InícioEditorialMulheres estudam e trabalham mais, mas recebem 21% a menos que homens

Mulheres estudam e trabalham mais, mas recebem 21% a menos que homens

As mulheres no Brasil dedicam quase o dobro do tempo em relação aos homens com afazeres domésticos e cuidados com pessoas. É o que aponta a terceira edição do levantamento “Estatísticas de Gênero: Indicadores sociais das mulheres no Brasil”, divulgado nesta sexta-feira, 8, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo a pesquisa, em média, as mulheres passam 21,3 horas por semana nessas atividades, enquanto os homens dedicam apenas 11,7 horas. O estudo revela ainda as diferenças regionais, com a maior disparidade de tempo entre os gêneros sendo encontrada na na região Nordeste, onde as mulheres gastam em média 23,5 horas semanais, enquanto os homens dedicam 11,8 horas. Já no Centro-Oeste, os índices são os mais baixos, com as mulheres dedicando em média 18,9 horas por semana e os homens 10,4 horas. Além disso, o recorte por cor ou raça também possibilita verificar essa diferença entre mulheres. As mulheres pretas ou pardas gastavam 1,6 hora a mais por semana nessas tarefas do que as brancas.

Segundo o estudo, a dedicação maior das mulheres a atividades domésticas acaba limitando a participação feminina no mercado de trabalho. A pesquisa conclui que, ainda que representem mais da metade das pessoas em idade para trabalhar, a taxa de participação das mulheres na força de trabalho foi de 53,3%, enquanto a dos homens era de 73,2%, o que representa uma diferença de 19,9 pontos percentuais (p.p.). “Há uma relação dessa diferença com o fato de as mulheres se dedicarem mais às tarefas de cuidados e afazeres domésticos. Isso impede que elas participem mais do mercado de trabalho”, explica André Simões, analista do estudo.

Além disso, o estudo mostrou que as mulheres têm uma carga horária semanal maior do que os homens quando conciliam os afazeres domésticos com a jornada de trabalho, com uma média nacional de 54,4 horas para as mulheres e 52,1 horas para os homens. No Sudeste, os indicadores são os mais altos, com as mulheres trabalhando em média 55,3 horas por semana e os homens 53,3 horas. Já no Nordeste, a maior desigualdade foi observada, com as mulheres tendo uma média de 54,1 horas semanais e os homens 49,9 horas, uma diferença de 4,2 horas. Quanto aos rendimentos delas, em média, foi o equivalente a 78,9% do recebido por homens.

Mulheres têm maior frequência escolar e nível de escolaridade que homens

Dados do IBGE desta sexta-feira apontam que as mulheres têm, em média, maior maior nível de escolaridade que os homens. Em 2022, 35,5% dos homens com 25 anos ou mais não tinham instrução ou não tinham concluído o nível fundamental. Entre as mulheres da mesma faixa etária, essa proporção era de 32,7%. Considerando o recorte racional, a proporção de mulheres brancas que tinham completado o nível superior (29,0%) era o dobro do observado para as pretas ou pardas (14,7%). Os homens pretos ou pardos tinham o menor percentual entre os grupos (10,3%), menos da metade do registrado pelos brancos (24,9%). “Observamos que a desigualdade educacional entre homens e mulheres não é tão grande quanto a desigualdade entre brancos e pretos ou pardos”, diz a analista Betina Fresneda.

Mulheres seguem recebendo menos que os homens

Apesar de terem maior escolaridade que os homens, o rendimento das mulheres segue inferior. Em 2022, o rendimento delas foi equivalente a 78,9% do recebido por eles. A maior diferença estava no grupo de profissionais das ciências e intelectuais, nos quais as mulheres receberam 63,5% da média dos homens. No grupo de diretores e gerentes, que apresenta os maiores rendimentos médios do país, elas receberam 73,9% do recebido pelos homens. Já entre os membros das Forças Armadas, policiais e bombeiros, elas recebiam, em média, mais do que eles (109,0%). Em 2022, mulheres em cargo de gerência tiveram rendimento médio de R$ 6.600, 21,2% abaixo do que os homens ganharam (R$ 8.378).

Ao mesmo tempo, o estudo do IBGE aponta que a representatividade feminina cresceu, mas o Brasil continua atrás da maioria dos países latino-americanos. Como exemplo, a pesquisa cita que, quando analisada a situação das Câmaras de Vereadores, em 2023, apenas 16,1% das cadeiras eram ocupadas por mulheres. A representatividade era menor no Sudeste (14,2% de vereadoras) e maior no Nordeste (16,9%). Já em relação ao cargo máximo do Poder Executivo local, as mulheres ocupavam 12,1% das prefeituras, em 2020, data da última eleição. A maioria (66,9%) era branca.

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