O dólar opera em forte alta nesta quinta-feira (18/7). Às 16h20, a moeda americana registrava valorização de 1,74%, cotada a R$ 5,57, depois de ter atingido R$ 5,58. Na véspera, ela também havia registrado elevação, mas fechou a R$ 5,48.
Na avaliação de analistas, fatores externos e internos têm exercido pressão sobre o dólar nos últimos meses. Agora, porém, a mais recente disparada da moeda americana está ligada a incertezas no ambiente doméstico.
Na prática, o mercado aguarda os desdobramentos da reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os ministros da área econômica, nesta quinta-feira, no Palácio do Planalto. No encontro, em curso neste momento, serão discutidos eventuais cortes de gastos no Orçamento deste ano.
O Ministério da Fazenda defende uma redução de R$ 10 bilhões nas despesas previstas, para cumprir a meta de déficit fiscal zero em 2024. Além disso, um pente-fino no Benefício de Prestação Continuada (BPC) poderia resultar numa economia entre R$ 8 bilhões e R$ 12 bilhões. Nesse hipótese, somados os valores, os cortes poderiam alcançar R$ 20 bilhões.
Relatório de despesas Nessa mesma linha, o mercado também está no relatório de receitas e despesas do governo, que será publicado na segunda-feira (22/7) pelo Tesouro Nacional. O documento definirá a necessidade de bloqueios e congelamentos de gastos no Orçamento – que, grosso modo, podem ir de R$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões neste ano, como mencionado acima.
“Se o corte for acima de R$ 10 bilhões, o mercado vai reagir bem e o dólar cairá”, diz Emerson Júnior, responsável pela mesa de câmbio da Convexa Investimentos. “Se ficar abaixo desse valor, ocorre o contrário e a moeda americana vai sobir. É simples assim.”
Fenômeno global Júnior observa que a valorização do dólar ocorre em relação a quase todas as moedas do planeta. Ou seja, ela é um fenômeno global, associado à taxa de juros nos Estados Unidos, hoje estabelecida no intervalo entre 5,25% e 5,50%, o maior patamar desde 2001.
Juros nesse nível tornam mais atrativos os investimentos em títulos da dívida americana, os Treasuries, considerados os mais seguros do mundo. Nesse cenário, nota o analista, o mercado americano atua como uma espécie de “aspirador de dólares”. Ele suga o dinheiro dos investidores.
Melhor do que o peso argentino Apesar desse ser o quadro global, observa o analista, a desvalorização do real tem sido maior do que as demais moedas. Dados do consultor Einar Rivero, da Elos Ayta, mostram que, em 2024 (e até esta quinta-feira, 17/7), o real acumulou queda de 11,45%, a segunda maior na comparação entre 27 economias. Ela só ficou abaixo do peso argentino, que perdeu 12,49% do valor no mesmo período (leia mais sobre esse assunto neste link).
Para Emerson Júnior, a questão fiscal não é a única incerteza que tem contribuído para essa “pressão extra” do dólar no Brasil. “Ainda existem as dúvidas sobre a sucessão do presidente do Banco Central (Roberto Campos Neto vai deixar o posto em dezembro)”, diz. “Somada à questão fiscal e diante dessas questões, o que o investidor faz? Ele espera tudo acontecer e se protege no dólar.”
Da reunião no Palácio do Planalto, além de Lula, participam os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Esther Dweck (Gestão e o ministro da Casa Civil, Rui Costa.