Em vídeo que circula pelas redes sociais, um homem identificado como líder do movimento que obstrui vias em Rio do Sul, Santa Catarina, defende que o Exército entre em campo para “botar ordem” no país.
A fala começou a circular logo após o presidente Jair Bolsonaro (PL) pedir que seus apoiadores desobstruam as rodovias do país. Ao menos 25 unidades da Federação registraram protestos com pedidos de “intervenção federal”. Desde a noite de domingo (30/10), bolsonaristas têm bloqueado várias rodovias brasileiras em protesto ao resultado das eleições presidenciais, que tiveram como vitorioso o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
“Temos que ter noção de uma coisa: nós não temos mais presidente. Não queremos mais o Jair Messias Bolsonaro como presidente. Queremos, sim, uma intervenção militar. Queremos o Exército para vir botar (sic) a ordem em nosso país”, diz o homem.
“O pessoal que está para assumir está fugindo das quatro linhas da Constituição faz muito tempo. Não vamos aceitar. Nós queremos o Exército brasileiro tomando a frente e queremos eles de volta no poder, porque não queremos corruptos, ladrões”, prossegue.
“Nós queremos o Exército, não queremos mais o Bolsonaro. Nós queremos o Exército brasileiro nas ruas”, concluiu o homem, que é aplaudido pelo público presente.
Veja:
Líder do movimento em Rio do Sul, Santa Catarina, diz que eles não querem mais Bolsonaro, querem o exército que vergonha disso tudo! pic.twitter.com/7LBEvUjx7y
— Greici Siezemel (@greicisiezemel) November 2, 2022
Em um vídeo publicado nas redes sociais na noite de quarta-feira (2/11), o atual titular do Palácio do Planalto disse que manifestações e protestos são bem-vindos, mas fez um apelo para que os bloqueios tenham um fim. Segundo ele, esses atos não são legítimos e prejudicam a economia brasileira.
“Eu quero fazer um apelo a você. Desobstrua as rodovias. Isso daí não faz parte, no meu entender, dessas manifestações legítimas. Não vamos perder, nós aqui, essa nossa legitimidade”, afirmou. “O apelo que eu faço a você: desobstrua as rodovias, proteste de outra forma, em outros locais, que isso é muito bem-vindo, faz parte da nossa democracia.”
Descolamento Os manifestantes tentam se descolar de pedidos relacionados à intervenção militar e até mesmo do presidente Bolsonaro. A reportagem observou as diretrizes ao longo do protesto com mais de mil pessoas em frente ao Quartel General do Exército, no Setor Militar Urbano, em Brasília, na quarta-feira.
O Metrópoles presenciou organizadores do ato pedindo aos manifestantes que não usassem as faixas com pedido de intervenção militar e, ainda, que trocassem as blusas com o nome do atual presidente — ou colocassem ao contrário.
“Sem faixas que digam intervenção militar, nada de golpe, nada de regime. Nós estamos aqui fazendo uma manifestação pacífica”, explicaram aos populares.
“Estamos aqui para fazer com que o Exército, as Forças Armadas cumpram seu papel constitucional, segundo juramento que fizeram à bandeira durante a incorporação, que é defender o povo brasileiro e a soberania do Brasil contra qualquer ameaça neste momento. O povo brasileiro está sendo ameaçado pelo comunismo do PT”, completaram.
O papel constitucional ao qual se referem diz respeito ao artigo 142 da Constituição de 1988, que disciplina a função das Forças Amadas no país.
A declaração tem sido usada por brasileiros contrários ao presidente eleito para justificar uma espécie de autorização, ou legitimação constitucional, em que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica atuem como um “poder moderador”, caso sejam convocados para uma “intervenção militar” e para “manter a ordem”. Juristas e ministros, no entanto, condenam tal interpretação.
Saiba o que é o artigo 142, e por que ele não autoriza uma intervenção militar.