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O novembro passado

Foi em um novembro como esse que saí para comprar um bolo de aniversário para minha mãe. Ela faria 88 anos. Minha irmã viria com a família inteira mais tarde e eu, mergulhada em trabalho, precisei correr no último minuto para encontrar a padaria do bairro ainda aberta. Sem pensar muito, e quase sem fôlego, montei o que seria nossa última mesa de festa.

As crianças chegaram, os sobrinhos-netos. Fizemos algumas fotos com a aniversariante. Eu estava exausta e triste, mas pareço feliz nas imagens daquela noite. Registros sorridentes de uma personagem que sinto que não existe mais. Como se houvesse naqueles retratos uma outra pessoa. Qual a expressão no rosto de quem contempla uma tempestade?

Dizem que os cães conseguem farejar um temporal bem antes que ele chegue. A natureza se esconde em reverência diante dos ventos fortes, até as árvores mais altas encolhem as suas folhas, os bichos pequenos buscam suas tocas, riachos e mares tremem. Nas cidades, insetos invadem as salas dos apartamentos e giram zonzos em torno das lâmpadas. Tudo se espanta.

Lembro de uma manhã aparentemente ensolarada em que eu caminhava dentro do condomínio. De repente, observei uma chuva densa vindo em minha direção. Ainda estava distante, mas a coluna de água, erguida até o alto como um gigante, avançava decidida. Podia escutar até os pingos, como se fossem passos, tocando a terra. Estanquei, esperei que se aproximasse.

Então o céu inteiro pareceu desabar, embaralhando horizontes, espargindo petricor. Senti na pele, enquanto a chuva explodia sobre mim, inteira e forte, que nada nunca estaria totalmente sob controle. Nenhuma fuga extraordinária me faria ir muito longe. Não havia abrigo seguro o bastante. Mesmo as pequenas alegrias que, no entanto, criavam uma tensão insuportável.

É a partir de uma tensão insuportável que também se formam as nuvens mais carregadas, dessas que forjam no firmamento uns desenhos improváveis de anjos e ursos, de pássaros e monstros, e até mesmo do elefante de Drummond, “massa imponente e frágil”. Olho para o céu azul e revisito a cada ano a mesma dor, enquanto a vida reinventa mais um novembro.

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