Há 20 anos, quando foi anunciada a primeira edição do Forró do Lago, a notícia se espalhou como rastilho de pólvora queimando. Primeiro, porque era uma festa com a banda Chiclete com Banana, a única da cena axé que sempre transitou bem entre o Carnaval e os festejos juninos, quando ainda nem existiam as chamadas festas de camisa, que até antes da pandemia predominavam no mês de junho.
Segundo, porque o local escolhido foi a Fazenda Ana Bonita, pertencente a Bell Marques, batizada com o nome de sua amada Aninha Marques. A curiosidade dos fãs e dos jornalistas era muito grande. Afinal, quem já conhecia falava maravilhas. O que se confirmou. Localizada em Cabaceiras do Paraguaçu, a fazenda é realmente muito bonita.
A festa já era sucesso antes mesmo de acontecer. Assim que foram anunciadas as atrações – Chiclete com Banana, Estakazero e Daniel Diau –, a procura pelos ingressos foi imensa. Tamanha foi a repercussão, que a segunda edição do Forró do Lago foi logo confirmada para 21 de junho de 2003, no mesmo local. Além do Chiclete, teve outras atrações, como Ara Ketu, Calcinha Preta e de novo Estakazero.
No ano seguinte, aconteceu mais uma edição na fazenda Ana Bonita, quando o ciclo foi encerrado. Daí por diante, muitas coisas aconteceram: Bell Marques saiu da banda e o Forró do Lago voltou a ser realizado, anos depois, na cidade de Santo Antonio de Jesus. E, claro, ficou parado nos últimos dois anos devido à pandemia de covid-19. Deve retornar em 2022, finalmente, também em SAJ, no dia 25 de junho.
Passados 20 anos da primeira edição, me lembro da odisseia que passei para me esbaldar ao som do forró. O São João sempre foi minha festa preferida, desde criança, quando ia para a “roça” da família de meu pai, em Serrinha, curtir e comer os pratos típicos da época. Todos preparados por Tia Cândida, uma índia bonita e faceira irmã de meu pai (também descendente de indígenas), Odilon. Ambos saudosos.
Então, voltando ao Forró do Lago, programei com um amigo para irmos ao arrasta-pé. Primeiro reservamos um hotel em Feira de Santana, porque em cidades mais próximas da fazenda não tinha vaga em hotel, pensão ou mesmo casa para alugar. Chegamos na Princesa do Sertão, deixamos as malas, nos arrumamos e partimos já no clima, ouvindo muito forró no toca-fitas do carro.
Combinamos de sair assim que terminasse o show. Cada um foi para seu lado. Meu amigo, solteiro, estava na maior galinhagem e logo arranjou uma solteira disposta a dançar ao som de xotes, xaxados e baiões. Faltando meia hora para a festa acabar, eu o chamei pelo celular para combinarmos a volta.
Isso porque, uma galera motorizada ia voltar para Salvador e eu queria seguir numa espécie de comboio, já que na noite de São João, além da temperatura esfriar, costuma ter muita neblina. Por segurança, segurei a onda. Já o meu amigo…
Nisso o pessoal que já estava indo embora me perguntava: ‘e aí, Marrom, você vai no comboio?’ Eu respondia, ‘claro, deixe eu chamar meu amigo’. Ligava e ele com a voz já mais pra lá do que pra cá dizia ‘tou indo’. E assim foi durante meia hora. E eu caí nessa toada.
Até que, já tarde da noite, não tinha mais ninguém na fazenda. Foi quando o vigia, educadamente, me falou: “Seu Marrom, a festa acabou faz tempo e eu tenho que fechar a fazenda. Infelizmente, o senhor terá quer ir embora”.
Ele estava com razão. Só me restou entrar no carro e me dirigir para o hotel, na maior tensão. Uma neblina infernal de Cabaceiras do Paraguaçu a Feira de Santana. Em linha reta, são mais ou menos 39 km, o que a gente faz em 20 minutos. Só que eu gastei mais de uma hora e meia. Viajava sozinho e a estrada deserta. Mas, enfim, cheguei são e salvo. Meu amigo só apareceu no outro dia, com a maior cara de ressaca do mundo. Eu dei logo o aviso: ‘festa com você, só cada um no seu carro’. E assim se passaram 20 anos.