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Jogadores alegam em depoimento não saber que esquema era crime

Dois jogadores investigados na Operação Penalidade Máxima, que apura manipulação de resultados em jogos do futebol brasileiro, alegaram não saber que o esquema é considerado crime. Os zagueiros Victor Ramos e Kevin Lomónaco usaram o desconhecimento como argumento para explicar o envolvimento no escândalo ao Ministério Público de Goiás.

A informação foi divulgada pelo site UOL, que teve acesso aos depoimentos em vídeo dos dois atletas. Com passagem pelo Vitória e hoje na Chapecoense, Victor Ramos disse ao promotor que não sabia que conversar sobre apostas poderia configurar crime. Um dos réus no processo, o jogador possui várias mensagens trocadas com a quadrilha. Na época, ele defendia a Portuguesa-SP.

“Eu não sabia que conversar sobre apostas poderia ser crime. Eu sou muito leigo para isso, sou muito desligado para essas coisas, internet, não sabia que conversar sobre apostas vinha dar o que está dando em minha vida, esse tumulto, essa turbulência. Jamais esperava que isso ia acontecer em minha vida porque estava falando de apostas”, disse.

O depoimento foi dado no dia 25 de abril, em ligação de vídeo com os promotores do caso. Victor Ramos falou por cerca de 20 minutos e negou ter recebido qualquer favorecimento. Ele, por outro lado, admitiu que conversou com os apostadores, após ter sido apresentado por um amigo de infância, Fernando Gama, que também é réu no processo.

Em nota oficial, publicada na semana passada, o zagueiro se defendeu das acusações. A defesa negou a participação do atleta no esquema, e disse que ele não aceitou receber qualquer tipo de vantagem nem provocou infrações. 

O argentino Kevin Lomónaco, do Red Bull Bragantino, seguiu na mesma linha do depoimento de Victor Ramos. O jogador falou que não sabia que era crime aceitar dinheiro para manipular o andamento da partida. Segundo ele, o apostador ficou insistindo para fechar o acordo, e o zagueiro, sem perguntar para colegas, aceitou receber o cartão amarelo na partida contra o América-MG, no Brasileirão do ano passado.

“Eu estava na concentração antes do jogo, e ele insistindo, mandando mensagem, tipo: ‘vamos fechar, hermano, dinheiro’. Eu fiquei falando com ele, aí na concentração, fechamos cartão amarelo. Eu fiz sem conhecimento algum que era um crime ou algo assim. Normal, não perguntei nada para ninguém”, afirmou Lomónaco.

“Eu fiz somente porque não prejudicava a equipe, era algo normal, não pensei que era algum crime. Como falei, não perguntei nada a ninguém, fiz por fazer, no momento, foi um dia, somente”, completou.

O mesmo jogador já havia demonstrado falta de conhecimento durante troca de mensagens com o apostador. Nas conversas obtidas pelo MP-GO, o argentino pareceu não saber que a transação era ilegal e chegou a perguntar a Luis Felipe Rodrigues de Castro, um dos apostadores envolvidos, se “não acontecia nada” e se era “tudo legal”.

Kevin é um dos quatro atletas que fizeram acordo para colaborar com o Ministério Público, para não serem denunciados. Neste grupo, também está o lateral Moraes, então no Juventude. Alvo de busca e apreensão no dia 18 de abril, ele disse que, em campo, não lembrava ter recebido pagamento para ser punido com um cartão amarelo no jogo contra o Palmeiras.

O lateral recebeu R$ 5 mil antes da partida para ser punido pela arbitragem, com a promessa de mais R$ 25 mil depois do jogo. O segundo valor não foi pago.

“Nem lembrava. Na hora que entra em campo, não lembra de nada. Não estava nem lembrando que tinha que tomar cartão. Aí teve a jogada e tomei cartão. Acabou o jogo, ele veio falar comigo, eu não estava nem lembrando. Por não estar nem lembrando disso que não recebi o restante. Aí ficou só com os R$ 10 mil mesmo, não cobrei e não falei mais nada”, disse Moraes. 

Dez dias depois, quando fez acordo com o Ministério Público para colaborar com as investigações, Moraes deu novo depoimento e corrigiu a informação de que recebeu R$ 5 mil, não R$ 10 mil, no jogo diante do Palmeiras. Também confessou ter recebido mais R$ 20 mil por outro cartão amarelo na partida diante do Goiás.

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