InícioEditorialPolítica NacionalMacron diz que seria loucura assinar acordo Mercosul-UE como está

Macron diz que seria loucura assinar acordo Mercosul-UE como está

Após reunião, Lula disse que o presidente francês deve reclamar com os europeus e não com ele sobre o documento; ambos destacaram que as negociações não envolvem as relações bilaterais entre Brasil e França

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da França, Emmanuel Macron, relativizaram nesta 5ª feira (28.mar.2024) o impasse direto entre os 2 países para a conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Ambos disseram que o documento é discutido pelos 2 blocos econômicos e não pelos governos diretamente. Ainda assim, o chefe francês questionou se seriam “todos loucos” por assinar um texto negociado há 20 anos.

“Não é um problema entre Brasil e França. Eu tomei uma posição que não tem nada a ver com a relação bilateral. Uma decisão de princípios e que tem muito a ver com o que o Brasil vai defender tanto no G20 quanto na COP de Belém. Dizemos somos todos loucos, todos nós. Quero recordar aqui que esse texto da União Europeia-Mercosul é de um acordo negociado e preparado 20 anos atrás, estamos só fazendo pequenas mudanças. Somos loucos continuando essa lógica e paralelamente fazendo grandes reuniões do G20 e COP dizendo ‘nossa, o clima, a biodiversidade, vamos fazer isso, vamos fazer aquilo’”, disse Macron em declaração à imprensa.

De acordo com o presidente francês, o atual texto é um “freio” ao que o seu país está fazendo na área ambiental e de produção agrícola para reduzir a emissão de carbono. “Pedimos aos nossos agricultores para que façam esforços enormes e vamos abrir nosso comércio a produtos que não respeitam esses acordos? Somos loucos?”, repetiu.

Questionado sobre ter dito que a posição da França é irrelevante para a conclusão do acordo, Lula disse que o Brasil não o negocia diretamente com o país europeu.

“Não é um acordo bilateral entre Brasil e França. É um acordo comercial entre 2 blocos de países. Obviamente que depois da decisão da União Europeia, se o Macron tiver que brigar com alguém, não é com o Brasil. É a com a União Europeia, não é comigo”, disse.

O chefe do Executivo brasileiro disse ainda considerar “normal” e “democrática” a posição contrária do presidente francês à atual versão do acordo entre os blocos.

A declaração dos presidentes foi feita depois de reunião bilateral no Palácio do Planalto. Veja fotos da visita de Macron a Brasília feitas pelo fotógrafo do Poder360, Sérgio Lima:

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

Emmanuel Macron, presidente da França, sobe a rampa principal do Palácio do Planalto

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

Macron e o premiê francês, Stéphane Séjourné, foram recebidos pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pela primeira-dama Janja e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

O encontro de Lula e Macron em Brasília é o último compromisso do presidente francês no país; chegou na 3ª feira (26.mar) e passou por Pará, Rio de Janeiro e São Paulo

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

Macron foi recebido por Lula com o rito de visita de chefe de Estado –assim como Lula quando foi à França em novembro de 2021

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

Macron em frente aos Dragões da Independência, cuja missão principal é fazer a segurança das instalações da Presidência da República

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

O presidente francês acenou para a população antes de subir a rampa do Planalto

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

Lula aguarda a chegada de Macron

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

Macron e Lula na rampa do Planalto; acima, integrantes do governo fotografam o encontro

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

Stéphane Séjourné, Macron, Lula e Janja posam para fotos

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

Os chefes de Estado realizaram revista às tropas na Praça dos Três Poderes, reunião bilateral, declaração à imprensa e almoço no Itamaraty

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

O roteiro de compromissos de Macron e Lula foi das 11h30 às 16h15

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

Macron e Lula se cumprimentam na rampa do Planalto; os líderes lançaram um programa de € 1 bilhão para a Amazônia com recursos públicos e privados pelos próximos 4 anos

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

À esq., os Dragões da Independência, à dir., Macron e Lula; os presidentes também participaram, no Rio, da inauguração do submarino Tonelero, parte de um programa de desenvolvimento feito por brasileiros e franceses A solenidade em Brasília começou pouco depois de uma hora depois do previsto, às 12h40. O presidente francês caminhou pela Praça dos Três Poderes em revista às tropas brasileiras e encontrou Lula no topo da rampa do Planalto. Depois, seguiram para o parlatório, onde viram a passagem da cavalaria.

Em seguida, tiveram uma reunião bilateral que durou cerca de duas horas. Depois de assinarem atos conjuntos entre os países, Lula condecorou Macron com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Depois, foi a vez do francês condecorar a primeira-dama brasileira, Janja da Silva, nomeando-a oficial da Legião de Honra. Ele justificou que Lula já recebeu a mesma honraria no mais alto grau, o de cavaleiro.

“Eu queria dizer que o presidente Lula já tem o grau mais elevado da legião de ordem e por isso agora eu vou condecorar sua esposa”, afirmou o francês.

Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

Nas imagens, a troca de medalhas entre Lula, Macron e Janja

A condecoração foi instituída em 20 de maio de 1802 por Napoleão Bonaparte. Depois da declaração à imprensa, Lula e Macron seguiram para o Itamaraty. Lá, o petista e Janja oferecem um almoço em homenagem ao presidente francês. O brasileiro pediu desculpas pelo atraso do evento.

“Eu quero começar com um pedido de desculpas a vocês pelo nosso descumprimento dos horários que nós tínhamos aqui. Eu ainda estou vendo vocês sorridentes, mas eu penso que o pessoal que está esperando a gente para almoçar já esquentou a comida umas 4 vezes”, declarou Lula.

Tour pelo Brasil O começo do tour de Macron pelo Brasil foi na capital do Pará, cidade que receberá em 2025 a COP30 –evento sobre mudanças climáticas da ONU (Organização das Nações Unidas). Lula foi até Belém receber o presidente francês em sua 1ª visita oficial ao Brasil.

Os registros do encontro entre os presidentes na 3ª feira (26.mar.2024) se tornaram assunto nas redes sociais. No X (ex-Twitter), as fotos dos 2 de mãos dadas no meio da floresta amazônica foram comparadas a ensaios de casais e a capas de filmes famosos.

Na Ilha do Combú, Lula e Macron visitaram uma fábrica artesanal de chocolate e homenagearam o cacique Raoni Metuktire, líder indígena da etnia kayapó.

Raoni recebeu a maior honraria concedida pela França a seus cidadãos e a estrangeiros que se destacam por suas atividades no cenário global, o grau de cavaleiro, o 1º da Legião de Honra.

A França reconhece Raoni como figura internacional pela causa indígena e ambiental. Ao divulgar mensagens sobre direitos humanos e proteção da floresta, ele criou a Rainforest Association em 1989 e o Instituto Raoni em 2001.

“O presidente Lula e eu fazemos hoje, causa comum, por um dos nossos amigos. E essa terra que pertence a vocês, que é um tesouro de biodiversidade, mas também de povos indígenas que aqui nasceram, cresceram, tiveram sua tradição e eles têm uma arte de viver”, afirmou Macron.

Durante o evento, Lula se confundiu e errou o nome do presidente da França. O petista chamou Macron de Sarkozy –que esteve à frente do Palácio do Eliseu de 2007 a 2012.

Os presentes corrigiram o petista rapidamente e ele reformulou a frase: “Eu e o Macron vamos viajar para o Rio de Janeiro ainda hoje à noite”. Logo depois, Lula passou a fala para a presidente da Funai (Fundação dos Povos Indígenas), Joenia Wapichana. Macron discursou na sequência.

Acordo Mercosul-União Europeia Depois do Rio, Macron seguiu para São Paulo –desta vez, sem Lula. O presidente da França participou nesta 4ª feira (27.mar) do “Fórum Econômico Brasil-França”, realizado na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), na capital paulista.

Lá, ele disse que não defende o acordo entre o Mercosul (Mercado Comum do Sul) e a UE (União Europeia). Classificou o acerto entre os 2 blocos como “péssimo”.

Segundo Macron, o atual acordo está sendo negociado há mais de 20 anos e não foi atualizado, para incluir, por exemplo, temas como o clima. Para ele, “precisa ser renegociado do zero”.

“O Mercosul é um péssimo acordo como ele está sendo negociado agora. Esse acordo foi negociado há 20 anos. Eu não defendo esse acordo. Não é o que queremos”, disse. “Deixemos de lado um acordo de 20 anos atrás e construamos um novo acordo, mais responsável, prevendo questões como o clima e a reciprocidade”, declarou.

Os europeus, especialmente a França, expressam preocupação em relação às práticas ambientais no setor agrícola brasileiro, alegando que prejudicam o meio ambiente em busca de maior produtividade.

Investimento na Amazônia Ainda no Pará, os presidentes lançaram o que Macron chamou de “apelo de Belém”. O programa terá € 1 bilhão para a Amazônia com recursos públicos e privados pelos próximos 4 anos. Os investimentos serão para o lado brasileiro e para o lado guianense.

Segundo a nota conjunta, o programa terá 5 pontos:

diálogo entre as administrações francesa e brasileira sobre os desafios da bioeconomia; parceria técnica e financeira entre bancos públicos brasileiros, incluindo o Basa (Banco da Amazônia), o BNDES e a Agência Francesa de Desenvolvimento, presente no Brasil e na Guiana Francesa; nomeação de coordenadores especiais para as empresas francesas e brasileiras mais inovadoras no campo da bioeconomia; novo acordo científico entre a França e o Brasil, operado pelo Cirad (organização francesa de pesquisa agronômica e cooperação internacional) e pela Embrapa; criação de um hub de pesquisa, investimento e compartilhamento de tecnologias-chave para a bioeconomia. Cooperação militar O 2º destino de Macron em terras brasileiras foi Itaguaí (RJ). Os 2 chefes de Estado participaram pela manhã da 4ª feira (27.mar) da inauguração do submarino Tonelero, parte do Prosub, programa de desenvolvimento de submarino desenvolvido por brasileiros e franceses.

Em seu discurso, Lula disse que se preocupa com a defesa do território brasileiro não porque deseja a guerra, mas porque quer paz.

Para o presidente brasileiro, há uma crescente “animosidade contra o processo democrático” no Brasil e no mundo. “A parceria que a França está construindo conosco é uma parceria que vai permitir que 2 países importantes, cada 1 em 1 continente, se prepare para que a gente possa conviver com essa diversidade sem nos preocupar com qualquer tipo de guerra. Nós somos defensores da paz em todo e em qualquer momento da nossa história”, disse o petista.

O Tonelero é o 3º submarino brasileiro a propulsão convencional e faz parte do Prosub (Programa de Desenvolvimento dos Submarinos), desenvolvido por Brasil e França. A parceria foi firmada em 2008, com orçamento de cerca de R$ 40 bilhões. A previsão inicial era de que o submarino fosse colocado em operação em 2020.

O submergível pode ficar em operação por até 70 dias submerso e tem capacidade de carregar 1.870 toneladas, além de atingir a profundidade de 250 metros.

O ProSub tem como um de seus principais pontos a transferência de tecnologia francesa para a construção de embarcações nacionais, mas o Brasil ainda cobra mais cooperação em relação à tecnologia nuclear.

A primeira-dama do Brasil quebrou uma garrafa de espumante no casco do submarino em cerimônia realizada no Complexo Naval e Industrial de Itaguaí, no Estado do Rio de Janeiro.

Janja foi acompanhada até a embarcação pelo comandante da Marinha, almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen. “Eu te batizo submarino Tonelero. Que Deus abençoe esse submarino e todos os marinheiros que aqui navegarem”, disse a primeira-dama antes de quebrar a garrafa.

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