A Festa dos Santos Reis chegou ao terceiro dia nesta quinta-feira (5) e foi celebrada com uma missa e o clássico desfile do Terno Anunciação, num estilo de bloco de carnaval, com muita música e alegria durante a caminhada pelo Largo da Lapinha, em Salvador. O ponto alto do evento acontece na sexta-feira (6), quando acontecerá uma alvorada, às 6h.
A missa desta quinta, celebrada na Paróquia Nossa Senhora da Conceição (Lapinha), começou igual o desfile, com música. As canções anunciavam o nascimento do menino Jesus. Todos cantavam com entusiasmo: “Chegou, chegou, chegou, chegou a anunciação, cantando com alegria, chamando sua atenção”, para falar da chegada de Cristo. Difícil mesmo foi ter saído de lá um fiel sem a cantoria na ponta da língua.
A Solenidade da Epifania do Senhor, também conhecida como “Dia de Reis” ou “Dia dos Santos Reis”, comemorado especificamente no dia 6 de janeiro, tem origem na tradição católica e lembra o dia que Jesus Cristo, recém-nascido, recebeu a visita de três Reis Magos: Belchior, Gaspar e Baltazar, vindos do Oriente, guiados por uma estrela. Os três Reis Magos levaram a Jesus ouro, incenso e mirra, que representam as três dimensões de Cristo: a realeza, a divindade e a humanidade (o óleo da mirra servia para embalsamar os mortos). A ideia era levar para o menino tudo aquilo que a humanidade tinha de mais precioso.
Neste ano, a festa que relembra o dia que Jesus Cristo, recém-nascido, recebeu a visita de três Reis Magos, tem o tema “A Virgem concebeu do Espírito Santo, e viemos adorar”. “É uma comemoração extremamente importante, porque Deus era invisível e ficou visível na pessoa de Jesus Cristo, caminho, verdade e vida, foi quando ele se manifestou para toda a sociedade. É essa festa que nós celebramos, a festa de um Deus que se faz humano igual a você e igual a mim”, ressaltou o Padre Romildo Pires, que presidiu a missa desta quinta.
Quem estava representando o Rei Baltazar no desfile foi Alexandre Silva, de 47 anos, que carregava o ouro. Segundo ele, essa é uma festa que abre o caminho para Jesus, para anunciar a chegada dele ao mundo.
Alexandre contou que participa da celebração desde 2008 e ressaltou a importância dos festejos. “É uma festa que tem tudo a ver conosco, baianos, com o sagrado e profano, uma mistura sadia. É importante que a gente não deixe que a cultura popular da nossa Bahia se perca, para que as gerações futuras possam participar e aprender sobre isso”, disse.
Para quem não está acostumado com a celebração, a primeira coisa que se nota de diferente é a presença de pessoas muito arrumadas, com vestidos chamativos, longos e cobertos de “ouro”. A professora Yara Maria Borges Pinto, 60, conta que isso acontece porque essa não é uma celebração qualquer, é a festa dos reis. Ela entrou na igreja dançante, carregando a anunciação.
“Eu sou uma das representantes dos Ternos dos Reis, carrego o nome da anunciação do nascimento do menino Jesus. Todos nós estamos radiantes de alegria, é uma celebração grande, a chegada de Jesus. Participo há mais de 35 anos”, relatou a professora.
O padre Jorge Brito explicou que os católicos estão caminhando para o término do ciclo do Natal, que se estende até a data do batismo de Jesus, que aqui em Salvador culmina com a Festa do Senhor do Bonfim. Segundo ele, o evento de hoje, chamado de Festa da Epifania do Senhor, é o dia que o menino é apresentado para o mundo.
“Todo rei quando nasce é apresentado para o mundo. Hoje também teremos a apresentação do tradicional terno dos reis, tradição popular, que é quando várias paróquias tem apresentações com representantes dos ternos dos reis”, destacou. “Festejar todos os anos é continuar a fazer o anúncio, o senhor nasceu e nasceu para todos”, acrescentou o padre.
A advogada Rosa Pinho, 50, estava animada com os festejos. Ela afirmou que já tinha participado uma vez, mas que não conseguiu entrar na igreja, porque estava lotada. Dessa vez, ela chegou cedo para garantir um lugar. “Quando participei da primeira vez eu fiquei vendo as manifestações dos ternos dos reis, que vêm de várias cidades da Bahia, e achei lindíssima a festa. Há mais ou menos um ano que eu tive um sonho com os três Reis Magos. Isso fortaleceu minha vontade de retornar e participar de toda a celebração”, comentou.
Dia 6
A festa terá o ponto alto no dia 6 de janeiro, quando a programação terá início com a alvorada, às 6h; e seguirá com a Missa Solene, presidida pelo pároco, padre Ronaldo Pires, às 8h; adoração ao Santíssimo Sacramento, às 15h; e a última Santa Missa deste dia, presidida pelo padre Valson Sandes, às 18h.
Entenda mais sobre a história
A fisioterapeuta e coordenadora da Pastoral da da Criança da Paróquia Nossa Senhora da Conceição detalhou a história dos Reis Magos. A Epifania (palavra grega que significa manifestação) do Senhor é a festa que comemora o surgimento de Jesus Cristo como Messias, o filho de Deus e salvador do mundo. Enquanto a festa dos Reis Magos é um entendimento religioso do conceito de epifania, traduzido e celebrado no contexto popular. A Epifania do Senhor é o deslocamento desses reis de várias partes do mundo, mas que representam todas as autoridades, e que se curvam a grande autoridade do menino Jesus.
“A festa da Epifania é esse anúncio do menino que nasce para todos, não só para o povo judeu, mas para redimir, salvar e abrir de volta o paraíso para a humanidade. E ele é reconhecido por todo o povo na figura dos pastores, ciganos, daqueles mais simples, mais humildes, que eram excluídos da sociedade, e também pelos mais poderosos da época, que eram os Reis Magos”, contou Márcia.
No Largo da Lapinha, em frente à paróquia, foi montado um monumento dos Reis Magos, com uma estrela no topo. Infelizmente, por conta do orçamento, não foi possível iluminar a estrutura. “A gente queria colocar as luzes, mostrar que Jesus está com a gente todo o ano, mas não conseguimos. A estrela no topo aponta para a igreja, para dizer que foi aqui que Cristo nasceu”, explicou a fisioterapeuta.
Quando apresentado ao mundo, a intenção dos evangelistas ao mostrar os magos vindos do Oriente foi ensinar que o Cristo veio não apenas para o povo de Israel, mas para todos os povos e nações do mundo. A festa popular – também conhecida como Folia de Reis – foi trazida ao Brasil pelos colonizadores portugueses e até os dias atuais é tradição em regiões como o Nordeste, São Paulo e Minas Gerais.