$ 500 mil a despeito de estar inativo.

As investigações também apontaram a relação com o jogo do bicho de Binho Galinha, sua esposa, seu filho João Guilherme e o policial Jackson Macedo Araújo Júnior e do suposto operador financeiro Jorge Piano. A análise dos celulares apontou que os denunciados armazenam uma grande quantidade de documentos relativos ao jogo do bicho e receberam créditos em suas contas bancárias advindos da contravenção.

Ao menos três policiais são apontados como integrantes de um suposto “braço armado” do grupo. Jackson Macedo, Roque de Jesus Carvalho e Josenilson Souza da Conceição, todos presos nesta quinta, teriam a função de fazer cobranças, mediante violência e ameaça, de valores oriundos do jogo e de agiotagem.

As defesas de Macedo e Roque de Jesus Carvalho disseram que não iam se manifestar antes de terem acesso aos autos. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Josenilson Souza.

Os promotores dizem acreditar que o número de policiais envolvidos pode ser maior. No celular do deputado foram encontrados os contatos de ao menos 120 policiais militares e civis.

Ao tratar da lavagem de dinheiro, o órgão aponta que o deputado movimentou mais de R$ 15 milhões, em descompasso ao que declarou em seu imposto de renda. Em 2022, quando foi candidato a deputado, ele afirmou ter R$ 316 mil em bens, que incluem um terreno, um posto de combustível e dinheiro.

Os investigadores encontraram ao menos 12 imóveis ligados ao deputado sem lastro financeiro para a sua compra —ou seja, a aquisição dos imóveis não resultou em débitos nas contas bancárias do deputado ou de suas empresas.

Dentre os imóveis do deputado estão terrenos, fazendas, casa de praia e uma mansão que está sendo construída em Feira de Santana. A investigação também identificou a existência de cabeças de gado que não constam no patrimônio do deputado.

Apontado como operador financeiro do grupo, Jorge Piano teria movimentado mais de R$ 40 milhões e figura como dono de várias empresas. Ainda assim, recebeu parcelas do auxílio emergencial na pandemia da Covid-19. A Folha não conseguiu contato com a defesa do empresário.

A Assembleia Legislativa da Bahia afirmou, em nota, que não foi informada, muito menos citada, a respeito da operação realizada pela Polícia Federal. Destacou ainda que o Regimento Interno da Casa não prevê nenhum tipo de sanção a parlamentares durante o transcorrer de investigações.

João Pedro Pitombo/Folhapress

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