A realidade é que Bolsonaro tem hoje palanques mais fracos para se reeleger presidente do que teve há 4 anos para se eleger. Antes, ele parecia um aventureiro, e não deixava de ser, que escolhera ser candidato à sucessão de Michel Temer só para ajudar a carreira política dos seus filhos Zero, Flávio, Carlos e Eduardo.
Agora, ele é o presidente da República que governou o país nos últimos 3 anos e sete meses. Deveria ter muito o que mostrar, mas não tem. Teve tempo suficiente para construir seu próprio partido, mas não construiu. Vê-se às portas das eleições tomado pelo medo de ser derrotado e mais tarde preso. Daí seu desespero.
No maior colégio eleitoral, o estado de São Paulo, o candidato que ele indicou ao governo, Tarcísio de Freitas, ex-ministro da Infraestrutura, nem de lá é, sequer morou por lá, e enfrenta a má vontade dos bolsonaristas não por causa disso, mas por tentar manter uma distância prudente do seu patrocinador político.
Não é ingratidão de Tarcísio, é puro cálculo com base na análise de pesquisas de intenção de voto. Bancar o clone de Bolsonaro não seria o melhor caminho para ele. Bolsonaro já não agrada aos paulistas pobres e ricos como agradou em 2018. De resto, Tarcísio é de direita, mas não de extrema direita como Bolsonaro.
No debate do último domingo na BAND, Tarcísio elogiou o governo federal, exaltou Deus e a família como faz Bolsonaro e não escondeu sua filiação a ele. Os bolsonaristas de raiz, porém, preferem lembrar declarações dele que os irritaram. Em junho, Tarcísio disse que seu perfil era diferente do perfil de Bolsonaro.
Disse que não se curvou “à postura ideológica” na condução do Ministério da Infraestrutura e que divergiu da posição antivacina de Bolsonaro no combate à pandemia. Sobre as eleições de outubro, disse que elas serão travadas pelos “dois maiores líderes políticos da história do país”, que têm conexão direta com o povo.
Bolsonaro e seus devotos detestaram o que ouviram. E detestaram a aliança firmada por Tarcísio com Gilberto Kassab que deu ao PSD o lugar de vice na chapa. Ex-ministro das Cidades do governo Dilma, Kassab bate em Bolsonaro e afirma que apoiará Lula em um eventual segundo turno. Talvez no primeiro – quem sabe?
No segundo maior colégio eleitoral do país, o Rio de Janeiro, o governador Cláudio de Castro, embora do mesmo partido de Bolsonaro, o PL, mantém-se distante dele e próximo do deputado estadual André Ceciliano, candidato do PT ao Senado. Castro almeja em silêncio ser votado por bolsonaristas e lulistas.
O mesmo enredo se repete em Minas Gerais, o terceiro maior colégio eleitoral, e na Bahia, o quarto. Neles, a companhia de Bolsonaro foi ostensivamente rejeitada pelos dois candidatos com mais chances de se eleger: Romeu Zema (NOVO), governador de Minas, e ACM Neto (União Brasil), ex-prefeito de Salvador.
Desde o fim da ditadura militar, todos os presidentes eleitos e reeleitos venceram em Minas. O estado, segundo as pesquisas, é o melhor retrato do Brasil. Em 2014, Aécio Neves (PSDB), candidato a presidente, derrotou Dilma em São Paulo por ampla margem de votos, mas em Minas, que governou duas vezes, perdeu.
Em Minas, no momento, Lula vence com folga Bolsonaro. Na Bahia, também. No Rio e em São Paulo, Bolsonaro cresce, mas menos do que desejaria e precisa para se reeleger.
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