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Igreja da Ajuda foi roubada outras duas vezes antes de ser arrombada nesta segunda-feira

Nem a importância religiosa da Igreja Nossa Senhora da Ajuda, a primeira catedral do Brasil, foi empecilho para que ao menos duas pessoas invadissem o templo localizado no Centro Histórico de Salvador. A igreja, que já havia sido alvo de ladrões duas vezes na semana passada, foi invadida novamente nas madrugadas de domingo (14) e segunda-feira (15). Apesar de 16 objetos terem sido levados, a maior profanação para a comunidade religiosa foi o roubo de cerca de 20 hóstias consagradas – o corpo de Cristo, para os fiéis. Por conta da invasão, as celebrações da Festa de Santa Rita que aconteceriam foram suspensas e as atividades religiosas serão retomadas após o Ato de Desagravo.

O clima de pesar na Igreja Nossa Senhora da Ajuda, construída em 1549, não seria tão evidente se os ladrões tivessem levado apenas objetos materiais. Prova disso é que na semana passada, dois roubos aconteceram no mesmo local. Na quarta-feira (10), o cadeado do gradil foi levado, e, na quinta-feira (11), foi a vez de um leão de bronze, que ficava em uma das entradas da Igreja. O roubo das hóstias, no entanto, foi o que mais chocou os fiéis. 

O sacrário onde as hóstias consagradas estavam guardas foi violado

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

As gravações das câmeras de segurança da Igreja, as quais o CORREIO teve acesso, mostram que um homem invadiu o local pela primeira vez por volta das 5 horas da manhã de domingo (14). Ele fez um buraco em uma das portas, passou cerca de dez minutos no local e levou objetos de valor. Ao sair, o invasor deixou a porta destrancada, o que facilitou que uma mulher invadisse o local na madrugada seguinte.

A filmagem flagra a sua entrada na igreja pouco antes das 2 horas da manhã e o momento em que ela rouba as hóstias de dentro do sacrário (espécie de armário pequeno). A mulher ainda sobe em um banco e rouba um vaso de metal que estava exposto no altar. Entre os objetos roubados pelos dois estão castiçais, âmbulas e vasos. Além de R$150 em espécie e 30 camisetas estampadas com o Senhor Bom Jesus dos Passos.

Na tarde de segunda-feira, os membros da igreja ainda contabilizavam os estragos da invasão. Os rastros dos assaltantes estavam presentes nos vasos de plantas largados no chão, nos pedaços da porta arrombada e até em comprimidos deixados por eles no templo religioso. Os danos à estrutura poderiam ter sido ainda mais graves porque as velas utilizadas durante a invasão ficaram acesas na madrugada. 

O padre João Batista Deferrari considera um milagre que uma das igrejas mais importantes do Brasil não tenha sido incendiada. A Igreja de Nossa Senhora da Ajuda foi a primeira construída dentro dos muros de Salvador. Feita para servir os jesuítas, funcionou como catedral entre 1552 e 1553, a partir da chegada de Dom Pedro Fernandes Sardinha, o primeiro bispo do país. Na época, ela foi consagrada como Sé Primacial do Brasil, ficando conhecida como Sé de Palha. 

A igreja fica localizada na Rua da Ajuda, no Centro Histórico

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Apesar de não estimar o valor dos objetos roubados, o padre garantiu que eles são de importância “secundária”. Felizmente, imagens religiosas não foram alvo dos ladrões. A Igreja guarda a imagem original de Nossa Senhora da Ajuda, que era transportada por Tomé de Sousa na caravela do governador-geral nas viagens entre Portugal e Brasil.

A Polícia Civil realizou uma perícia na tarde de segunda-feira e a 1º Delegacia Territorial (DT/Barris) investiga o furto. Procurada para comentar os roubos recorrentes, a Secretaria da Segurança Pública informou que reforçou o efetivo do 18° Batalhão, que atua na região do Centro Histórico, com mais 30 agentes, e que adota medidas de ações de inteligência.

Santidade profanada
As hóstias são apenas uma massa formada por trigo e água, até serem consagradas durante a missa e estarem prontas para serem comungadas. A partir de então, elas representam o corpo de Cristo e é justamente por isso que o roubo foi considerado uma profanação.

“O santíssimo foi profanado e isso gera para a igreja um fato muito grave. Tanto é que agora nenhuma atividade religiosa pode acontecer até que seja feito um Ato de Desagravo. É uma missa especial de penitência feita com o bispo, devido à gravidade do ato”, explica o padre João Batista Deferrari, responsável pela Igreja. 

No altar, a imagem doada por Tomé de Sousa

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

A expectativa é que Dom Dorival Barreto, bispo-auxiliar de Salvador, realize a missa na sexta-feira (19), para que na segunda-feiram o dia de Santa Rita de Cássia seja celebrado. Enquanto isso não acontece, as portas principais da Igreja devem ficar fechadas e as missas que ocorreriam em homenagem à santa nos dias 17, 18 e 19 foram canceladas. 

O Desagravo representa a oficialização do retorno da santidade à igreja e funciona como uma espécie de punição. “O Ato de Desagravo é uma forma de punição porque todos são responsáveis pelo acontecimento. Não que sejamos culpados, mas devemos sentir a gravidade do ocorrido, é uma forma de mostrar os efeitos nocivos desse do que aconteceu”, explica o padre João Batista Deferrari. 

Entre os fiéis, a sensação é desamparo até que as atividades possam ser retomadas. “É muito triste não só pelos bens materiais que foram roubados, mas pela agressão ao sacrário, à Jesus Cristo. É preciso reforçar a segurança da igreja para que isso não ocorra novamente”, lamenta Frederico Pena, provedor da Irmandade do Senhor dos Passos. 

Patrimônio
A Igreja de Nossa Senhora da Ajuda faz parte do conjunto urbano do Centro Histórico de Salvador, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Por isso, funcionários do instituto farão visitas ao longo da semana para contabilizar os danos da invasão e auxiliar a Polícia Civil na identificação das peças. O Iphan foi procurado, mas não comentou o assalto. 

Em 1912, a igreja foi um dos marcos arquitetônicos de Salvador destruídos no processo de urbanização do então governador J.J. Seabra, que “abriu” a Avenida Sete de Setembro. Dois anos depois, o templo foi reconstruído no local onde antes ficavam os fundos da antiga igreja. O templo, reinaugurado em 1923, mantém os velhos altares do século XVII e o púlpito original usado pelo Padre Antônio Vieira. 

O historiador Rafael Dantas explica que por ter sido a primeira igreja construída dentro dos muros que cercavam Salvador, ela foi, durante anos, o maior marco do poder do catolicismo na capital do país.

“Esse crime mostra a necessidade de valorização do Centro Histórico e de um incentivo maior ao patrimônio, já que as igrejas ajudam a traduzir as transformações urbanas que aconteceram em Salvador”, defende o historiador.

O que foi roubado na Igreja Nossa Senhora da Ajuda:

  • Âmbulas (2)
  • Castiçais grandes (4)
  • Castiçais pequenos (2)
  • Castiçais transparentes (2)
  • Hóstias sagradas
  • Vasos grandes (3)
  • Vasos pequenos (2)
  • Vaso comprido (1)
  • Camisetas (30)
  • Carregador de máquina de cartão 
  • R$150 em espécie

*Com a orientação de Monique Lôbo.

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