A comunidade valenciana na Espanha foi atingida nos últimos dias por um volume de chuvas torrenciais não visto em décadas. Meteorologistas dizem que em apenas 8 horas choveu o volume esperado para um ano na região. Como resultado, até agora 158 mortos foram contabilizados, outras dezenas de pessoas ainda desaparecidas, milhares com perdas financeiras imensas e um senso geral de impotência por parte da população espanhola. As imagens de cidades embaixo d’água, lama por todos os lados, carros submersos e pessoas sendo resgatadas por helicópteros, nos parecem familiares, já que há poucos meses uma tragédia parecida assolou o estado do Rio Grande do Sul no Brasil. Mesmo com tantos paralelos com outras regiões do mundo, nada esconde que a Europa tem se tornado o continente dos eventos climáticos extremos nessa década.
Há pouco mais de 2 anos, o verão de 2022 no continente europeu bateu vários recordes de temperaturas mais altas em múltiplas cidades. Países como Grécia, Itália, Croácia, Portugal, França e Espanha tiveram dias acima dos 40°C e grande falta de umidade por vários dias, o que provocou uma intensa onda de calor, acarretando incêndios florestais violentos. Tais queimadas destruíram grande parte da safra de tomates, arroz, uvas e outras frutas no sul da Europa, além de deslocar muitas pessoas de suas regiões de origem. Calcula-se que durante aquele verão mais de 61 mil pessoas morreram em decorrência de exaustão do calor ou outras causas relacionadas à onda de temperaturas extremas pelo continente. Desde aquele momento, o foco da sociedade civil e parte da classe política se voltou para os eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes em todos os países na Europa.
Outonos chuvosos são parte corriqueira da vida de muitas nações da Europa ocidental e central, mas o volume de chuvas observado recentemente, e mais precisamente em 2024, assusta gerações e gerações de europeus que não haviam nunca passado por catástrofes climáticas seja em seus 80 ou seus 10 anos de vida. As chamadas inundações do século na Espanha no meio de um outono mais quente que o normal, se tornam o mais novo lembrete de que os eventos climáticos extremos serão um problema recorrente por todo o continente e que medidas mais drásticas no combate às mudanças climáticas e no planejamento urbano das cidades devem ser feitas.
Durante os anos 1970 e 1980, as pautas ambientais estavam restritas aos partidos verdes, muitos dos quais surgiram pedindo o fim de usinas de carvão e usinas nucleares para dar mais espaço às energias renováveis. Nas décadas seguintes tais pontos foram também adotados por mais partidos, tanto à esquerda, quanto à direita, fazendo com que metas ambiciosas na questão ambiental, seja em Bruxelas, seja nas capitais nacionais, fossem estabelecidas. Apesar de terem se empenhado cada vez mais na solução de tais problemas, a insuficiência energética da Europa em um período de guerra apenas posterga algumas soluções pensadas para a metade desse século. A falta de alternativas baratas no setor energético em um momento em que a principal supridora, a Rússia, está sancionada agravam ainda mais o problema. Sem soluções a curto e médio prazo e as catástrofes acontecendo de forma cada vez mais frequente, parece que o cidadão europeu médio deverá se acostumar a viver os próximos anos entre as secas e as inundações.