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Novo governo, velhos erros

A queda do ditador Bashar al-Assad e o fim da ditadura familiar na Síria após 53 anos fez com que muitas dúvidas surgissem em relação a nova administração do país. A partilha do poder aconteceu de forma pacífica até o presente momento, mas sem o estabelecimento claro de qual modelo de república deve ser seguido em uma região cheia de ditaduras teocráticas e monarquias absolutas. Um dos maiores vencedores nessa disputa política, foi o grupo terrorista HTS (Hayat Tahrir al-Sham), filho da Al-Qaeda e historicamente ligado ao fundamentalismo islâmico.  O líder do grupo, o saudita Ahmed al-Sharaa, diz que os tempos de radicalismo e de jihad ficaram para trás e tenta dar um ar mais moderado ao grupo e a sua própria figura em entrevistas concedidas a veículos internacionais e imprensa.

Al-Sharaa, conhecido anteriormente como Abu Mohammad al-Julani, ainda é considerado como um terrorista por diversas nações e mesmo pregando moderação, sua conduta ainda é vista como duvidosa por muitos analistas.
O currículo escolar na Síria já começou a ser alterado, apenas algumas semanas depois da queda do regime Assad. O governo transicional com seu ministério da educação, divulgou algumas de suas diretrizes deixando claro o viés fundamentalista do que será ensinado no país. O slogan “defendendo a nação”, já foi substituído por “defendendo Alá”, além de mudanças propostas nas matérias lecionadas nas escolas.

Muitos episódios históricos sobre o Império Romano, além da importante era cristã na Síria, antes da invasão islâmica do Levante, serão removidos, ou reduzidos em sua importância, basicamente apagando todos os povos e religiões existentes no território da atual Síria, antes da chegada do Islã.

Além disso, uma espécie de lista de mandamentos foi publicada na página oficial do ministério no Facebook, substituindo o “caminho do bem” pelo “caminho islâmico”, e alterando a frase “aqueles que estão condenados e se desviaram do caminho” simplesmente por “judeus e cristãos”, uma visão extremamente radical de versos do Alcorão e que incentivam a divisão sectária em um país com minorias religiosas relevantes.

Além das modificações de caráter religioso, menções aos anos da ditadura Assad também foram diminuídas ou removidas, exaltando o novo governo e praticamente apagando cinco décadas da história síria dos livros de escola. A preocupação e revolta de minorias cristãs no país, cerca de 10% da população, resultaram em uma declaração rápida do atual governo. O ministro da educação, Nazir al-Qadri, argumenta que, por enquanto, são apenas propostas e até avaliação posterior, o currículo escolar permanece inalterado.

Durante os anos de Assad, as violações dos direitos-humanos da população foram gritantes no aspecto político, mas nas questões religiosas, muitos consideram que os diferentes segmentos religiosos não tiveram sua fé e suas práticas afetadas ou perseguidas explicitamente pelo governo. Isso nos mostra que apesar da mudança necessária na Síria, o novo governo pode ser ainda mais tirânico que o anterior, caso as tendências do momento sejam confirmadas.
Infelizmente, a história parece se repetir, onde uma ditadura árabe secular, dará lugar para uma ditadura árabe fundamentalista, sem melhora efetiva para um povo sofrido.

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