InícioNotíciasPolíticaKamala e os guerreiros da alegria (Por Hubert Alquéres)

Kamala e os guerreiros da alegria (Por Hubert Alquéres)

Os ventos sopram favoráveis à candidata democrata, Kamala Haris. A convenção do seu partido acontece embalada por uma onda de otimismo. Sentimento só comparável ao da campanha de 2008 de Barack Obama, quando sua candidatura virou um movimento da sociedade que o levou a Casa Branca, como primeiro presidente negro dos Estados Unidos.

Agora os Estados Unidos podem eleger a primeira mulher presidente. Não é um delírio dos democratas. Suas expectativas estão lastreadas nas últimas pesquisas. O levantamento das intenções de voto realizado pelo Ipsos/Washington Post apontou uma vantagem de quatro pontos para a candidata democrata, no voto nacional. Pela primeira vez sua vantagem aparece acima da margem de erro. Como a eleição americana não é pelo voto direto e o presidente eleito é quem tem mais delegados no colégio eleitoral, importa mesmo é o resultado da disputa nos estados.

As atenções voltam-se para os chamados estados pêndulos, aqueles que ora votam nos democratas, ora nos republicanos. Em 2016 deram a vitória a Donald Trump, em 2020 a Joe Biden. Antes do roque da candidatura democrata, com Kamala substituindo Biden, Trump liderava a intenção de votos nesses estados. A maré virou. Agora Kamala Harris lidera em cinco dos sete estados, ainda que em situação de empate técnico, na média das pesquisas.

Esse é um dado relativo, pois nessa média estão pesquisas de quando Biden ainda disputava a eleição. A última pesquisa Siena/The New York Times já aponta um quadro mais confortável para o Partido Democrata. Nela, Kamala tem 50% das intenções de voto em Michigan, Wisconsin, Pensilvânia e Arizona, enquanto Donald Trump tem 46% nos três primeiros estados e 45% no último. Na Carolina do Norte, onde a última vitória do Democrata se deu em 2008, na eleição de Obama, Kamala também está na frente.

É um cenário completamente diferente de um mês atrás, quando o Republicano realizou sua convenção e Trump desfilou em clima de já ganhou. Mas isso parece ter acontecido há um século. A candidatura republicana foi para o divã. Trump até agora não entendeu por que aquela sua cena, logo após o atentado na Pensilvânia, de punho cerrado, bandeira americana ao fundo, rosto ensanguentado e exclamando “lutem”, não se tornou na imagem definidora das eleições americanas.

Para sua frustração, não aconteceu a migração de votos imaginada pelos republicanos. Trump foi surpreendido pela movimentação de Kamala ao mesmo tempo que manteve inalterada a sua estratégia. Ela era adequada para enfrentar Biden. Mas absolutamente ineficiente para fazer frente a um novo fenômeno: a leveza de uma candidatura com mensagem de esperança, ao qual ele contrapôs o medo. Já vimos esse cenário várias vezes e, na maioria das vezes, a esperança vence o medo.

Até certo ponto, o alto astral da candidatura Kamala lembra a campanha do “No”, no plebiscito chileno, do fim da ditadura de Pinochet. Naquele momento os defensores do “não” deixaram de lado uma campanha carrancuda, para adotar uma estratégia bem humorada, que em vez de ficar discutindo o passado do regime ditatorial, apontava para o futuro.

Essa é a essência da estratégia de Kamala. Não gratuitamente,os integrantes de sua campanha se autoproclamaram de os “guerreiros da alegria”. Já seu adversário, com expressão carrancuda, trava a batalha contra o sorriso de Kamala. Trump é o primeiro candidato da história com o carimbo na testa de ser contra o riso! Sua estratégia de showman, de agressividade, de provocador, de semeador do medo, virou uma velha e desbotada roupa que já não serve mais, porque houve uma mudança no imaginário americano.

Enquanto Trump destila biles xingando sua adversária de “lunática, radical demais e comunista”, Kamala vem com sacadas bem-humoradas como a de caracterizar seus oponentes como “esquisitões”. E transforma a seu favor insinuações do Republicano de que ela é a expressão das “mulheres sem filhos e com gatos”. Em vez de pura e simplesmente atacá-lo como misógino, trata com ironia a frase em brindes da campanha democrata, como em uma caneca sucesso de vendas na convenção partidária.

Havia o temor de Kamala Harris repetir o erro da campanha de Hilary Clinton de 2016 de exacerbar a pauta identitária; bem como o receio de subestimar a “América Profunda”, com seu cinturão de ferrugem e seu mundo rural. Isto não vem acontecendo. Em vez de estimular a divisão, prega a união do país, bandeira que Trump tentou empunhar na convenção de seu partido, mas abandonada logo em seguida, até por seu estilo beligerante.

Campanha bem humorada, sozinha, não ganha eleição. É preciso ter propostas que calem fundo no coração da maioria dos americanos. A candidata demonstra ter consciência disso, ao apontar medidas voltadas para a classe média e para as camadas de menor poder aquisitivo. Os Estados Unidos são um país majoritariamente de classe média, daí ser compreensível a prioridade dada às questões que dizem de perto a maioria dos americanos, como diminuição de impostos para estas camadas, barateamento dos preços dos remédios, financiamento para a aquisição de seu primeiro imóvel.

O sonho de consumo dos democratas é fazer da sua convenção um fenômeno semelhante ao da candidatura de Bill Clinton em 1992. À época, Clinton era desconhecido e estava atrás de George Bush nas pesquisas. Após a convenção democrata, Clinton cresceu 16 pontos quando se tornou conhecido. Dificilmente um salto de tamanha proporção acontecerá agora, em quadro de disputa acirrada e de persistência da polarização.

Normalmente as convenções levam a um crescimento das intenções de voto, que em seguida se dilui. Isso aconteceu na campanha atual, com Donald Trump. Ele cresceu dois pontos nas pesquisas após a convenção de seu partido e em seguida perdeu um ponto.

A conferir o impacto da convenção democrata na candidatura Kamala. Espaço para seu crescimento existe. Apenas 21% dos americanos conhecem suas propostas, enquanto 46% conhecem as de Donald Trump.

A dois meses e meio da eleição não é possível cravar o favoritismo de qualquer candidato, até porque é preciso ver se a inversão das curvas da intenção de votos se confirmará ou se refluirá. Mas é inegável que a campanha de Kamala Haris bagunçou o coreto de Donald Trump, trazendo de volta a alegria como um componente da boa política.

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