Depois de 10 anos de casamento, Cynthia Besteiro, 38 anos, cedeu aos apelos do então marido para terem um filho. Não demorou até ela engravidar de uma menina. Seria sua segunda filha. A primeira nasceu de um descuido, aos 17 anos e o pai nunca contribuiu com a criação. Conforme a barriga da segunda gestação crescia, o então marido se distanciava, e Cynthia percebia que, na vida, seriam apenas ela e a criança.
Essa mãe duas vezes rompe abertamente com o estereótipo de que mulheres precisam se orgulhar da decisão de se tornarem mães: “Eu amo muito minhas filhas, morro por elas, o que não quer dizer que eu queria ter sido mãe. A maternidade é cruel”.
A segunda bebê veio por pressão familiar. Depois da gestação, ela pausou a própria vida para cuidar da criança. O marido – que tanto insistiu por uma criança – terminou o relacionamento e abandonou afetiva e financeiramente a filha, motivo pelo qual ele está sendo processado judicialmente.
A solidão
Foi por necessidade que Cynthia tentou, duas vezes, reatar o casamento com o ex-marido, à época instalado numa cidade mineira. “Eu estava completamente dependente, não tinha nada, só a casa e minha filha”.
Nas duas tentativas de retomar o relacionamento, Cynthia foi expulsa com a filha da casa do então companheiro. Em uma das vezes, elas esperaram o ônibus para voltar para casa com 10 sacos cheios com seus pertences.
A rotina de Cynthia é baseada em cuidar da filha caçula, que nasceu com problemas de saúde e, por isso, requer atenção redobrada. A primeira filha dela mora com o namorado.
Os pais de Cynthia já faleceram e o parente mais próximo, um irmão, mora distante. “Minha filha brinca: ‘Mãe, nem doente a senhora pode ficar, né?’”.
“O filho é da mãe”
Na adolescência, entre as amigas, Cynthia dizia que não queria ser mãe. Era a única que negava a maternidade. A mãe de Cynthia repetia uma frase que ela nunca esqueceu: “O filho sempre é da mãe, só é do pai se o pai quiser”.
Uma pesquisa realizada pela farmacêutica Bayer, em parceria com duas instituições, mostra que, atualmente, 37% das brasileiras não querem ter filhos.
“A vida empurra a gente e a gente toma outras decisões. Resta a gente ir levando e tentando”, afirma.
No próximo semestre, Cynthia pretende cursar a graduação em Serviço Social. Entre 2013 e 2017, estudou Publicidade e Propaganda, mas não conseguiu emprego na área.
Hoje, ela e a filha sobrevivem do aluguel (R$ 1 mil) de uma loja – herança deixada pelos pais de Cynthia. “É algo que digo às minhas filhas: sejam independentes e tenham filhos se quiserem de verdade e puderem”.