“No rio e no mar: pescadores na luta! Nos açudes e barragens: pescando liberdade! Hidronegócio: resistir! Cercas nas Águas: derrubar!” Essas palavras, que compõem o grito de guerra, de quilombolas de Ilha de Maré, serviram para traduzir a emoção das 30 mulheres acolhidas pelo programa ‘Mãe Salvador’ ao fim de uma sessão de cinema no Salvador Norte Shopping nesta terça-feira (7).
Para algumas delas, foi a primeira experiência de assistir um filme no escurinho do cinema. O momento, que, por si só, já seria especial, foi potencializado pela escolha do filme: ‘A Mulher-rei”. Baseada em fatos, a obra retrata a história de Nanisca (Viola Davis), uma comandante do exército do Reino de Daomé, um dos mais poderosos da África entre os séculos 17 e 19.
Durante o período, o grupo militar era composto apenas por mulheres que, juntas, combateram colonizadores franceses, rivais e toda tentativa de escravização de seu povo. Diante desse cenário, os sentimentos predominantes na marisqueira Regina Lopes, de 54 anos, não poderiam ser outros que não alegria e realização.
“Com 54 anos, minha primeira vez no cinema”, enfatizou. “Na véspera do Dia da Mulher, assistir um filme desse porte, que traz uma história de luta e resistência, é muito importante pra mim e pra toda a minha turma”, disse ela.
Aos 54 anos, Regina Lopes pôde ir ao cinema pela primeira vez (Foto: Marina Silva/CORREIO) |
Apesar de essa não ter sido a estreia da pescadora e marisqueira Maria de Fátima Ferreira, 64, ‘A Mulher-rei’ foi o primeiro filme com uma perspectiva negra e feminina que ela assistiu. “Esse filme me deixou muito orgulhosa de ser mulher. Fiquei bem feliz, porque eu sei que somos fortes”, contou a idosa, que faz questão de exclamar: “Amo ser mulher e quilombola!”
Reparação histórica
Para a pescadora, marisqueira e enfermeira Maristela Menezes, 43, também não foi a primeira vez. “Mas é como se fosse”, ressalvou ela. “Hoje teve uma energia diferente, ancestral, por estar junto com as minhas; com pessoas que nunca tinham tido a oportunidade de vir ao cinema”, explicou ela.
Maristela, aliás, espera que o protagonismo negro visto no filme transpasse a tela. “Também é um direito nosso ter lazer, e isso, por muito tempo, foi negado”, recordou. “Hoje só viemos em 30, mas nós somos milhares de mulheres quilombolas.”
A ação faz parte da programação municipal ‘Março Mulher’, que conta com uma série de atividades voltadas ao público feminino e é organizada pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), em parceria com as secretarias de Políticas para as Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ) e da Reparação (Semur), com o apoio do Salvador Norte Shopping.
Segundo a titular da SPMJ, Fernanda Lordêlo, a iniciativa parte de uma preocupação da gestão municipal em promover maior inclusão às mulheres. “Ao falar de mulher, a gente tem que falar de reflexão e de atender a todas, então, ninguém pode ficar de fora”, declarou Lordêlo. “Quando há uma comunidade que está mais distante e a gente sabe que ela precisa de mais políticas públicas, tem que fortalecer isso”, acrescentou ela.
A iniciativa é resultado, também, da atuação do Comitê de Diversidade e Direitos Humanos do Salvador Norte Shopping. “Ficamos bastante felizes em realizar essa ação e promover esse dia diferente. […] Nós desenvolvemos diversas ações e campanhas durante o ano, com temas que acreditamos ser muito importantes”, afirmou a gerente de Marketing Gabriela Simões.
Março Mulher
Ao longo deste mês, ainda serão realizadas diversas outras atividades, como webinar, Caravana da Saúde e atendimentos nos postos municipais e nos Centros de Referência de Atendimento à Mulher. A programação pode ser encontrada no site saude.salvador.ba.gov.br e nas redes sociais da prefeitura.