Em 11 dias Salvador foi palco de três crimes violentos envolvendo armas de fogo. Após os soteropolitanos se chocarem com o caso de uma nutricionista baleada por um assaltante quando chegava para o trabalho, e de uma idosa vítima de um tiroteio entre policiais e homens armados enquanto caminhava, a cidade foi palco de outro crime chocante: uma adolescente de 15 anos morta na frente da mãe e da irmã, em um assalto no Centro da Cidade envolvendo duas mulheres.
Além da violência, o que chama atenção nesses casos é que todos ocorreram ainda nas primeiras horas do dia e com o envolvimento de armas de fogo. Nas duas primeiras ocorrencias os suspeitos foram rapidamente localizados pela Polícia Militar (PM), como destacou o comandante da PM, Coronel Paulo Coutinho ao comentar sobre essa onda de crimes matinais, relembrados após o assassinato da adolescente, ocorrido na terça-feira (02),
“Duas ocorrências que coincidentemente me dá oportunidade de dizer que a Polícia Militar estava presente fazendo a prisão e fazendo o enfrentamento aos criminosos que atacaram aquelas senhoras, infelizmente com efeitos colaterais, que a gente lamenta profundamente, mas que deixamos bem claro: a Polícia Militar é uma instituição que está 24h disponível para fazer frente ao crime e deixar bem claro que aqui na Bahia ele não há de prosperar”, afirmou o comandante em entrevista à TV Bahia.
Além do trabalho ostensivo, o comandante também falou sobre as ações de prevenção da PM, dando como exemplo o programa “Amanhecer Seguro”, ao ser questionado se ostensividade seria suficiente no combate a esses crimes:
“Nós temos um policiamento a partir das 4h em toda capital com o objetivo de fazer frente a todas as modalidades criminosas, mas principalmente assalto a ônibus, que estamos com uma redução de 28,5% neste primeiro semestre. Isso deixa bem claro que a ostensividade está bem alta em nossa capital, foram fatos locais, em momentos diversos, agora, que tem essa semelhança de horário. E nós temos esse policiamento que a gente chama de Amanhecer Seguro, que é uma grande operação com o objetivo de levar essa segurança adicional a nossa sociedade”, detalha.
Mesmo com o trabalho ostensivo e com um índice de latrocínios 55% menor este ano, comparado ao mesmo período do ano passado, quando o estado registrou 20 casos de roubos seguidos de morte frente aos noves contabilizados até junho de 2022, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-Ba), pessoas como a adolescente Cristal Rodrigues Pacheco, continuam sendo vítimas da criminalidade.
Nesse contexto, o especialista em segurança pública, Sandro Cabral, destaca a importância do trabalho ostensivo para dar uma resposta aos criminosos e como um meio de garantir segurança à sociedade, mas aponta também que ações preventivas em conjunto com todos os departamentos de combate a crimes, têm um papel ainda maior na redução dos índices de criminalidade.
“Crimes de grande comoção como esses precisam de respostas firmes para sociedade, primeiro para aplacar a sensação de insegurança e segundo para mandar a mensagem para os criminosos de que os crimes são punidos e que a sociedade não tolera isso, no entanto, na parte que cabe a PM, e aí a gente não pode falar apenas de polícia militar, a gente também precisa falar de Polícia Civil, porque os crimes ocorrem em determinadas áreas, e a medida que vc tem a incidência dos crimes em certas áreas e horários, o ideal é que se trabalhe com ações de inteligência, então, qualquer que seja o programa da PM, um programa efetivo precisa ter coordenação entre diferentes forças policiais”, destaca o especialista.
Ainda de acordo com ele, o trabalho de prevenção precisa envolver o mapeamento de espaços mais propensos a ações criminosas levando em consideração até mesmo fatores como iluminação urbana.
“A prevenção passa por lugares que são mais propensos a execução de crime, se você tem áreas que são mais propensas, você tem ali um padrão para a polícia alocar efetivos próximos àquelas regiões. Há também questões básicas: ‘você sabe que tem áreas que são mais propensas ao crime, mas é uma área escura’, então ações para melhorar a iluminação pública da cidade, instalação de câmeras de identificação e parceria com as comunidades afetadas que moram nas regiões para que denunciem à polícia movimentos suspeitos. As ações de prevenção precisam operar nesse grau”, aponta Cabral.
Criminalidade entre mulheres
A cientista social, pesquisadora da Rede de Observatórios e articuladora da Iniciativa Negra, Luciene Santana, afirma que, apesar de pouco comum, a participação de mulheres nesses crimes violentos tem aumentado no estado, como foi o caso das assaltantes responsaveis pelo assassinato da adolescente de 15 anos.
Para ela, o maior envolvimento das mulheres está atrelado a queda na renda causada pela pandemia da Covid-19, que tem feito essas pessoas optarem pela criminalidade para sobreviver, mesmo que isso não seja uma justificativa para a prática de crimes.
A presença de arma de fogo nesses episódios é outro fator analisado por ela: “As ações de prevenção são importantes para que esses crimes não aconteçam, principalmente casos bárbaros como o desta adolescente. E já que estamos falando de um crime com arma de fogo, é importante ressaltar que o período de facilitação da aquisição desse material aumentam ainda mais essas ocorrências”, aponta a pesquisadora.
A reportagem solicitou a Secretária de Segurança Pública (SSP-Ba) o número de mulheres envolvidas em crimes de latrocínio e está aguardando a informação.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo