Após apresentar diferentes versões acerca do suposto plano para um golpe e mudança do resultado das eleições, Marcos do Val (Podemos-ES) teve reunião, nesta sexta-feira (3/2), com o procurador-geral da República Augusto Aras. Nesta semana, o senador apontou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria esquematizado uma tentativa de prender o ministro do STF Alexandre de Moraes, que preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e anular a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, mas recuou, apontando culpa apenas ao ex-deputado Daniel Silveira (PRTB-RJ).
De acordo com a própria PGR, também participaram da reunião a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, e o coordenador do Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos, Carlos Frederico Santos. O encontro aconteceu após solicitação do próprio Marcos do Val.
“A Procuradoria-Geral da República aguarda que seja concedida vista do inquérito instaurado nesta sexta-feira pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, para apurar as notícias objeto das declarações do parlamentar. A manifestação da PGR será feita no momento oportuno e seguindo os critérios legais e prazos processuais”, diz a instituição, em nota.
Procurador-geral da República, Augusto ArasNesta semana, noticiou-se que Marcos do Val deu diferentes versões sobre uma reunião ocorrida com Daniel Silveira e Jair Bolsonaro, no dia 7 de dezembro de 2022. Há inconsistências sobre o local do encontro, mas, principalmente, sobre quem teria solicitado sua participação na articulação para gravar clandestinamente Alexandre de Moraes.
As contradições de Marcos do ValEm entrevista à revista Veja, concedida antes da posse da nova legislatura do Senado e Câmara dos Deputados, o senador afirmou ter ouvido diretamente do então presidente detalhes do plano para gravar Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Numa segunda versão, o parlamentar afirma que Bolsonaro teria ficado calado e que coube a Silveira repassar os detalhes o esquema.
Como mostrou um áudio publicado pela revista, Marcos do Val é perguntado se o próprio Bolsonaro pediu para que a gravação ilegal fosse feita.
“Disse, sim. Que o GSI ia me dar o equipamento para poder montar para gravar. Aí eu falei assim, quando eu falei que ‘mas não vai ser aceito’. ‘Não, o GSI já tá avisado’. Quer dizer, já tinha validado a fala comigo. ‘Eles vão te equipar, botar o equipamento de escuta, de gravação e a sua missão é marcar com o Alexandre e conduzir o assunto até a hora que ele falar que ele, que ele avançou, extrapolou a Constituição, alguma coisa nesse sentido.’ Aí ele falou ‘ó, eu derrubo, eu anulo a eleição, o Lula não toma posse, eu continuo na Presidência e prendo o Alexandre de Moraes por conta da fala dele, que ele teria’”, explicou na gravação.
Em live transmitida na madrugada de quinta, Marcos do Val revelou o caso. Na ocasião, ele disse ter ocorrido uma “tentativa de Bolsonaro” de “coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto a ele”.
Veja a cronologia da contradição:
Entrevista à revista Veja (antes da posse de deputados e senadores eleitos, em 1°/2): Marcos do Val afirma que Bolsonaro teria participação direta no plano para gravar Alexandre de Moraes;Live realizada na madrugada de quinta-feira (2/2), após a posse de parlamentares: “Eu ficava p*to quando me chamavam de bolsonarista. Vocês me esperem, que vou soltar uma bomba. Sexta-feira vai sair na [revista] Veja a tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto a ele. Só para vocês terem ideia. E é lógico que eu denunciei”;Entrevista coletiva na manhã de quinta-feira (2/2): Marcos do Val entra em contradição e diz que o ex-presidente teria ficado calado durante toda a reunião. Nesta versão, o parlamentar responsabilizou Silveira pelo plano, e ainda garantiu que denunciou tudo ao ministro Alexandre de Moraes;Declaração após depoimento à PF, na noite de quinta-feira (2/2): Do Val mantém a versão anterior de que Bolsonaro ficou calado durante encontro em que Silveira teria detalhado plano para gravar Moraes.