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Fundo Phoenix compra estatal de energia de SP por R$ 1 bilhão, na 1ª privatização de Tarcísio

Foto: Marcelo S. Camargo / Governo do Estado de SP

Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Repulicanos), em leilão da Emae 19 de abril de 2024 | 20:30

O Fundo Phoenix saiu vencedor do leilão de privatização da Emae, última empresa de energia controlada pelo Governo de São Paulo. Com uma oferta de R$ 70,65 por ação, o grupo arrematou toda a fatia que o estado possui na companhia, numa transação de mais de R$ 1,04 bilhão.

O certame marca a primeira desestatização da gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Antes mesmo de assumir o cargo, o governador prometeu que venderia a Emae primeiro para depois negociar a Sabesp, considerada a joia da coroa de sua agenda privatista.

Em uma disputa com muitos lances, o resultado superou com folga a arrecadação mínima esperada, de R$ 780 milhões. Além do Fundo Phoenix, outros dois grupos participaram do leilão desta sexta, a francesa EDF e a Matrix Energia.

O Fundo Phoneix é administrado pela gestora de investimentos Trustee DTVM e é ligado ao empresário Nelson Tanure. Tanure, que já teve participação em grandes empresas como a Oi, é hoje o principal acionista da Light. O investidor é conhecido por fazer aportes em companhias que estão com dificuldades e trabalhar na reestruturação.

O preço mínimo por ação foi estabelecido no edital em R$ 52,85. O critério para definir o vencedor era quem oferecesse o maior ágio sobre esse valor.

A disputa foi decidida na etapa viva-voz, quando as proponentes vão aumentando seus lances. Como as ofertas enviadas por escrito tiveram uma diferença inferior a 20%, as empresas puderam fazer novas propostas.

Nas ofertas por escrito, o Fundo Phoenix ofereceu o melhor preço: R$ 58,15 (ágio de 10,03%). Já a EDF propôs pagar R$ 56,30 por ação (ágio de 6,53%). A Matrix Energia deu lance inicial de R$ 52,85 (sem ágio).

Após 26 rodadas, o Fundo Phoenix deu o lance vencedor, com 33,68% de ágio, e levou todas as 14,75 milhões de ações que garantem o controle da companhia.

Na cerimônia de batida de martelo, Tarcísio chamou o resultado de extraordinário e disse que o Fundo Phoenix terá uma responsabilidade grande, porque está assumindo um ativo em ordem, com dinheiro em caixa e perspectiva.

“A grande mensagem que fica num resultado como o de hoje é que tem potencial para ser explorado, tem potencial para crescer, tem potencial para gerar mais energia”, afirmou.

Em referência a seu já tradicional hábito de desferir marteladas violentas no encerramento dos leilões, o governador chamou para a cerimônia Osni Branco, artista e escultor responsável por criar a peça usada na B3. Ao lado dele, pediu autorização para bater com força. Desta vez, não quebrou a peça.

Na avaliação de Rodrigo Pinto de Campos, sócio da área de infraestrutura e regulatório do Vernalha Pereira Advogados e especialista em concessões de transporte, o leilão foi bem-sucedido, com três licitantes diferentes: um fundo de investimentos, uma comercializadora de energia e uma grande empresa multinacional do setor elétrico.

“A Emae é um ativo bastante interessante, porque está na capital e na região metropolitana com sistemas de bombeamento contra enchentes bastante relevantes para a cidade e com a operação de usinas hidrelétricas e de uma termelétrica”, afirma.

Segundo ele, o leilão funciona como um teste para a principal desestatização do governo: a da Sabesp.

“Foi um teste extremamente exitoso, bem-sucedido, porque demonstrou que há interesse do mercado por bons ativos.”

Remanescente da privatização da Eletropaulo, a Emae administra quatro usinas de energia no estado, que somam potência instalada de 960,8 MW (megawatts).

A maior parte dessa capacidade vem do complexo Henry Borden, em Cubatão, com capacidade instalada de 889 MW. A hidrelétrica é hoje o principal ativo da companhia, que também opera os reservatórios Billings, Guarapiranga, Rio das Pedras e Pirapora, bem como barragens, diques e balsas que atravessam esses sistemas.

A Emae também administra o trecho canalizado do rio Pinheiros na capital, inclusive fazendo o controle de cheias do curso d’água.

Com um valor de mercado de cerca de R$ 2 bilhões, a empresa teve lucro líquido de R$ 150,5 milhões em 2023 e receita líquida de R$ 603 milhões.

A privatização da Emae vinha sendo desenhada desde a gestão João Doria (PSDB). O processo foi colocado como prioridade por Tarcísio. No ano passado, o Tribunal de Contas do Estado chegou a suspender a venda da empresa após requerimento do deputado estadual Emídio de Souza (PT), mas o processo foi liberado na sequência.

O leilão desta sexta chegou a ser descrito como “badalado” pelo governador. No entanto, ao longo das últimas semanas, companhias que estavam estudando o projeto foram desistindo.

Uma delas é a Eletrobras, que hoje tem 64,8% das ações preferenciais e 39% do capital total. Outros grupos que estavam interessados, mas abandonaram o leilão foram a Auren (Votorantim), a Âmbar (J&F), a Serena (ex-Omega Energia) e a Energo-pro, empresa Tcheca que não topou o preço mínimo da ação.

CONHEÇA O FUNDO PHOENIX

Com capital 100% brasileiro, o fundo tem Nelson Tanure como investidor de referência. O Banco Master de Investimento possui outras fatias, com possibilidade de abrir cotas para os clientes da instituição.

Segundo Maurício Quadrado, presidente do Banco Master, Tanure já tem atuação no setor de energia com a Light, e a Emae é um ativo que complementa a estratégia de consolidação. “É isso que nos atraiu a entrar no investimento e pagar esse ágio de 33%”, disse.

O executivo destacou que a Emae já é uma empresa muito bem gerida, com caixa disponível e sem dívida. No entanto, argumentou que sempre há possibilidade de melhorar o que já é bem feito quando a iniciativa privada assume o negócio.

Quadrado diz que a ideia é manter os ativos que a Emae possui hoje, explorando todas as possibilidades que a companhia oferece em geração de energia térmica, solar e hídrica. “[Vamos] Manter funcionários, crescer a empresa. O Tanure faz isso, ele compra empresa para consolidar”.

Thiago Bethônico/Victória Batalha/Lucas Leite/Folhapress

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